O TEMPO PASCAL
Iniciamos na Quarta-feira de Cinzas, a grande celebração anual da Páscoa, num único Tempo Pascal. Esta grande celebração pascal tem a Quaresma como primeira parte. Não se trata de primeiro celebrar a Cruz e depois a Ressurreição. Apesar de que na prática das celebrações esse processo ocorra, não devemos separar uma coisa da outra. Não podemos separar a cruz da ressurreição. Quando Jesus aparece após a ressurreição, São João afirma que Ele mostra aos discípulos as mãos e o lado. Isto significa que o Ressuscitado é o Crucificado e o Crucificado é o Ressuscitado, isto é, era a mesma pessoa (Jo 20,20; 25-27). No Evangelho de São Lucas Jesus aparece após a ressurreição e mostra aos seus discípulos as mãos e os pés e os introduz na plenitude da mensagem da Páscoa. Tanto em São João como em São Lucas, trata-se das chagas da crucificação que o Cristo ressuscitado mostra a eles.
Fazemos memória da Cruz e da Paixão do Senhor, em cada celebração, o ano todo, seja na festa de Natal, seja na Epifania, seja em Pentecostes. Então, na Quaresma acentuamos da Páscoa, o aspecto mais de “saída da escravidão”, a libertação de tudo o que aniquila a vida humana; e a partir da festa da Ressurreição até Pentecostes, damos graças e festejamos as coisas novas que o Senhor já fez em nós com a força da Ressurreição. Assim continuamos a celebrar a libertação, mas agora olhando não só de que somos libertados, mas “para que somos libertados”, isto é, agora somos libertadores.
A formação da Qüinquagésima Pascal, isto é, cinqüenta dias do chamado Tempo Pascal, vem de muito tempo quando foi instituída a liturgia da Páscoa. Os padres a apresentam como um unicum, que significa uma única celebração que continua durante cinqüenta dias, pois todo dia é festivo. Ao passo que no judaísmo a celebração da festa de Pentecostes, festa da colheita e posteriormente da Aliança do Sinai, é celebrada por si mesma cinqüenta dias após a celebração da Páscoa, no Cristianismo são celebrados os cinqüenta dias da única festa pascal. No livro Atos dos Apóstolos 2,1, o texto grego escreve pentekoste no singular; o texto latino, ao contrário, e provavelmente sob influencia do costume introduzido no século IV, escreve no plural: com complemento dias de Pentecostes. Esta Qüinquagésima começa com o dia da ressurreição do Senhor no dia de Páscoa e se desenvolve em oito domingos. Talvez nesse número “oito” deve-se ler a vontade de exprimir o último dia.
Com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, procura-se fazer com que os cristãos descubram novamente unidade da Qüinquagésima Pascal.
Já o título: Domingo de Páscoa, no novo Missal Romano, é significativo. O missal de Pio V, por sua vez, trazia como título: Domingo da Ressurreição. Com razão o missal preferiu especificar assim: Domingo de Páscoa na ressurreição do Senhor. Assim se afirma que o Domingo de Páscoa não é Domingo da ressurreição, mas domingo na ressurreição do Senhor. De maneira semelhante, os domingos sucessivos não trazem mais, como no missal anterior, o título: Segundo domingo depois da Páscoa, etc, mas destaca a unidade da Qüinquagésima apresentando-se a cada vez como Segundo domingo da Páscoa, Terceiro domingo da Páscoa, etc.
O Tempo Pascal é comemorado durante cinqüenta dias, entre os domingos de Páscoa e de Pentecostes. É um período que deve ser celebrado com alegria, como se fosse um só dia de festa, ou melhor, “como um grande domingo”, como símbolo da felicidade eterna no dizer de Santo Atanásio (NALC 22).
Os domingos da Páscoa estão perpassados pelos mistérios da presença do Senhor ressuscitado na Comunidade cristã, pela presença misteriosa no serviço e na caridade.
1- OITAVA DA PÁSCOA
A oitava da Páscoa é formada pelos oito primeiros dias do Tempo Pascal, com missa própria, o canto do glória, com textos bíblicos que nos levam a viver o mistério da presença do Cristo ressuscitado em nossa vida, a partir dos relatos da experiência das primeiras comunidades cristãs. As leituras litúrgicas da Oitava da Páscoa apresentam uma grande unidade. Os evangelhos relatam as primeiras aparições do Cristo Ressuscitado e as leituras relatam as primeiras pregações dos apóstolos.
A catequese primitiva tem sua fonte nas instruções do Ressuscitado a seus apóstolos em dois níveis: o fato e a teologia. As cinco primeiras leituras desta semana fornecem um resumo clássico geral dessa catequese na qual se inspira a oração retomada na sexta leitura.
Esta catequese se baseia nos acontecimentos da morte e da ressurreição, a apresenta-os num contexto de entronização do Senhor sobre o tempo e sobre o universo, de libertação da humanidade do pecado, de apelo ao reino e de conversão do coração.
Oitava da Páscoa
Segunda-feira
1ª leitura - Atos 2,14.22-32. Somos testemunhas da ressurreição.
Salmo Responsorial – 15/16. Eis porque meu coração está em festa.
Evangelho - Mateus 28,8-15. A aparição às mulheres.
Terça-feira
1ª leitura - Atos 2, 36-41. Convertei-vos e cada um de vós seja batizado.
Salmo responsorial - 32/33. Deus ama o direito e a justiça.
Evangelho - João 20,11-18. Mulher porque choras?
Quarta-feira
1ª leitura - Atos 3,1-10. Em nome do Senhor Jesus, levanta-te e anda.
Salmo Responsorial – 104/105. Dai graças ao Senhor, gritai seu nome.
Evangelho - Lucas 24,13-35. Reconheceram o Senhor ao partir o pão.
Quinta-feira
1ª leitura - Atos 3,11-26. Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou.
Salmo Responsorial - 8. Ó Senhor, nosso Deus, como é grande o vosso nome.
Evangelho - Lucas 24,35-48.– A paz esteja convosco.
Sexta-feira
1ª leitura - Atos 4,1-12. Em nenhum outro há salvação.
Salmo responsorial – 117/118. Dai graças ao Senhor, porque ele é bom.
Evangelho - João 21,1-14. Lançai a rede à direita da barca e achareis.
Sábado
1ª leitura - Atos 4,13-21. Pois todos nós glorificamos a Deus pelo que havia acontecido.
Salmo responsorial - 117(118). A mão direita do Senhor me levantou.
Evangelho - Marcos 16,9-15. Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho.
O salmo responsorial é cantado na oitava da Páscoa com o refrão “Aleluia!”
Ou:
Segunda-feira: Sl 15(16) – Guardai-me, ó Deus, és meu abrigo, só em ti minha proteção (Série Povo de Deus, melodia 3, Pentecostes)
Terça-feira: Sl 32(33) – O seu amor, aleluia, encheu a terra toda, aleluia! (Série Povo de Deus, melodia 1, Páscoa)
Quarta-feira: Sl 104(105) – Quem busca a Deus, aleluia, exulte de alegria, aleluia! (id.)
Quinta-feira: Sl 8 – Louvai a Deus, aleluia, são grandes suas obras, aleluia! (id.)
Sexta-feira: Sl 117(118): A pedra que os pedreiros rejeitaram, tornou-se para nós pedra angular (HIN2, P.75)
Sábado: Sl 117(118): Ó Senhor, te rendo graças, pois me atendeste, aleluia! (Série Povo de Deus, melodia 2; Páscoa).
Ou o refrão do Lecionário acrescentando o aleluia no final do refrão. Exemplo: Exulte o coração dos que buscam o Senhor, aleluia. (Quarta-feira)
Sugere-se que se faça a seqüência pascal em todos os dias da oitava: Cantai, cristãos, afinal..., p. 337; HIN2, p. 123.
A oitava da Páscoa é também chamada de “Semana Branca”. No princípio do Cristianismo os adultos que eram batizados ficavam a semana toda com vestes brancas para testemunhar que eram cristãos.
Os domingos entre Páscoa e Pentecostes são chamados de 2º, 3º, 4º, 5º, 6º, 7º domingos da Páscoa. A festa da Ascensão deveria ser celebrada normalmente numa quinta-feira (quarenta dias depois da Páscoa). No entanto, no Brasil ela é transferida para o Domingo seguinte, ocupando assim o sétimo domingo da Páscoa.
Nos três primeiros domingos contemplamos o testemunho que os discípulos deram da ressurreição.
Domingo de Páscoa. Na manhã do primeiro dia da semana o Senhor Ressuscitado aparece primeiro à Maria Madalena (João 20,1-9). Na Missa Vespertina é muito oportuno proclamar Lucas 24,13-35, em que o Ressuscitado aparece aos discípulos de Emaús.
Segundo Domingo da Páscoa. Jesus aparece a Tomé, Oito dias depois (João 20,19-31).
Terceiro Domingo da Páscoa. Jesus aparece aos discípulos de Emaús, na tarde do mesmo dia. Ano A, Lucas 24,13-35; Ano B 24,35-48.
No ano C, o Evangelho é de João e narra a aparição de Jesus na beira do mar de Tiberíades para seis discípulos (João 21,1-19). Esta aparição contém dois momentos: a pesca e a comida. Logo que saíram da água “viram um peixe sobre as brasas e pão (21,9). João comunica a Pedro: “É o Senhor!”. Quando os discípulos puxaram a rede para a terra, o Senhor ressuscitado convida-os a comer do pão e do peixe que Ele preparou sobre as brasas, e também os peixes que eles pescaram. Jesus confirma Pedro no primado do amor.
À primeira vista, falta o envio missionário, embora, está bem substituído pelo simbolismo missionário da barca, da pesca da rede e dos peixes. Pormenores que apontam para a missão universal da Igreja, iniciada por aqueles a quem Jesus constituiu “pescadores de homens” e que agora trabalham juntos na labuta, até ver como a rede transborda de peixes.
A partir do 4º Domingo, a comunidade se organiza para dar continuidade à missão de Jesus, assumindo o mesmo projeto que o levou a dar a sua vida pela salvação do mundo. A comunidade se organiza no sentido de assumir ministérios. No 4º Domingo é destacada a figura do Bom Pastor. A comunidade é chamada a dar a vida e exemplo do Cristo Bom Pastor.
No Ano A, as primeiras leituras de cada um desses domingos são tirados dos Atos
dos Apóstolos: descrevem a vida da primeira comunidade que se reúne na fé em Jesus Cristo Ressuscitado. As segundas leituras são da primeira carta de São Pedro: a vida cristã é uma vida pascal; seguindo os passos de Jesus, como novo povo, constroem sobre o fundamento, a pedra principal, que é Cristo. Nos evangelhos destes domingos (São João e a narração dos Discípulos de Emaús de Lucas), o Cristo Ressuscitado continua presente na reunião dos discípulos e á a porta de acesso ao Pai, no Espírito.
No Ano B, as primeiras leituras (dos Atos dos Apóstolos) mostram o crescimento da primeira comunidade cristã que se estende aos não-judeus, representados na família de Cornélio. As segundas leituras são tiradas da primeira carta de São João e insistem sobre a fé e o amor, que dão testemunho da nossa ligação com Jesus Cristo Ressuscitado. Os evangelhos (de São João, mais a aparição de Jesus aos Onze, dce São Lucas), falam do sentido da morte de Jesus para nos dar a vida em comunhão com ele.
No Ano C, as primeiras leituras, novamente dos Atos dos Apóstolos, mostram o começo da ruptura da nova comunidade com o judaísmo e a abertura para os não-judeus, que são oficialmente acolhidos no Concílio de Jerusalém. As segundas leituras são tiradas do livro do Apocalipse de São João: em meio às perseguições, a Igreja vai compreendendo melhor como a ressurreição de Jesus marcou definitivamente a nossa história, derrotando a morte e todos aqueles que são causadores da morte. Ele entrou em nossa história para fazer dela uma história de salvação. Os evangelhos, todos São de São João, retomam os temas dos outros anos: a presença do Ressuscitado na comunidade, o amor e a união que ligam os discípulos com o Senhor Jesus e entre si.
O Papa João Paulo II instituiu o Segundo Domingo da Páscoa para celebrar a Divina Misericórdia e nos ajudar a contemplar na vida e na celebração o imenso amor misericordioso do Pai na pessoa de seu Filho Único, celebrado intensamente no Tempo Pascal. João Paulo II, partiu desse mundo nesse mesmo domingo do ano do ano de 2005.
O Quarto Domingo da Páscoa, tanto nos anos A, B, e C, marcam a figura de Cristo Bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas. É o Domingo do bom Pastor. Traz presente o Senhor ressuscitado como pastor que, com carinho materno, cuida de nossa vida. Ele também se revela como porta pela qual, pastores e ovelhas, precisam passar para encontrar a vida plena e verdadeira.
2- O SALMO 117(118)
Um ponto alto da Liturgia da Palavra na Vigília Pascal é o canto solene do Aleluia com o Salmo 117(118) e a proclamação do Evangelho da ressurreição. Também ele é cantado como Salmo responsorial no Domingo de Páscoa dos Anos A, B e C.
No Ano A, ele é cantado no Domingo de Páscoa e também no Segundo Domingo de Páscoa.
No Ano B, ele é cantado no Domingo de Páscoa, no Segundo Domingo e também no Quarto Domingo que é o “Domingo do Bom Pastor”.
No Ano C, ele é cantado no Domingo de Páscoa e no Segundo domingo de Páscoa.
3- AS LEITURAS
Não existe, nas leituras dos domingos da Quaresma e Páscoa, a leitura continuada dos evangelhos, nem a ligação entre a primeira leitura e o Evangelho, como no Tempo Comum. Mas um espírito comum que perpassa todas as leituras: na Quaresma, é o espírito de conversão que perpassa todas as leituras. De várias maneiras o Senhor nos convida a voltar-nos para Ele de coração. No Tempo Pascal o Senhor Ressuscitado nos confirma na vida nova, pela presença viva do Ressuscitado na comunidade cristã.
4- ASCENSÃO DO SENHOR
A Solenidade da Ascensão do Senhor ao céu é colocada quarenta dias depois da Páscoa da ressurreição numa quinta-feira. No Brasil, por não ser feriado nesse dia, a solenidade é celebrada no 7º Domingo da Páscoa. Solenidade na qual se põe diante dos olhos Cristo Senhor que, à vista dos discípulos, subiu ao céu, onde está sentado à direita de do Pai, revestido de régio poder, a reservar para os homens e mulheres o reino celeste, e onde há de vir novamente no fim dos tempos (CB, n. 375).
A Ascensão de Cristo está intimamente ligada à sua Ressurreição. É o terceiro momento do Mistério da Páscoa. Ela deve ser entendida na unidade desse mistério. Pode-se dizer que a Páscoa é um movimento dotado de três momentos: 1) a Ressurreição em sentido restrito, que é a superação do Poder da Morte e, portanto, no rompimento desta situação dolorosa que introduz na Nova Criação; 2) As manifestações do Senhor Ressuscitado: a Vida que então brota manifesta-se divina e põe em questão a sua própria visibilidade (J 20,19-28); 3) A Ascensão é apenas um aspecto deste terceiro momento do Mistério da Páscoa. Fazendo memória do dia em que o Senhor subiu aos céus, entramos no sentido mais profundo de sua ressurreição e da missão que Ele nos confiou.
A palavra “Ascensão” significa “subida”. Jesus Cristo foi rejeitado e condenado à Cruz pela justiça dos poderosos, mas, agora, Deus Pai o faz sentar à sua direita; isto é, Deus lhe dá o poder de julgar e governar o mundo inteiro. Sentar à direita de Deus significa também que ele participa da mesma esfera divina, isto é, é Deus em pé de igualdade com o Pai. Jesus foi “elevado”. “Subiu”. Era considerado réu, e Deus fez dele o juiz dos vivos e dos mortos. Tornou-se Senhor da história. Hoje, ele nos envia para proclamar esta mensagem em todos os recantos da terra (Mt 28, 16-20).
Nos três anos do Lecionário (A, B e C), a primeira leitura que inicia a celebração é do livro dos Atos dos Apóstolos 1,1-11, no qual Lucas lembra a despedida de Jesus, sua Ascensão aos céus e sua promessa de enviar o Espírito da verdade para que a comunidade possa dar testemunho Dele. A segunda leitura é da carta de São Paulo aos efésios 1,17-23, que fala de Jesus Cristo como cabeça de sua Igreja, a qual é o seu corpo e que mantém sua presença visível no meio dos povos. Há um evangelho diferente para cada um dos três anos (A, B, C), que fala da missão que Cristo deixou na sua Igreja.
Leituras bíblicas
Primeira leitura - Atos 1,1-11
Salmo responsorial 46(47)
Segunda leitura Efésios 1,17-23
Evangelho:
Ano A – Mateus 28,16-20
Ano B – Marcos 16,15-20
Ano C – Lucas 24,46-53
A oração da coleta ou oração do dia da Missa e os dois prefácios, destaca que a Ascensão do Senhor é também a nossa ascensão. Na verdade a renovação do Concílio Vaticano II afirma que essa missa é de tal natureza que nos faz conhecer melhor as realidades significativas da Ascensão do Senhor, desta forma promovendo mais a nossa vida espiritual.
A novidade é que o Círio Pascal não é apagado depois do Evangelho da Ascensão, mas depois das completas do dia de Pentecostes, ou na última celebração eucarística do dia de Pentecostes, como conclusão, portanto, do Tempo Pascal.
Um antigo prefácio do formulário do Sacramentário de Verona insiste na glória do Senhor ressuscitado, que se manifestou, de modo papável, isto é, a todos os discípulos, no quadragésimo dia depois da ressurreição; visão de glória que confirmou os discípulos na sua fé e conferiu maior força a seu ensinamento. Um outro prefácio do Sacramentário de Verona afirma que a Ascensão do Senhor prova que a descida de Jesus Cristo na carne humana não interrompeu a sua divindade que desde sempre Ele tem junto do Pai, prova também que Jesus subiu ao céu com a natureza humana e que desta forma o homem a mulher são participantes da sua divindade.
ANO A – Mateus 28,16-20
Com este Evangelho termina a lista dos relatos de aparições proclamadas desde a liturgia do dia de Páscoa. O esquema da aparição segue o processo habitual: menciona a incredulidade de alguns (v. 17), provas da presença do Senhor (vindo a eles... vv.16-18) e, enfim, transmissão dos poderes (aqui, a pregação e o batismo).
Neste relato os apóstolos se descobriram não somente como testemunhas da ressurreição, mas principalmente como sinais da permanência da presença do Senhor na Igreja. Este último testemunho talvez seja, assim, o mais tardio, mas também o mais eclesiológico, isto é, o que mais se refere à Igreja do que as narrações de Marcos e Lucas.
Encontramos em Mateus a afirmação do senhorio universal reivindicado por Cristo (v. 18), o poder dos apóstolos de se dirigirem a todas as nações (v.18) e a afirmação da presença do Senhor entre os seus (v. 20).
Por sua ressurreição, Cristo tornou-se Senhor “do Céu e da terra”. Nesta ótica, Mateus insiste sobre o gesto de prostração dos apóstolos diante de Cristo (v. 17) como gesto de reconhecimento do senhorio do Divino Mestre.
Cristo transmite por sua vez, este poder à Igreja e encarrega-se de revelar a vida da Trindade através de sua ação missionária e nos sacramentos. A Igreja primitiva enfatizou muito esta correlação entre a universalidade dos poderes de Cristo e a extensão missionária da Igreja. É o sentido das passagens do Novo Testamento que narram a Ascensão do Senhor acrescentando-lhe logo a promessa de extensão da Igreja fundada por Ele. Agora o Senhor não está limitado a um país, como estava o Jesus histórico: Ele é o novo Homem presidindo a nova criação e colocando o universo sob sua influência. Não é, pois, por acaso, que nosso o texto de Mateus une o poder de Cristo ao envio universal: “Ide, pois... a todas as nações”. Aparece claramente a missão universal da Igreja.
Mateus ao adotar a expressão “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, fórmula litúrgica, quer afirmar que o “nome” indica, com efeito, o poder, a força essencial. Falar do “nome” das três pessoas é significar sua vida mútua e reconhecer o envio do Espírito pelo Pai, Espírito que á a testemunha do senhorio de Cristo. O evangelista mostra que, o batismo estabelece o cristão em relações específicas com cada uma das pessoas divinas.
A permanência de Cristo na Igreja não se inscreve apenas no rito do batismo, mas ainda na evangelização (vv. 19-20): os apóstolos “fazem discípulos”, “ensinando-as a guardar tudo o que vos ordenei” Compreendemos porque Mateus se consagra a esta missão, pois, ao longo de seu evangelho, não cansou de apresentar Jesus como um rabi, melhor ainda, como novo Moisés. Aliás, a “montanha” (v. 16) de onde Jesus encarrega seus apóstolos do ensino é sem dúvida a mesma, aos olhos de Mateus, aquela onde Jesus inaugurou sua missão pessoal de Mestre de doutrina ao proclamar as Bem-aventuranças (Mt 5,1), maneira de salientar a continuidade do ensinamento da Igreja e do ensinamento de Cristo.
Este Evangelho é, pois, o resumo dos principais modos da presença espiritual de Cristo entre nós: o aspecto sacramental no batismo, o missionário no envio da pregação universal e o mistério da Santíssima Trindade.
ANO B – Marcos 16,15-20
O texto do Evangelho de Marcos proclamado na liturgia de hoje mostra que a Parusia já veio efetivamente, mas sob aspectos inesperados, e que ela está simbolicamente introduzida na coragem dos missionários.
Podemos crer que este relato da aparição aos Onze engloba num só fato uma série de experiências e descobertas que os discípulos fizeram ao longo dos “quarenta dias” depois da ressurreição.
Uma preocupação com a Igreja bastante marcante está neste evangelho: não é nem às mulheres nem aos discípulos que Jesus aparece, aos olhos de Marcos, mas aos próprios apóstolos, mesmo que fossem sem fé (v. 14). O Ressuscitado não aparece aos apóstolos para dar consolo, mas para confiar-lhes a responsabilidade da missão evangelizadora (v. 15) Aqui está uma grande preocupação de Marcos em ligar a mensagem do Cristo ressuscitado (vv. 15-18) à atividade missionária da Igreja.
A expressão “e sentou-se à direita de Deus” vem dom uso que a Igreja primitiva fez dos salmos 117,16 para convencer os judeus da ressurreição de Cristo por provas na Sagrada Escritura (Atos 4,11; 1Pedro 2,7; Mateus 21,9.42; 23,39; Lucas 13,35; Hebreus 13,6). Estes textos são para exaltar o Servo sofredor.
A festa da Ascensão nos faz tomar consciência da nova maneira de Jesus estar presente entre nós: “sentado à direita do Pai”. Depois de sua vitória sobre os poderes da morte que procuram esmagar a vida, principalmente dos pequenos e humildes, Jesus anima a sua Igreja pelo seu Espírito, para que continue sua missão, anunciando e realizando o Reino, colaborando na transformação da sociedade, tornando-a justa, fraterna, pacífica..., procurando a comunhão com Deus e com os irmãos.
ANO C – Lucas 24,46-53
O lugar da Ascensão, no Evangelho de Lucas, é Betânia ou “rumo a Betânia” (Lucas 24,50), enquanto nos Atos dos Apóstolos é o monte das Oliveiras (1,12): Betânia está na encosta oriental do Monte das Oliveiras. De Betânia/Monte das Oliveiras Jesus partiu para o ingresso triunfal em Jerusalém (Domingo de Ramos); do mesmo lugar parte agora para a eternidade.
A Ascensão de Jesus para junto de Deus conclui solenemente o Evangelho de Lucas. Mas antes de desaparecer dos olhos dos discípulos, o Ressuscitado introduz as Suas testemunhas na leitura cristã da Sagrada Escritura: tudo tende para Cristo e encontra na morte e ressurreição do Filho de Deus o seu sentido e realização.
Jesus confia aos discípulos a missão de levar a todas as pessoas a salvação realizada na Páscoa. Lucas sintetiza: eles devem “pregar o arrependimento e o perdão dos pecados” (versículo 47). O arrependimento consiste em abrir-se ao Deus que ressuscitou Jesus, acolhendo a sua Palavra de perdão, e comporta depois arrependimento sincero de uma vida passada mal vivida. Para realizarem a sua missão, os Apóstolos precisam da luz e da “força do alto” que lhes são concedidas com o envio do “Espírito Santo”, o Espírito de Pentecostes (versículo 49). A fecundidade de Maria (Lucas 1,35) como a fecundidade da Igreja vem do alto, do Espírito Santo; assim Maria é o primeiro exemplo da Igreja. Realizado o mandato e feita a promessa do Espírito Santo, Jesus olha para o futuro: sua obra acabou, inicia a dos apóstolos em sua missão pelo mundo.
A narração da Ascensão conclui a manifestação visível do Ressuscitado, e conclui também o Evangelho. Lucas deu à cena o aspecto de uma solene liturgia final: a um gesto de bênção de Cristo (versículos 50-51a) segue-se um gesto de adoração da parte dos discípulos (versículo 52a). Enquanto que Mateus é um rabino itinerante, Lucas é mais liturgista enfatizando que a missão de Jesus começa numa “liturgia da sinagoga de Nazaré” (Lucas 4,16-27) e termina também numa liturgia do “Templo de Jerusalém”. Para os discípulos começa uma nova vida que simbolicamente parte do Templo (versículo 53), lugar da presença divina que agora, deste centro de Israel, quer irradiar por todo o mundo. Domina não a tristeza de uma partida, mas a “alegria” (versículo 52b) porque, com a Páscoa do Senhor, chegou o tempo da salvação.
5- OS SÍMBOLOS
As características mais destacadas do Tempo Pascal são o canto do Aleluia, a cor branca e a alegria que se traduz nas músicas, nas flores e no Círio pascal aceso em todas as missas e no ofício da tarde. Os salmos característicos deste tempo são: 118(117, 139(138), 146, 148.
Estes símbolos, atitudes e ações rituais marcam este tempo, como um prolongamento da Páscoa. Vejamos:
O Círio pascal, como sinal do Cristo ressuscitado e luz do mundo, deve estar sempre presente, devidamente enfeitado e em lugar de destaque, de preferência ao lado da mesa da Palavra em todas as celebrações. Isto faz a assembléia perceber a ligação com a Vigília Pascal.
É importante que o Círio pascal seja aceso de maneira solene e incensado no início da celebração, enquanto a assembléia entoa um refrão que evoque o sentido do gesto. Sugerimos que seja feito em todas as celebrações dominicais do Tempo Pascal.
A alegria é uma atitude pascal que deve permear o dia-a-dia da vida cristã, e neste Tempo Pascal recebe especial cultivo, sobretudo nos momentos celebrativos.
As flores e a cor branca ou amarela nas vestes, toalhas e em outros ornamentos expressam também a alegria e a paz que caracterizam este tempo.
O “aleluia” palavra hebraica que significa “louvor a Deus”, é uma das expressões fortes que aparecem em vários momentos da celebração, sobretudo na aclamação ao Evangelho. É o canto novo da vitória de Cristo e das comunidades sobre o mal e a morte.
A água batismal consagrada na noite de Páscoa seja colocada em um lugar especial, de preferência junto ao Círio pascal ou na própria Pia batismal. Onde não houver Pia batismal, prepara uma bacia bonita para recebê-la. A água poderá ser perfumada ou conter pétalas de flores perfumadas, como lembrança do batismo que nos mergulha na Páscoa do Senhor e nos faz novas criaturas.
O rito da água poderá ser feito neste Tempo Pascal, substituindo o ato penitencial, como memória do batismo e pode, às vezes, ser realizado no momento da profissão de fé, como aconteceu na Vigília Pascal. Também é uma maneira de a assembléia perceber a ligação com a Vigília. Outra sugestão é realizar este rito da água após a homilia.
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