Há 60 anos, o Santo Papa Sarto era canonizado
Em 29 de maio de 1954, Giuseppe Sarto, o Papa Pio X, era canonizado
A fama de santidade de Pio X remontava há
muito tempo. Mesmo quando ainda vivo, atribuía-se a ele o dom da cura.
Aqui mencionamos apenas três casos da época de seu pontificado. Certo
dia, uma freira belga, que sofria de tuberculose, foi admitida a uma
audiência pública com o Papa. Quando saiu, percebeu que estava
completamente curada e não teve recaída. Em outra ocasião, após uma
audiência pública, um alemão, cego de nascimento, ganhou sua visão após
Pio X colocar as mãos em seus olhos e exortá-lo a confiar em Deus. De
modo similar, uma criança cega foi imediatamente curada após o Papa pôr a
mão em sua cabeça e dizer à mãe: “Reze ao Senhor e tenha fé”
Tão logo o corpo de Pio X foi colocado no
túmulo, começaram as peregrinações. Em breve chegaram relatos de
favores e graças miraculosamente recebidas, atribuídas à sua
intercessão. Em fevereiro de 1923, todos os cardeais residentes em Roma —
a única vez na história — assinaram um requerimento para o início de
sua causa de beatificação. Um postulador foi designado: Dom Benedetto
Pierami, Procurador Geral dos Beneditinos de Vallambroso. Em São Pedro,
poucos meses depois, em 28 de junho de 1923, Pio XI inaugurou um
monumento em honra a Pio X. Uma estátua de mármore o mostra de braços
estendidos e olhos voltados para o céu. Na base do monumento, oito
painéis de bronze representando os mais proeminentes aspectos e
acontecimentos de seu pontificado: 1. O Pontífice da Eucaristia; 2. O
defensor da fé; 3. O apoiador da França Católica; 4. O Patrono das
Artes; 5. O Guardião dos Estudos Bíblicos; 6. O reorganizador do Direito
Canônico; 7. O Reformador da Música Sacra; 8. O Pai dos Órfãos e dos
Abandonados
O processo de beatificação
Os processos diocesanos (ou “processos
ordinários”) começaram. Eles se deram na diocese de origem de Pio X e
nas dioceses onde ele havia atuado em diferentes funções. Os quatro
“processos ordinários” foram organizados sob a autoridade de cada um dos
bispos responsáveis: em Treviso, 1923-1926; em Mântua, 1924-1927; em
Veneza, 1924-1930; e em Roma, 1923-1931. Estes processos começaram menos
de dez anos após a morte do Papa e, portanto, foi possível questionar
pessoas que o conheceram, algumas de suas irmãs, alguns amigos de
infância e juventude, alguns eclesiásticos que o conheceram em
diferentes responsabilidades sacerdotais e episcopais, e também alguns
prelados e cardeais do Vaticano. Ao todo, 205 testemunhas de sua vida
foram interrogadas e suas declarações, sob juramento, foram examinadas. A
cada testemunha foram feitas as mesmas perguntas (63 questões ao todo)
As declarações examinadas dos processos
ordinários (mais de 10 mil páginas manuscritas) foram publicadas em
forma de grandes sínteses — summarium — na Positio super introductione causae (Relatório sobre a introdução da causa). Esta Positio,
que finalmente foi editada e produzida em 1941, tem 1130 páginas. Ela
foi examinada pela Congregação dos Ritos, que publicou o Decreto para a
Introdução da Causa em 1943 — significando que a causa de beatificação e
canonização fora julgada oficialmente digna de ser apreciada pela Santa
Sé
Agora os novos processos, chamados apostólicos,
seriam repetidos nos mesmos lugares dos “processos ordinários”. Eles
duraram de 1943 a 1946. Oitenta e nove testemunhas foram chamadas, cada
uma tendo de responder a oitenta e uma perguntas. Embora algumas das
testemunhas do processo ordinários já não estavam mais vivas, havia
novas testemunhas disponíveis para dar seu depoimento. No total, nessas
duas séries de processos, cerca de 240 testemunhas foram interrogadas e
deram declarações sobre a vida e virtudes de Pio X. Uma nova Positio foi redigida, composta de excertos das duas fases do processo, chamando-se Positio super virtutibus. Publicada em 1949, continha 897 páginas. As “objeções” (animadversiones) lançadas pelo Promotor da Fé — chamado de advogado do diabo – resultou, em 1950, em uma Nova Positio super virtutibus e em uma Novissima positio super virtutibus (82 e 17 páginas)
Enquanto isso, um exame canônico dos
restos mortais foi realizado. Os restos mortais de Pio X foram retirados
de seu túmulo em 19 de maio de 1944 e trazidos para a Basílica
Vaticana. O esquife principal foi colocado na Capela do Santo Crucifixo e
foi aberto na presença dos prelados membros do Tribunal do Processo
Apostólico. O propósito do exame era ter certeza de que os restos
mortais no túmulo eram os da pessoa candidata à beatificação. Por longa
tradição, todavia, a cerimônia também servia para verificar se o corpo
poderia estar incorrupto. Esta não corrupção não é uma prova adicional
de santidade, mas é um milagre que pode confirmar a fama de santidade
que, de toda forma, já havia sido estabelecida. Foi o caso dos restos
mortais de Pio X. Uma testemunha presente na exumação e exame descreve o
estado de incorruptibilidade descoberto em 19 de maio de 1944:
Abrindo o caixão, encontraram o corpo intacto, vestido com as insígnias papais tal como foram enterrado 30 anos antes. Sob a firme pele que cobria a face, o contorno do crânio era claramente reconhecível. As cavidades dos olhos pareciam escuras, mas não vazias; estavam cobertas pelas pálpebras muito enrugadas e afundadas. O cabelo era branco e cobria o topo da cabeça completamente. A cruz peitoral e o anel pastoral brilhavam reluzentes. Em seu último testamento, Pio X pediu especialmente que seu corpo não fosse tocado e que o tradicional embalsamento não fosse realizado. Apesar disso, seu corpo estava excelentemente preservado. Nenhuma parte do esqueleto estava descoberta, nenhum osso exposto. Enquanto o corpo estava rígido, os braços, cotovelos e ombros estavam totalmente flexíveis. As mãos eram belas e magras, e as unhas nos dedos estavam perfeitamente preservadas
Terminado o exame canônico, os restos
mortais de Pio X permaneceram na capela do Santo Crucifixo, aberta à
veneração dos fiéis, até a manhã de 3 de julho. Depois, foram levadas
para outra capela na Basílica Vaticana, a Capela da Apresentação, a
primeira à esquerda quando se ingressa na Basílica, onde estão até hoje,
abaixo do altar
O processo de beatificação continuou.
Alguns consultores da Congregação dos Ritos consideraram que os
testemunhos sobre a batalha de Pio X contra o modernismo eram muito
numerosos e controversos: eles lançaram detalhadas objeções a esse
respeito e solicitaram um estudo suplementar com pesquisa documental.
Este trabalho foi realizado pelo Relator Geral, Antonelli, um
franciscano, que produziu sua Disquisitio circa quasdam obiectiones
modus agendi Servi Dei respicientes in modernismi debellatione una cum
summario additionali ex officio compilato, 1950. Esta longa compilação de documentos e comentários (303 páginas) conseguiu o apoio da Congregação e do Papa Pio XII
Beato e Santo
Em 3 de setembro de 1950 [ndr: dia em
que, no calendário tradicional, celebra-se a festa de São Pio X], o
decreto foi assinado reconhecendo que Pio X praticou heroicamente
as virtudes teologais da fé, esperança e caridade e as virtudes
cardeais da prudência, justiça, fortaleza e temperança. Restava apenas
para a beatificação o reconhecimento canônico de dois milagres
realizados pela intercessão do Papa. Entre centenas de curas registradas
pelo Postulador da Causa que não podiam ser atribuídas à medicina, duas
foram selecionadas para reconhecimento canônico
Uma foi a da freira francesa,
Marie-Françoise Deperras, que sofria de um câncer no fêmur esquerdo, e
que foi curada de maneira espetacular após a imposição de uma relíquia
de Pio X e duas novenas ao Soberano Pontífice. A segunda, de uma outra
religiosa, italiana, que sofria com um tumor maligno no abdome. A cura
se deu em fevereiro de 1938 após a imposição da relíquia de Pio X e
quando seu convento fez uma novena pedido sua intercessão. Após o estudo
científico de ambos os casos, conduzido por peritos médicos da
Congregação dos Ritos, as curas foram declaradas instantâneas, perfeitas
e definitivas. Uma vez que foram decorrentes do recurso à intercessão
de Pio X, elas foram declaradas de ordem sobrenatural e, em 11 de
fevereiro de 1951, foram reconhecidas por decreto como autênticos
milagres. Em 3 de junho de 1951, Pio XII pôde proceder com a solene
cerimônia de beatificação de seu predecessor
Finalmente, em 29 de maio de 1954, após o
exame de um novo milagre, Pio XII realizou a canonização de Pio X. Em
seu discurso, o Papa afirmou:
Saint Pius X, Restorer of the Church – Yves Chiron, Angelus Press, 2002, pp. 303-305“A santidade, inspiradora e guia de Pio X em todos os seus empreendimentos, brilhou ainda mais fulgurante em suas ações quotidianas. A meta que almejava, unir e restaurar todas as coisas em Cristo, é algo que ele fez se tornar realidade em si mesmo antes de levá-la aos outros”
Abaixo , algumas fotos do Gigante São Pio X
Exumação do corpo do Papa São Pio X - Imagem do Túmulo , ano de 1944
Corpo do Papa São Pio X , na ocasião da sua beatificação , ano de 1951
Foto do Papa São Pio x em seu gabinete
Capela particular de São Pio X
São Pio X em sua sede gestatória
O majestoso cortejo da urna do Papa São Pio X
Translado do corpo do Papa São Pio X
Papa São Pio X em seu leito de morte . Mota se sua expressão serena , que morte gloriosa
Novendiales do Papa São Pio X
Papa São Pio X em sua sede gestatória
Papa São Pio X em seu gabinete
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