ANDAR NA PRESENÇA DE DEUS, O FUNDAMENTO DA VIDA ESPIRITUAL
O andar na presença de Deus é chamado, com razão, o fundamento da vida
espiritual. Consiste ele nisso: que se evite o pecado, se pratique a virtude e
se una mais intimamente possível com Deus. Ora, são justamente essas três
coisas que opera o andar na presença de Deus; ele conserva a alma afastada do
pecado, excita-a à prática da virtude e faz que ela se una a Deus por meio de
seu santo amor
1. Quanto ao primeiro efeito, a preservação do pecado, não há meio mais
eficaz para refrear as paixões, para resistir às tentações e, consequentemente,
para evitar o pecado do que a lembrança da presença de Deus. S. Tomás diz:
"Se pensássemos sempre na presença de Deus, nunca faríamos, ou então só
raramente, coisa alguma que lhe desagradasse" (Opusc. 58, c. 2). Segundo
S. Jerônimo, a recordação da presença de Deus fecha a porta a todos os pecados.
E, de fato, se os homens não ousam transgredir, em presença de seus príncipes,
de seus pais ou superiores, os seus preceitos, como poderiam infringir os
mandamentos de Deus se pensassem que ele os vê?
Santo Ambrósio conta que, durante um sacrifício que Alexandre Magno
oferecia no templo, um pajem preferiu deixar-se queimar a mão a cometer a
irreverência de deixar cair a tocha que sustinha. Ora, se o respeito para com
seu rei pôde fazer que esse jovem, para não faltar com ele, vencesse a
natureza, quanto mais poderoso, ajunta o santo doutor, não será o pensamento da
presença de Deus para levar uma alma crente a vencer todas as tentações e a
suportar antes todos os tormentos do que ofender a seu Deus e Senhor diante de
seus próprios olhos
Os homens, só por isso, caem em pecado, porque perdem de vista a presença
de Deus. "A causa de todo o mal, diz S. Teresa, está em que não pensamos
na presença de Deus, mas antes o julgamos muito longe de nós" (Cam. da
perf., c. 29). Antes dela já o dissera David: "Não há Deus diante dele:
por isso seus caminhos são manchados em todos os tempos" (Sl 10, 5). O
Abade Díocles chega até a dizer que aquele que perde da memória a presença de
Deus, torna-se um animal ou um demônio. E ele tem razão: porque um tal homem
será sempre assaltado por seus desejos sensuais ou diabólicos e não terá a
força para resistir-lhes
Doutro lado, os santos acham neste pensamento, de que Deus os está
vendo, a força para resistir a todos os ataques do inimigo. Esse pensamento
outorgou à casta Susana a coragem para repelir os dois libertinos que a queriam
seduzir ao pecado, apesar de a terem ameaçado com a morte. "Prefiro antes
cair, sem esse pecado, nas vossas mãos, disse ela com inabalável constância, do
que pecar na presença de Deus" (Dan 13, 23)
Esse pensamento converteu a uma mulher depravada, que não se
envergonhara de tentar Santo Efrém ao pecado. O Santo dissera-lhe que, se
quisesse pecar, deveria ir com ele no meio da cidade. "Mas como se poderá
cometer um tal pecado na presença de tanta gente?" perguntou-lhe ela.
"E como se poderá pecar na presença de Deus, que vê tudo?"
respondeu-lhe o santo. Ouvindo essas palavras, rompeu em pranto a pobre
pecadora, pediu perdão ao santo e adjurou-o a que a auxiliasse no caminho da
salvação. S. Efrém internou-a em um claustro, onde levou uma vida edificante e
chorou até à morte os seus pecados (Metaphrast., Vit. Sti. Ephr)
Coisa semelhante se deu com o santo Abade Pafúncio a respeito de uma
outra pecadora chamada Taís, que lhe dissera que ninguém haveria de ver seu
pecado, além de Deus. O santo respondeu-lhe, com voz muito grave: "Crês,
portanto, que Deus te vê, e queres entretanto pecar?" Taís sentiu-se
ferida por essas palavras, entrou em si e começou a detestar sua vida
vergonhosa: trouxe seus móveis, seus vestidos e jóias, que adquirira por sua
vida escandalosa e, amontoando tudo isso em uma praça pública, ateou-lhe fogo,
e dirigiu-se em seguida para um convento, onde jejuou durante três anos a pão e
água, repetindo as palavras: "Ó vós que me criastes, tende piedade de
mim!" Decorridos esses três anos, teve uma santa morte. Logo após sua
morte, foi revelado a um discípulo de S. Antão, Paulo, o Simples, que essa
feliz pecadora recebera um trono de glória entre os santos do céu (Vita Pat.,
l. 1)
O pensamento na presença de Deus nos ajuda, pois, a evitar o pecado.
Digamos, portanto, ao Senhor, com o piedoso Job: "Ponde-me, Senhor, junto
de vós, e arme-se contra mim a mão de quem quer que for" (Job 17, 3). Ó
meu Deus, fazei-me lembrar de vossa presença, fazei-me pensar por toda a parte
que vós me vedes; que venham então os meus inimigos, que eu certamente os
vencerei. S. João Crisóstomo diz: "Se nos conservarmos sempre na presença
de Deus, não só não pensaremos em coisas más, mas também não as diremos, nem as
faremos, porque estaremos persuadidos que Deus observa todas as nossas ações,
ouve todas as nossas palavras e vê todos os nossos pensamentos" (In Filip
h. 8)
2. Quanto à prática das virtudes cristãs, é a recordação da presença de
Deus igualmente um poderoso meio para isso. Com que valentia não combatem os
soldados na presença de seu rei! O pensamento de que os observa o príncipe, que
os pode recompensar ou punir, aviva sua coragem e força em alto grau. Se
igualmente pensássemos que, em tudo que fazemos, o olho de Deus está voltado
para nós, certamente nos esforçaríamos para fazer tudo bem e com pura intenção,
sem buscar outra coisa que o exclusivo agrado de Deus e sem nos importar com os
homens
São Basílio diz: "Se alguém se achasse na presença de seu rei e de
um simples camponês, certamente procuraria agradar ao rei, sem se incomodar
muito com o que agradasse ao camponês; da mesma forma se esforça aquele que
anda na presença de Deus a agradar unicamente a Deus, seu Senhor, que observa
todos os seus atos e não às criaturas"
3. Quanto ao terceiro efeito, a união com Deus, é verdade incontestável
que o amor é alimentado pela presença do objeto amado; isto se dá até com os
homens, apesar de descobrirem tanto mais faltas em nós quanto mais convivem
conosco. Muito mais se aumentará, pois, o amor de Deus na alma, se ela o tiver
continuamente diante dos olhos porque, quanto mais se trata com ele, tanto mais
brilha sua beleza e amabilidade
Para se permanecer em união contínua com Deus não basta fazer uma
meditação, de manhã e à noite. Se se retira do fogo a água fervendo, diz S.
Crisóstomo, retoma logo a sua natural frieza. Por isso deve-se estar atento a
conservar, fora da meditação, o fogo do amor por meio da recordação contínua da
presença de Deus. O venerável Henrique de Suso se dedicou com especial zelo a
este santo exercício e chegou a tal grau de perfeição, que se entretinha sem
interrupção com Deus por meio de aspirações amorosas. S. Gertrudes alcançou
também tal perfeição nesse ponto que o Salvador, referindo-se a ela, disse a S.
Mechtildes: "Essa alma, minha muito amada, anda sempre na minha presença e
se esforça sempre por cumprir a minha vontade e fazer todas as suas ações para
minha maior glória" (Insin., l. 1, c. 12)
São Bernardo quando, nos seus primeiros anos de vida religiosa, se
sentia desanimado ou tíbio, pensava em alguma pessoa piedosa, quer ausente,
quer mesmo falecida, e isso bastava, como ele mesmo conta, para que a alegria e
o fervor no amor de Deus voltassem imediatamente à sua alma. Quanto mais útil
não será, pois, para uma alma que ama a Deus o pensamento de que Deus está
perto dele e deseja o seu amor. David sentia-se cheio de alegria e consolação
ao só pensar em seu Deus: "Lembrei-me de Deus e me deleitei" (Sl 76,
4)
Por mais aflita e desconsolada que se ache uma alma, se ela ama a Deus,
se sentirá certamente consolada logo que pensar em seu mui amado Senhor. Por
isso, aqueles que estão cheios do amor de Deus conservam a tranquilidade e a
paz, porque, assim como girassol se volta sempre para o sol, também eles, em
tudo que lhes sucede e em tudo o que fazem, se esforçam por ter a presença de
Deus diante dos olhos. "Quem ama verdadeiramente, diz S. Teresa, pensa
sempre no objeto amado" (Vida, c. 13)
B. Diversos modos de se por na presença de Deus. Quero explicar-te
agora, alma cristã, como podes te transportar à presença de Deus. Esse ato se
exerce em parte pelo entendimento, em parte pela vontade: por meio do
entendimento deve-se representar a Deus presente; por meio da vontade deve-se
unir a ele, fazendo-se atos de humildade, adoração, amor e semelhantes
I. — Tendo-se em vista o entendimento, podemos nos por na presença de
Deus de diversas maneiras
1. O primeiro modo consiste em nos representar que Jesus Cristo, nosso
Salvador, nos acompanha e nos vê por toda a parte. Podemos no-lo representar
ora neste, ora naquele mistério; por exemplo, ora como um menino no presépio de
Belém, ora como pobre exilado na fugida para o Egito, ora como operário na
oficina de Nazaré, ora como homem de dores, que é condenado à morte como um
criminoso, flagelado, coroado de espinhos e pregado na cruz
Santa Teresa aplaude muito esta maneira de se colocar na presença de
Deus. Devo, contudo, notar que, se ela é boa, não é, contudo, a maneira melhor
e nem sempre é útil, e isso por dois motivos: primeiro, ela não corresponde inteiramente
à verdade, porque Jesus Cristo não nos está continuamente presente ao mesmo
tempo como Deus e homem, mas só depois da comunhão ou no SS. Sacramento;
segundo, essa maneira de se por na presença de Deus pode dar facilmente ocasião
a enganos ou, ao menos, cansar muito a cabeça pelo grande esforço da fantasia.
Querendo-se servir dela, faça-se, pois, com cuidado, sem se querer representar
forçosamente os traços, a cor do rosto ou a fisionomia do divino Salvador:
basta que o julguemos presente em uma figura indeterminada e nos representemos
que ele vê tudo o que fazemos
2. O segundo modo de se colocar na presença de Deus é muito seguro e
preferível, pois que se baseia sobre uma verdade da fé. Consiste em vermos, com
os olhos da fé, a Deus presente em toda a parte e nos compenetrarmos vivamente
da verdade que ele está continuamente conosco e observa todas as nossas ações
Não importa que não o vejamos com os olhos do nosso corpo. Também não
vemos o ar e, contudo, nem de longe duvidamos que ele nos circunda de todos os
lados, pois, do contrário, não poderíamos respirar, nem viver
Não vemos a Deus, mas a fé nos ensina que ele nos está continuamente
presente. "Porventura não encho eu o céu e a terra?" (Jer 23, 24),
diz ele pela boca do profeta. Nós estamos em Deus de um modo semelhante ao de
uma esponja no mar, que está circundada pela água e toda impregnada dela. S.
Paulo diz: "Nele vivemos, nos movemos e existimos" (At 17, 28). Ele,
que é nosso Deus, diz S. Agostinho, observa todas as ações, todas as palavras,
todos os pensamentos de cada um de nós com tal cuidado, como se tivesse
esquecido todas as outras criaturas, para nos dispensar toda a sua atenção. Mas
Deus não só vê todas as coisas que fazemos, dizemos e pensamos, como também
registra tudo, para exigir contas de nós, no dia do juízo, e nos recompensar ou
castigar segundo os nossos méritos
Este segundo modo de pensar na presença de Deus não cansa o espírito,
pois basta excitar um ato de viva fé, dizendo-se interiormente: Ó meu Deus,
creio firmemente que estais aqui presente. Pode-se também juntar, a esse, atos
de amor, de resignação, boa intenção e outros semelhantes
3. O terceiro modo de conservar a recordação da presença de Deus
consiste em considerar a Deus nas criaturas, que dele recebem seu ser e foram
destinadas para o nosso uso. Deus está na água que nos purifica, no fogo que
nos aquece, no sol que nos ilumina, na comida que nos sustenta, em todas as
coisas que criou para nossa utilidade. Se, por isso, virmos qualquer objeto
belo, como um magnífico jardim, uma delicada flor, pensemos que nessa criatura
se reflete um fraco raio da infinita beleza de Deus, daquele Deus que deu o ser
a essas coisas. Se falamos com um santo ou com um sábio, pensemos que é Deus
que lhe comunicou uma partezinha de sua santidade ou sabedoria. Se ouvimos uma
música deleitosa, se certos perfumes nos agradam, se comidas e bebidas nos
satisfazem, pensemos que é Deus que nos distribui esses dons com o fim de
elevar nosso coração para ele por meio dessas coisas e fazê-lo aspirar às
alegrias eternas do céu
Acostumemo-nos, pois, alma cristã, a ver em todas as coisas a Deus, que
se nos apresenta nelas e façamos amiudados atos de agradecimento e de amor,
lembrando-nos que Deus, desde toda a eternidade, pensou em operar tantos
milagres de onipotência para ganhar os nossos corações. "Apressa-te a amar
na criatura o Criador, diz S. Agostinho, e não prendas o teu oração naquilo que
Deus fez, para que não percas, pela entrega de ti mesmo às criaturas, aquele
que te criou". Conforme isso procedia esse grande santo; à vista das
criaturas elevava seu coração a Deus, e, inflamado em amor, exclamava:
"Céu e terra e tudo o que neles existe me clama que eu devo vos
amar". Se eu considero o céu, as estrelas, os campos, os montes, queria
dizer o santo, então parece-me que me clamam: "Agostinho, ama a teu Deus,
porque ele nos criou unicamente para que o possas amar"
À vista de encantadoras campinas, lagos, regatos ou outras belas coisas,
S. Teresa parecia ouvir as repreensões dessas criaturas acusando-a de
ingratidão para com seu Deus. S. Maria Madalena de Pazzi ficava cheia de
admiração e inflamada em amor quando tinha nas mãos uma bela flor ou fruta, e
dizia consigo mesma: Deus, pois, pensou desde toda a eternidade em criar esta
flor e esta fruta, para ganhar o meu amor!
Um santo homem, chamado Simeão Saulo, costumava bater com seu bordão nas
flores e plantas quando atravessava os campos, dizendo: Calai-vos, já basta;
calai-vos, pois me lançais em rosto que amo pouco a esse Deus que vos fez tão
belas por amor de mim e para me atrair a ele por meio de vós. Já entendo o que
quereis dizer: basta, calai-vos!
4. O quarto meio, que é o mais perfeito, para conservar sempre viva em
nós a recordação da presença de Deus, consiste em vermos a Deus em nós mesmos
Não é preciso subir ao céu para achar a Nosso Senhor; precisamos só nos
recolher um pouco e o encontraremos em nós mesmos. Quem se representa a Deus na
oração, como muito distante, se cria assim uma fonte de muitas distrações. S.
Teresa diz: "Nunca fiquei sabendo perfeitamente o que era rezar bem, até
que Deus mesmo me ensinou o verdadeiro modo de conversar com ele. Eu comecei
então a me aprofundar no meu interior e isso se evidenciou como muito útil para
minha alma" (Cam. da perf., c. 30)
Deus está presente em nós de um modo mui diferente do que nas outras
criaturas: em nós mora o Senhor como em seu templo, em sua casa: "Não
sabeis que vós sois templos de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?"
(1 Cor 3, 16). Por isso nos diz o divino Salvador que ele, com o Pai e o
Espírito Santo, faz sua entrada na alma que o ama, para aí permanecerem, não um
momento, mas para sempre. "Se alguém me amar, meu Pai também o amará e nós
viremos e faremos nele a nossa morada" (Jo 14, 23)
Os reis desta terra moram em grandes palácios; mas neles possuem
aposentos especiais, nos quais geralmente habitam. Coisa semelhante se dá com
Nosso Senhor: ele está por toda a parte, sua presença enche o céu e a terra;
mas, de um modo especial, habita nas nossas almas, onde se demora com especial
gosto, como em outros tantos jardins de delícias. "Eu habitarei neles,
assim fala Deus pela boca do Apóstolo, e andarei entre eles e serei o seu Deus
e eles serão o meu povo" (2 Cor 6, 16)
Ele mora nos nossos corações e aí quer ser amado de nós e por nós
invocado, pois ele está no meio de nós, cheio de amor e bondade, para atender
às nossas súplicas, receber provas de nosso amor, para proteger-nos e
iluminar-nos, dirigir-nos e comunicar-nos seus bens, para auxiliar-nos em tudo
que pode servir para nossa salvação
Procuremos, pois, avivar a nossa fé nessa verdade e humilhemo-nos diante
de tão sublime majestade que se digna morar em nós. Façamos muitas vezes atos
de confiança, de entrega de nós mesmos e de amor para com a infinita bondade de
Deus; demos-lhe graças por seus favores; alegremo-nos com sua glória;
peçamos-lhe conselhos em nossas dúvidas e consideremo-nos muito felizes por
possuirmos nele o sumo bem, sem precisarmos temer que poder algum criado no-lo
possa roubar jamais, ou que ele mesmo nos abandone, a não ser que nós mesmos o
expulsemos de nosso coração
Santa Catarina de Sena, como ela mesma nos conta, edificou no seu
interior uma cela e aí se entretinha sem interrupção em amorosas conversações
com seu Deus e Senhor; aí se indenizava da proibição imposta por seus pais de
não se recolher a seu quarto para rezar. E nessa pequena cela encontrou ela
muito mais do que poderia achar no seu quarto, desde que deste teria ela de
sair repetidas vezes, ao passo que nunca teve de abandonar aquele santuário
interior, mas, antes, permaneceu sempre nele cheia de recolhimento e devoção
Falando uma vez S. Teresa dessa presença de Deus em nosso coração,
disse: "Aqueles que desse modo se recolhem ao pequeno céu de sua alma,
onde impera aquele que o criou, podem estar certos que trilham um caminho
seguro; dentro de pouco tempo terão vencido uma grande parte do caminho"
(Cam. da perf., c. 20)
5. Se me perguntares, alma cristã, quantas vezes no dia deves te por na
presença de Deus, respondo-te com S. Bernardo (De int. dom., c. 27), que o
deves fazer todos os instantes, pois, como não há um momento, diz o Santo, em
que não gozemos dos benefícios de Deus, assim também não devemos deixar passar
um instante sem pensar em Deus e lhe testemunhar nossa gratidão. Se alguém
soubesse que seu rei sempre pensava nele e em seu bem-estar, certamente haveria
de amar ternamente um tal príncipe e nunca se esqueceria dele, mesmo no caso
que essa afeição não lhe trouxesse nenhum proveito
É, porém, fora de dúvida que Deus se ocupa constantemente contigo e te
beneficia sem cessar, ora com inspirações, ora corroborando tua vontade, ora
com outras provas de ternura. Não serias talvez réu de uma grande ingratidão se
te esquecesses dele, ainda que por pouco tempo? Devemos, pois, nos esforçar
para pensarmos na presença de Deus sem interrupção ou, ao menos, quantas vezes
nos for possível
Nosso Senhor dirigiu ao patriarca Abraão estas palavras: "Anda
diante de mim e sê perfeito" (Gn 17, 1), o que quer dizer, procura andar
sempre na minha presença, e serás perfeito. Semelhante conselho deu a seu filho
o piedoso Tobias: "Meu filho, nunca percas a Deus de vista durante tua
vida inteira". Perguntando Dosíteo a seu mestre, S. Dorotéo, o que se
devia fazer para se santificar, recomendou-lhe também ele que andasse sempre na
presença de Deus: "Lembra-te sempre, lhe disse, que Deus está ao pé de
ti". Dosíteo, que fora antes um soldado depravado, seguiu esse conselho e
atingiu, em cinco anos, um tal grau de perfeição que foi visto, depois de sua
morte, entre os mais santos anacoretas
II. — Até aqui só falei do ato do entendimento; quero agora mostrar-te,
alma cristã, como tua vontade deve participar nesse santo exercício da presença
de Deus. Antes de tudo deves notar que só aos santos, no céu, é dado permanecer
sem interrupção diante de Deus em sua incessante visão; aqui na terra é
humanamente impossível se conservar incessantemente na presença de Deus; apesar
disso, devemos tender a isso tanto quanto possível, não como desassossego de
ânimo e excessivo esforço, mas com calma e resignação
De três modos pode a nossa vontade cooperar nesse empenho: 1.
Primeiramente podemos elevar o nosso coração a Deus muitas vezes por meio de
orações jaculatórias e aspirações amorosas, curtas mas fervorosas. Tais atos se
podem praticar em qualquer lugar e a qualquer hora. Seja qual for a tua
ocupação, poderás sempre, de tempos a tempos, elevar teu coração a Deus
Há momentos em que, de um modo especial, se deve esforçar para se avivar
a fé na presença de Deus, a saber: de manhã, ao despertar, se deve dizer: Meu
Deus, eu creio que estais aqui presente, e que estareis ao pé de mim em toda a
parte em que hoje estiver; protegei-me sempre e não permitais que vos ofenda
diante de vossos olhos; — no começo da meditação ou da oração vocal, pois quem
reza distraído, diz o Cardeal Caracciolo, Bispo de Aversa, prova que foi
negligente em excitar a fé na presença de Deus; — nas tentações contra a santa
castidade ou a paciência; por exemplo, se fores acometido por uma dor veemente,
se fores gravemente ofendido ou se um objeto desagradável te cair diante dos
olhos, deves então imediatamente recordar-te da presença de Deus e te
fortalecer com o pensamento de que ele te vê
2. Um segundo meio para se conservar na presença de Deus pelos atos da
vontade consiste em renovar repetidas vezes durante o trabalho a intenção de
querer fazer tudo unicamente para agradar a Deus. No começo de todos os teus
atos, quer comeces um trabalho, quer te dirijas à mesa, ou à recreação, ou ao
descanso, deves sempre dizer contigo mesmo: Senhor, não quero fazer isto para
minha satisfação, mas unicamente para cumprir a vossa vontade. Durante a ação
mesma deves te esforçar para renovar a miúdo essa boa intenção, dizendo: Meu
Deus, tudo para vossa glória
Dessa maneira te conservarás perfeitamente e sem grande esforço na
presença de Deus, visto que só o desejo de agradar a Deus já é uma recordação
amorosa de sua presença
Será igualmente bom se estabeleceres certos sinais ou ocasiões para
te recordares mais facilmente da
presença de Deus; por exemplo, ao bater do relógio, à vista do crucifixo, ao
entrares ou ao saíres do quarto. Costumam alguns colocar em seu quarto um sinal
especial, que os deve recordar da presença de Deus
3. Um terceiro meio consiste em empregarmos ao menos alguns
momentos para nos recolhermos em Deus,
quando nossas ocupações nos distraem ou cansam muito. Se teu corpo não
resistisse mais, por fraqueza, visto que o esforçaste muito ou jejuaste por
longo tempo, não tomarias imediatamente um reconfortante, para que pudesses
continuar teu trabalho? Quanto mais, pois, deves assim proceder para com tua
alma, quando seu zelo ou o amor de Deus diminui, porque ela jejuou por muito
tempo, isto é, descuidou-se da oração e do recolhimento
Como costumava dizer o Pe. Álvarez, a alma sem a oração deve se sentir
incomodada, como uma pedra fora de seu ponto de apoio ou um peixe fora d'água.
Por isso se se passou longo tempo ocupado em trabalhos que distraem, deve-se
procurar tomar novamente fôlego na solidão, recolhendo-se em Deus por meio de
afetos e orações
A bem-aventurança do céu consiste na visão e no amor de Deus. Nossa
felicidade na terra deve consistir igualmente em amar a Deus e contemplá-lo,
não face a face, como no céu, mas pela fé, considerando-o sempre presente. Quem
assim proceder alcançará uma grande confiança e um ardente amor de Deus, seu
sumo bem. Para um tal começa já aqui neste vale de lágrimas a vida dos
bem-aventurados no céu, que sempre veem a Deus e, por isso, não podem deixar de
amá-lo. Um tal homem despreza todas as coisas terrenas, porque sabe
perfeitamente que tudo o mais desaparece em comparação de Deus; ele começa já
aqui na terra a possuir aquele sumo bem que, mais que todos os outros bens,
contenta os corações
FONTE : Santo Afonso Maria de LIGÓRIO. LIVRO Escola da Perfeição Cristã. Obra
compilada dos escritos de Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja, pelo
Pe. Saint-Omer, C. SS. R. Petrópolis (s. e.), 1955, p.259-267
LITURGIA DIÁRIA , 14 DE ABRIL DE 2014
PRIMEIRA LEITURA (IS 42,1-7)
LEITURA
DO LIVRO DO PROFETA ISAÍAS - 1“Eis o meu servo — eu o recebo;
eis o meu eleito — nele se compraz minh’alma; pus meu espírito sobre ele, ele
promoverá o julgamento das nações. 2Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz
ouvir pelas ruas. 3Não quebra uma cana rachada nem apaga um pavio que ainda
fumega; mas promoverá o julgamento para obter a verdade. 4Não esmorecerá nem se
deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra; os países distantes
esperam seus ensinamentos”. 5Isto diz o Senhor Deus, que criou o céu e o
estendeu, firmou a terra e tudo que dela germina, que dá a respiração aos seus
habitantes e o sopro da vida ao que nela se move: 6“Eu, o Senhor, te chamei
para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro
de aliança do povo, luz das nações, 7para abrires os olhos dos cegos, tirar os
cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas - Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL (SL 26)
O SENHOR
É MINHA LUZ E SALVAÇÃO
— O Senhor é minha luz
e salvação; de quem eu terei medo? O Senhor é a proteção da minha vida; perante
quem eu temerei?
— Quando avançam os
malvados contra mim, querendo devorar-me, são eles, inimigos e opressores, que
tropeçam e sucumbem.
— Se contra mim um
exército se armar, não temerá meu coração; se contra mim uma batalha estourar,
mesmo assim confiarei.
— Sei que a bondade do
Senhor eu hei de ver na terra dos viventes. Espera no Senhor e tem coragem,
espera no Senhor!
EVANGELHO (JO 12,1-11)
PROCLAMAÇÃO
DO EVANGELHO DE JESUS CRISTO + SEGUNDO JOÃO - 1Seis dias antes da
Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde morava Lázaro, que ele havia ressuscitado dos
mortos. 2Ali ofereceram a Jesus um jantar; Marta servia e Lázaro era um dos que
estavam à mesa com ele. 3Maria, tomando quase meio litro de perfume de nardo
puro e muito caro, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa
inteira ficou cheia do perfume do bálsamo. 4Então, falou Judas Iscariotes, um
dos seus discípulos, aquele que o havia de entregar: 5“Por que não se vendeu
este perfume por trezentas moedas de prata, para dá-las aos pobres?” 6Judas
falou assim, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão;
ele tomava conta da bolsa comum e roubava o que se depositava nela. 7Jesus,
porém, disse: “Deixa-a; ela fez isto em vista do dia da minha sepultura.
8Pobres, sempre os tereis convosco, enquanto a mim, nem sempre me tereis”. 9Muitos
judeus, tendo sabido que Jesus estava em Betânia, foram para lá, não só por
causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Jesus ressuscitara dos
mortos. 10Então, os sumos sacerdotes decidiram matar também Lázaro, 11porque
por causa dele, muitos deixavam os judeus e acreditavam em Jesus - Palavra da Salvação
MENSAGEM DE NOSSA
SENHORA EM MEDJUGORJE – “Hoje peço-Ihes
que renovem a oração em suas famílias, a fim de que cada família se torne
alegria para o meu Filho Jesus. Por isso, queridos filhos, rezem e dediquem
mais tempo a Jesus e assim serão capazes de aceitar tudo: as doenças, as
cruzes, até mesmo as mais pesadas. Eu estou com vocês e desejo acolhê-los no
meu Coração e protegê-los. Vocês, porém, ainda não se decidiram. Por isso,
queridos filhos, peço-lhes que rezem para que, através da oração, permitam-me
ajudá-los. Meus queridos filhinhos, rezem para que a oração se torne o seu
alimento diário” – MENSAGEM DO
DIA 25.01.92
A
IGREJA CELEBRA HOJE , SANTA LUDOVINA - Contemplamos a vida
de uma santa holandesa, nascida no ano de 1380, dentro de uma família
materialmente pobre, mas riquíssima na espiritualidade. Ludovina era muito
vivaz e cheia de brincadeiras, como qualquer criança, mas trazia em si o
chamado a uma consagração total ao Senhor. Antes dos 15 anos de idade recebeu
muitas propostas de casamento, mas por amor a Jesus, recusou a todas para ser
fiel a Deus, porque sua vocação era uma vida consagrada. Ela descobriu o dom da
virgindade, decidindo-se pelo celibato muito cedo. Após sofrer um acidente no
gelo, com apenas 15 anos, ficou praticamente paralisada. Uma cruz, que com a
ajuda da família e de seu diretor, se uniu à cruz gloriosa de nosso Senhor. Ela
deixou-se instruir pela ciência da cruz. Incompreendida por muitos, foi acusada
de mentirosa e de ser castigada por Deus. Ludovina deu a mesma resposta que
Jesus deu no alto da cruz: a do amor e do perdão. Passou 7 anos sem comer nem
beber nada. Recebia, como alimento, Jesus Eucarístico. Em 1433 recebeu o prêmio
da eternidade. Que na cruz de cada dia, nos unamos cada vez mais à cruz
gloriosa de nosso Senhor. Santa
Ludovina, rogai por nós!
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