Queridos irmãos,
queridas irmãs, a paz! Esta semana comemoramos o dia de Santa Escolástica, irmã
gêmea de São Bento. Também ela, como o irmão, dedicou a vida a Deus. Bento, que
havia fundado o mosteiro no Monte Cassino, mandou construir uma cela perto do
mosteiro e deu a Escolástica uma regra de vida semelhante à do mosteiro
masculino. Assim, Escolástica se tornou a primeira superiora da ordem das
beneditinas, que se espalhou por todo o mundo.
O silêncio era observado rigorosamente e as visitas
só eram permitidas em raríssimas ocasiões. Os dois irmãos se encontravam apenas
uma vez por ano. Segue abaixo o relato do seu último e muito abençoado
encontro, tirado da Liturgia das Horas:
Escolástica,
irmã de São Bento, consagrada ao Senhor onipotente desde a infância, costumava
visitar o irmão, uma vez por ano. O homem de Deus descia e vinha encontrar-se
com ela numa propriedade do mosteiro, não muito longe da porta.
Certo
dia, veio ela como de costume, e seu venerável irmão com alguns discípulos foi
ao seu encontro. Passaram o dia inteiro a louvar a Deus e em santas conversas,
de tal modo que já se aproximavam as trevas da noite quando se sentaram à mesa
para tomar a refeição.
Como
durante as santas conversas o tempo foi passando, a santa monja rogou-lhe:
“Peço-te, irmão, que não me deixes esta noite, para podermos continuar falando
até de manhã sobre as alegrias da vida celeste”. Ao que ele respondeu-lhe: “Que
dizes tu, irmã? De modo algum posso passar a noite fora da minha cela”.
A
santa monja, ao ouvir a recusa do irmão, pôs sobre a mesa as mãos com os dedos
entrelaçados e inclinou a cabeça sobre as mãos para suplicar o Senhor
onipotente. Quando levantou a cabeça, rebentou uma grande tempestade, com tão
fortes relâmpagos, trovões e aguaceiro, que nem o venerável Bento nem os irmãos
que haviam vindo em sua companhia puderam pôr um pé fora da porta do lugar onde
estavam.
Então
o homem de Deus, vendo que não podia regressar ao mosteiro, começou a
lamentar-se, dizendo: “Que Deus onipotente te perdoe, irmã! Que foi que
fizeste?” Ela respondeu: “Eu te pedi e não quiseste me atender. Roguei ao meu
Deus e ele me ouviu. Agora, pois, se puderes, vai-te embora; despede-te de mim
e volta para o mosteiro”.
E
Bento, que não quisera ficar ali espontaneamente, teve que ficar contra a
vontade. Assim, passaram a noite toda acordados, animando-se um ao outro com
santas conversas sobre a vida espiritual. Não nos admiremos que a santa monja
tenha tido mais poder do que ele: se, na verdade, como diz São João, Deus
é amor (1Jo 4,8), com justíssima razão, teve mais poder aquela que
mais amou.
Três
dias depois, estando o homem de Deus na cela, levantou os olhos para o alto e
viu a alma de sua irmã liberta do corpo, em forma de pomba, penetrar no
interior da morada celeste. Cheio de júbilo por tão grande glória que lhe havia
sido concedida, deu graças a Deus onipotente com hinos e cânticos de louvor;
enviou dois irmãos a fim de trazerem o corpo para o mosteiro, onde foi
depositado no túmulo que ele mesmo preparara para si.
E
assim, nem o túmulo separou aqueles que sempre tinham estado unidos em Deus.
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