Queridos
irmãos, queridas irmãs, a paz! Neste mês da Bíblia, gostaria de compartilhar
com vocês esta meditação do Frei Raniero Cantalamessa, O.F.M., pregador da Casa
Pontifícia.
“Assim
como na encarnação Jesus se oculta sob o véu de carne e na Eucaristia sob o véu
do pão, assim também na Escritura Ele se oculta sob o véu da linguagem. Na encarnação,
Deus se oculta na “baixeza da natureza humana”; na Escritura, oculta-se na baixeza
da linguagem humana”.
A
natureza sacramental da Palavra de Deus é mostrada na ocasião em que de maneira
visível opera além da compreensão do ouvinte, que pode ser limitada e imperfeita;
ela opera praticamente por conta própria. Quando o profeta Elias foi curar
Naamã, o Sírio, de lepra, mandou que se lavasse sete vezes no Jordão, e Naamã
respondeu irritado: “Não são os rios de Damasco, o Abana e o Farfar, melhores
do que todas as águas de Israel? Não poderia eu lavar-me neles para ficar
purificado?” (2 Rs 5, 12).
Naamã
estava certo: os rios da Síria eram inquestionavelmente melhores e abundantes;
contudo, ao lavar-se no Jordão ele foi curado e sua carne tornou-se como a de
um garotinho, algo que jamais teria acontecido se tivesse se lavado nos grandes
rios de seu país.
Assim
é com a Palavra de Deus contida nas Escrituras. No mundo e até mesmo dentro da
Igreja, houve e haverá livros melhores do que alguns na Bíblia – de um refinamento
literário maior e, religiosamente falando, mais edificantes (basta mencionar a Imitação de Cristo); todavia, nenhum
desses produz o efeito que o mais modesto dos livros inspirados produz.
Nas
palavras da Escritura há algo que está acima e além de qualquer explicação humana;
há uma óbvia desproporção entre o sinal e a realidade produzida por isso, que
de fato nos faz pensar na maneira como os sacramentos atuam. “As águas de
Israel”, as Escrituras divinamente inspiradas, ainda curam a lepra do pecado de
hoje. Tendo sido lida a passagem do Evangelho na Missa, a Igreja convida o
ministro a beijar o livro e a dizer: “Que as palavras do Evangelho possam
apagar os nossos pecados!”
Em
Relatos de um Peregrino Russo, lemos
a respeito de muitas pessoas curadas do vício da bebida, graças à resolução de
ler um capítulo do Evangelho toda vez que sentiam vir uma necessidade
compulsiva por um drinque...
Ao
recomendar essa prática, um monge disse: “Nas mesmas palavras do Evangelho há
um poder de dar a vida, pois nelas está escrito o que Deus mesmo pronunciou. Não
se preocupe se você não entender apropriadamente; é suficiente se você as ler
atentamente. Se você não entende a Palavra de Deus, os demônios com certeza
entendem o que você está lendo e eles tremem” (Relatos de um Peregrino Russo2).
Fonte: O Mistério da
Palavra de Deus, por Frei Raniero Cantalamessa, O.F.M., Edições Shalom
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