quinta-feira, 8 de agosto de 2013

UM POUCO DE SÃO DOMINGOS, POR CHESTERTON




"Em 1215, Domingos Guzmán, o castelhano, fundou uma Ordem bem parecida com a de São Francisco; e, graças a uma enorme coincidência da história, quase exatamente no mesmo momento em que São Francisco fundara a sua. A Ordem se dedicava essencialmente a pregar a filosofia católica aos hereges albigenses, cuja filosofia era uma das formas daquele maniqueísmo com o qual esta história tem muita relação. A origem dessa filosofia é o remoto misticismo e o desapego moral do Oriente; e era portanto inevitável que os dominicanos fossem mais uma irmandade de filósofos enquanto os franciscanos eram em comparação uma irmandade de poetas. Por essas e por outras razões, São Domingos e seus seguidores são pouco conhecidos ou compreendidos na Inglaterra moderna. Eles acabaram por se envolver numa guerra religiosa que veio de uma discussão teológica, e havia algo na atmosfera inglesa, mais ou menos ao longo do século XIX, que tornou a discussão teológica ainda mais incompreensível do que a guerra religiosa. O efeito último é em alguns aspectos curioso, porque São Domingos, ainda mais do que São Francisco, foi marcado pela independência intelectual e pelo padrão estrito de virtude e de veracidade que as culturas protestantes tendem a considerar como especialmente protestante. Há uma história a respeito de São Domingos, que seria bem mais contada na Inglaterra se tivesse sido atribuída a um puritano, segundo a qual o papa apontou seu maravilhoso Palácio Pontifício e disse: 'Pedro já não pode dizer: 'De prata e ouro não disponho'', e o frade espanhol respondeu: 'Não, e tampouco pode dizer agora: 'Levanta-te e anda''."
 
 (Gilbert Keith Chesterton, "Santo Tomás de Aquino")

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