Primavera de 1995. Papai Vittorio não
tem vontade de acompanhar sua mulher a Medjugorje. Ele prefere seu jardim.
Deve-se admitir que a piedosa Ginette, desde sua primeira peregrinação, um ano
antes, não para de pressioná-lo para que vá converter-se aos pés da Gospa.
Enquanto ele resmunga – “Eu, me converter? E o que mais você quer? –, Ginette,
muito empreendedora, descobre uma casa à venda, menor e, portanto, mais prática
para os dois, que agora são aposentados. Por que não mudar?
Abandonar seu jardim tão amado? É a pior
coisa que lhe poderia acontecer. Ele acaba cedendo à chantagem de Ginetta: “Se
você vier em peregrinação comigo, prometo que não nos mudamos”. O seu jardim bem
que vale um sacrifício! De bom ou mau grado (mau, na verdade), ele aceita
partir com ela em peregrinação. Mas que peregrinação! Na Bósnia-Herzegovina!
– Temos aqui mesmo Lourdes,
Paray-le-Monial, Lisieux... Que necessidade há de ir à Bósnia-Herzegovina? Por
que não ao Cazaquistão Oriental ou à Sierra Nevada, por exemplo?
Corajosamente, acaba embarcando com um
grupo de peregrinos da cidade de Nantes (França) num ônibus-leito. Por sorte, o
guia é compreensivo e cheio de humor, não os chateia com devoções sem fim. Ele
conhece bem o seu público: não pode haver muita oração e muito jejum na ida,
pois frequentemente há pessoas como o Papai Vittorio e ele sabe que a Gospa tem
outras cartas na mão para conquistar seus corações. Chegando ao local, o papai
se posiciona sempre um pouco atrás e observa o desenrolar das operações,
fazendo de vez em quando uma pequena reflexão para ser notado e para provocar
as reações do pessoal. Mas segue o grupo por toda parte e participa, sem reclamar
muito, das missas cotidianas, rosário, vias-sacras, visitas aos videntes e até
mesmo da subida à Colina das Aparições no último dia.
Ginette está surpresa, pois tinha
receado o pior. Melhor assim; parece que a Virgem está atendendo suas orações.
Antes da partida de volta, Ginette fica um pouco perplexa: Papai Vittorio está
esquisito, diferente... e, inesperadamente, diz à sua mulher, que fica perplexa:
“Eu quero voltar o ano que vem!”
Aí tem coisa! Ginette espreita, observa,
esquadrinha, espera, vigia... não ousa fazer perguntas, apesar da coceira na
língua. Apenas chegado em casa, Papai Vittorio pega o telefone e convoca seus
filhos para o domingo seguinte: anuncia que tem uma declaração a fazer quando
estiverem todos reunidos.
Ao que parece, Ginette não tem o direito
de conhecer o segredo antes do momento em que seus filhos estiverem ao redor do
pai. Passam por sua cabeça todas as hipóteses possíveis e fica cada vez mais
perplexa, ainda mais que o papai está transformado: ele já não lhe retruca mais
pelas mínimas coisas, está pensativo, silencioso, nem mesmo seu jardim tem mais
tanta importância para ele. Com certeza está maquinando alguma coisa.
Ginette não entende mais nada. Ela, que
no seio da família sempre se sentira investida do “ministério da palavra”, cala-se,
dizendo: “O que será que ele tem de tão importante para contar aos filhos?”
Nada mais está como era antes. Ela
confidencia a uma amiga: “O que será que fizemos ao bom Deus para merecer tudo isso?”;
e chora o dia inteiro.
– Mas por quê? – pergunta a amiga, não
correu tudo bem na peregrinação?
– Certamente que sim... bem demais!
E explica que, desta vez, é de alegria e
de reconhecimento que está chorando.
Os vizinhos perguntam:
– O que aconteceu com seu marido? Está
irreconhecível!
Até a netinha de 7 anos, esperta como
ninguém, tranca o vovô num quarto e pergunta com a maior seriedade: “Vô, fala só
pra mim... o que há com você? Você está doente? Está diferente...”
Na refeição também tudo mudou. Papai
Vittorio nunca tinha fome, não comia nenhum alimento sólido, rejeitava o menor
bocado, só tomava líquidos. Agora o seu apetite tinha voltado e ele devora tudo
que sua mulher, radiante, prepara para ele.
E além disso, sobretudo ele, que até
então vivia recluso no isolamento de seu jardim, começa a oferecer-se para
levar a mulher aqui ou ali, quando surge a ocasião, “se com isso ele lhe puder
ser útil”.
Uma manhã, ao acordar, Ginette lhe
pergunta:
– Vittorio, o que está acontecendo?
Antigamente, passávamos o dia brigando, agora não o fazemos mais! Afinal de
contas, o que você tem de tão importante a dizer aos nossos filhos?
O que Papai Vittorio tem a dizer aos
filhos é a pedra angular de sua incrível transformação.
Deve-se, primeiro, esclarecer que dois
anos antes a família tinha sido sacudida, abalada, como que partida em
consequência de uma grande infelicidade. Cada um dos membros da família havia
sentido seu coração quase destruído pela dor. Um dos filhos de Vitor e Ginette,
Guy, de 30 anos e pai de uma menininha, morrera num terrível acidente.
Papai Vittorio explica à sua mulher:
– Você se lembra, em Medjugorje, naquele
último dia, quando estávamos na Colina das Aparições? Eu, como sempre,
estava atrás. De repente, vi subir da aldeia, no vale, uma pequena nuvem com
bordas resplandecentes, tão resplandecentes que eu não conseguia tirar os olhos
dela. Em volta, não havia nada no céu. Você se lembra? O tempo estava
magnífico. E, aos poucos, essa nuvem subiu até mim, na Colina. Para minha grande
surpresa, ela parou a cerca de um metro do solo, bem ali na minha frente. Dentro
da nuvem havia duas pessoas, ou melhor, um vulto e uma pessoa. Eu não vi o rosto
do vulto... e não me pergunte quem podia ser, porque não sei. Mas a segunda
pessoa, com uma roupa que parecia um véu branco, era... era...
Papai Vittorio desaba, as lágrimas o
impedem de continuar. Mas a mamãe já tinha entendido, e Papai Vittorio confirma
baixinho:
– Era Guy, nosso filho! Vivo e bem! E até
falou comigo! Ele disse: “Papai, sou seu filho Guy, que não se esquece de você.
Sou feliz. Diga a todos que rezem pela paz, sobretudo ao meu irmão, às minhas
irmãs e à minha filha”. Vi que seus pés não tocavam no chão. Depois que Guy
falou comigo, a nuvem elevou-se e voltou em direção ao céu.
Pronto! Papai Vittorio revelou seu
segredo...
– Por que você não me contou logo –
pergunta Ginette, perturbada até o fundo da alma.
– Mas você iria achar que eu estava
louco!
No domingo seguinte, os filhos, por sua
vez, ouviam a mensagem enviada pelo céu. Todos ficaram transtornados. A
mensagem atingia ainda melhor o seu alvo por vir do vovô, aquele incrédulo,
aquele resmungão!
Quanto à mamãe Ginette, atendida em suas
súplicas além de toda expectativa, continua dizendo a cada dia:
– Meu Deus, o que fizemos para merecer
tamanha graça?!
Fonte: Medjugorje il trionfo del Cuore (Medjugorje, anos 90), por Ir.
Emmanuel.
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