quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Papai Vittorio está escondendo alguma coisa de nós


Primavera de 1995. Papai Vittorio não tem vontade de acompanhar sua mulher a Medjugorje. Ele prefere seu jardim. Deve-se admitir que a piedosa Ginette, desde sua primeira peregrinação, um ano antes, não para de pressioná-lo para que vá converter-se aos pés da Gospa. Enquanto ele resmunga – “Eu, me converter? E o que mais você quer? –, Ginette, muito empreendedora, descobre uma casa à venda, menor e, portanto, mais prática para os dois, que agora são aposentados. Por que não mudar?
Abandonar seu jardim tão amado? É a pior coisa que lhe poderia acontecer. Ele acaba cedendo à chantagem de Ginetta: “Se você vier em peregrinação comigo, prometo que não nos mudamos”. O seu jardim bem que vale um sacrifício! De bom ou mau grado (mau, na verdade), ele aceita partir com ela em peregrinação. Mas que peregrinação! Na Bósnia-Herzegovina!
– Temos aqui mesmo Lourdes, Paray-le-Monial, Lisieux... Que necessidade há de ir à Bósnia-Herzegovina? Por que não ao Cazaquistão Oriental ou à Sierra Nevada, por exemplo?
Corajosamente, acaba embarcando com um grupo de peregrinos da cidade de Nantes (França) num ônibus-leito. Por sorte, o guia é compreensivo e cheio de humor, não os chateia com devoções sem fim. Ele conhece bem o seu público: não pode haver muita oração e muito jejum na ida, pois frequentemente há pessoas como o Papai Vittorio e ele sabe que a Gospa tem outras cartas na mão para conquistar seus corações. Chegando ao local, o papai se posiciona sempre um pouco atrás e observa o desenrolar das operações, fazendo de vez em quando uma pequena reflexão para ser notado e para provocar as reações do pessoal. Mas segue o grupo por toda parte e participa, sem reclamar muito, das missas cotidianas, rosário, vias-sacras, visitas aos videntes e até mesmo da subida à Colina das Aparições no último dia.
Ginette está surpresa, pois tinha receado o pior. Melhor assim; parece que a Virgem está atendendo suas orações. Antes da partida de volta, Ginette fica um pouco perplexa: Papai Vittorio está esquisito, diferente... e, inesperadamente, diz à sua mulher, que fica perplexa: “Eu quero voltar o ano que vem!”
Aí tem coisa! Ginette espreita, observa, esquadrinha, espera, vigia... não ousa fazer perguntas, apesar da coceira na língua. Apenas chegado em casa, Papai Vittorio pega o telefone e convoca seus filhos para o domingo seguinte: anuncia que tem uma declaração a fazer quando estiverem todos reunidos.
Ao que parece, Ginette não tem o direito de conhecer o segredo antes do momento em que seus filhos estiverem ao redor do pai. Passam por sua cabeça todas as hipóteses possíveis e fica cada vez mais perplexa, ainda mais que o papai está transformado: ele já não lhe retruca mais pelas mínimas coisas, está pensativo, silencioso, nem mesmo seu jardim tem mais tanta importância para ele. Com certeza está maquinando alguma coisa.
Ginette não entende mais nada. Ela, que no seio da família sempre se sentira investida do “ministério da palavra”, cala-se, dizendo: “O que será que ele tem de tão importante para contar aos filhos?”
Nada  mais está como era antes. Ela confidencia a uma amiga: “O que será que fizemos ao bom Deus para merecer tudo isso?”; e chora o dia inteiro.
– Mas por quê? – pergunta a amiga, não correu tudo bem na peregrinação?
– Certamente que sim... bem demais!
E explica que, desta vez, é de alegria e de reconhecimento que está chorando.
Os vizinhos perguntam:
– O que aconteceu com seu marido? Está irreconhecível!
Até a netinha de 7 anos, esperta como ninguém, tranca o vovô num quarto e pergunta com a maior seriedade: “Vô, fala só pra mim... o que há com você? Você está doente? Está diferente...”
Na refeição também tudo mudou. Papai Vittorio nunca tinha fome, não comia nenhum alimento sólido, rejeitava o menor bocado, só tomava líquidos. Agora o seu apetite tinha voltado e ele devora tudo que sua mulher, radiante, prepara para ele.
E além disso, sobretudo ele, que até então vivia recluso no isolamento de seu jardim, começa a oferecer-se para levar a mulher aqui ou ali, quando surge a ocasião, “se com isso ele lhe puder ser útil”.
Uma manhã, ao acordar, Ginette lhe pergunta:
– Vittorio, o que está acontecendo? Antigamente, passávamos o dia brigando, agora não o fazemos mais! Afinal de contas, o que você tem de tão importante a dizer aos nossos filhos?
O que Papai Vittorio tem a dizer aos filhos é a pedra angular de sua incrível transformação.
Deve-se, primeiro, esclarecer que dois anos antes a família tinha sido sacudida, abalada, como que partida em consequência de uma grande infelicidade. Cada um dos membros da família havia sentido seu coração quase destruído pela dor. Um dos filhos de Vitor e Ginette, Guy, de 30 anos e pai de uma menininha, morrera num terrível acidente.
Papai Vittorio explica à sua mulher:
– Você se lembra, em Medjugorje, naquele último dia, quando estávamos na Colina das Aparições? Eu, como sempre, estava atrás. De repente, vi subir da aldeia, no vale, uma pequena nuvem com bordas resplandecentes, tão resplandecentes que eu não conseguia tirar os olhos dela. Em volta, não havia nada no céu. Você se lembra? O tempo estava magnífico. E, aos poucos, essa nuvem subiu até mim, na Colina. Para minha grande surpresa, ela parou a cerca de um metro do solo, bem ali na minha frente. Dentro da nuvem havia duas pessoas, ou melhor, um vulto e uma pessoa. Eu não vi o rosto do vulto... e não me pergunte quem podia ser, porque não sei. Mas a segunda pessoa, com uma roupa que parecia um véu branco, era... era...
Papai Vittorio desaba, as lágrimas o impedem de continuar. Mas a mamãe já tinha entendido, e Papai Vittorio confirma baixinho:
– Era Guy, nosso filho! Vivo e bem! E até falou comigo! Ele disse: “Papai, sou seu filho Guy, que não se esquece de você. Sou feliz. Diga a todos que rezem pela paz, sobretudo ao meu irmão, às minhas irmãs e à minha filha”. Vi que seus pés não tocavam no chão. Depois que Guy falou comigo, a nuvem elevou-se e voltou em direção ao céu.
Pronto! Papai Vittorio revelou seu segredo...
– Por que você não me contou logo – pergunta Ginette, perturbada até o fundo da alma.
– Mas você iria achar que eu estava louco!
No domingo seguinte, os filhos, por sua vez, ouviam a mensagem enviada pelo céu. Todos ficaram transtornados. A mensagem atingia ainda melhor o seu alvo por vir do vovô, aquele incrédulo, aquele resmungão!
Quanto à mamãe Ginette, atendida em suas súplicas além de toda expectativa, continua dizendo a cada dia:
– Meu Deus, o que fizemos para merecer tamanha graça?!


Fonte: Medjugorje il trionfo del Cuore (Medjugorje, anos 90), por Ir. Emmanuel.

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