POR QUE DEUS PERMITE QUE AS ALMAS DO PURGATÓRIO APAREÇAM?
Algumas pessoas se perguntam se é possível Deus permitir que
os mortos apareçam aos vivos. E, embora tudo seja possível à sua bondade,
porque permite que coisas tão extraordinárias aconteçam. Não é para satisfazer
nossa curiosidade! Se, pela misericórdia de Deus, acontecem fatos
extraordinários, é sempre de acordo com o plano divino da salvação. Esse é o
ponto de vista em que devemos nos colocar para avaliar os acontecimentos: para
todos nós devem ser de proveito espiritual; para os mortos são uma grande
consolação, porque, por meio deles, são libertados mais depressa de seu
sofrimento. Esses fatos devem nos levar a rezar mais pelas almas do purgatório,
a oferecer mais sacrifício por elas e a não nos apegar tanto ao que é terreno
durante a nossa vida.
O grande perigo, hoje em dia, é que a vida está boa demais
para as pessoas. Precisamos preocupar-nos mais com a vida eterna, pois esta
dura para sempre. Que o nosso coração não se apegue tanto às coisas temporais:
das coisas passageiras nada podemos levar. Grandes bens, negócios, casa bonita
– isso tudo passa e talvez mais depressa do que pensamos; só podemos levar
nossas boas obras. Sem dúvida, precisamos dos bens materiais para viver, mas
não devemos colocar neles nosso coração, aí está a questão. Esse é o sentido e
a finalidade dessas aparições das almas do purgatório e de qualquer outra
revelação particular. É por essa única razão que Deus permite esses contatos
sobrenaturais. Queira Deus, bom e misericordioso, dar-nos sua bênção e suas
graças para delas tirarmos proveito. Os caminhos de Deus são maravilhosos e
insondáveis.
Um grande pecador pode tornar-se um grande santo, como prova
o exemplo de santo Agostinho. Um Saulo se tornou de repente Paulo.
DEVEMOS TORNAR CONHECIDOS ESSES CASOS OU SILENCIÁ-LOS?
“Por que as almas do purgatório se dirigem justamente à
senhora?”, perguntam-me com frequência. Com certeza, não é pela minha piedade.
Há pessoas muito mais piedosas que eu. No entanto, não é a elas que as almas se
dirigem. Acontecimentos sobrenaturais não são “termômetros de santidade”; a
pedra de toque da perfeição é ainda, e permanece, o amor, amor verdadeiro e
desinteressado a Deus e ao próximo: sofrer por amor aos outros imitando o
Cristo. Sem cruz e sofrimento não podemos passar por esse mundo. Uma alma do
purgatório me disse, certa vez: “O sofrimento mais eficaz é aquele que
suportamos com paciência e oferecemos, depositando-o nas mãos da Mãe de Deus,
para que ela o utilize em benefício de quem quiser, pois ela sabe onde é mais
útil e mais necessário”.
Está claro que é muito mais fácil recomendarmos a uma pessoa
que sofra com paciência do que suportarmos, nós mesmos, o sofrimento com
coragem. Sei muito bem o que é sofrer, mas justamente por ser difícil é que o
sofrimento tem tanto valor. Não saberia dizer por que razão as almas do
purgatório se dirigem justamente a mim. Certamente, podem dirigir-se também a
outras pessoas. Conheci, no Vorarlberg, duas pessoas, aliás, já falecidas, às
quais elas se dirigiam. Com certeza, hoje ainda há muitas outras às quais as
pobres almas vêm solicitar ajuda, mas que são conhecidas por poucas pessoas. A
missão delas é bem diferente da minha.
Seria muito mais fácil manter essas coisas secretas do que
torná-las públicas e tomar seu partido, porque encontramos tanta incompreensão
e desprezo. Mas, os caminhos de Deus são insondáveis, é preciso grande
humildade para conhecê-los e é justamente o que, tantas vezes, falta hoje em
dia.
PRIMEIRAS APARIÇÕES
Desde a infância tive grande amor pelas almas do purgatório.
E minha mãe também lhes dava muito valor e nos repetia sempre:
“Quando tiverem um pedido importante, dirijam-se às almas,
são as ajudantes mais reconhecidas”.
No ano de 1940, pela primeira vez, me apareceu uma alma.
Acordei à noite com alguém indo e vindo em meu quarto. Olhei
para ver quem poderia estar ali. Nunca fui medrosa. Seria mais fácil pular em
cima de uma pessoa do que ter medo. Vi então, em meu quarto, um estranho
andando lentamente de um lado para o outro. Tratei-o com dureza: “Como entrou
aqui, o que está procurando?”
Fez como se nada tivesse ouvido e continuou andando de um
lado para o outro. “Quem é você?”, perguntei, e como não obtivesse resposta,
pulei da cama e quis agarrá-lo. Peguei o ar, não havia nada ali.
Fui para a cama e novamente o vi e ouvi, andando de um lado
para o outro. "Agora estou bem acordada", pensei, "vejo e ouço
esse homem, por que não posso agarrá-lo?" Mais uma vez levantei-me;
aproximei-me lentamente dele, quis pegá-lo e novamente peguei no vazio. Não
havia simplesmente nada ali. Dessa vez, comecei a sentir uma certa inquietação.
Deitei-me de novo, eram mais ou menos 4 horas da manhã; não voltou mais, mas
não consegui mais pegar no sono.
Depois da missa, fui falar com meu diretor espiritual e
contei-lhe tudo.
“Se isso lhe acontecer novamente”, instruiu-me com poucas
palavras, “não pergunte quem é você, mas o que quer de mim?”. Na noite
seguinte, ele voltou: era o mesmo homem da véspera. Perguntei então: “O que
quer de mim?”. Dessa vez, respondeu: “Mande celebrar três missas por mim e
estarei salvo!” Percebi então que devia ser uma alma do purgatório. Contei ao
meu confessor, que o confirmou. De 1940 a 1953 vieram duas a três almas por
ano, principalmente no mês de novembro. Não vi nisso nenhuma missão especial.
Contei ao vigário da região, Alfonse Matt, que também era meu diretor
espiritual. Ele me aconselhou a nunca rejeitar uma alma e tudo aceitar de boa
vontade.
EXPIAR POR OUTRAS ALMAS
Finalmente, as almas me pediram para sofrer por elas. Foram
sofrimentos pesados. Quando vem uma alma, acorda-me batendo na porta,
chamando-me ou puxando-me, e assim por diante. Pergunto-lhe imediatamente: “O
que quer?” ou “O que devo fazer por você?”. Só então pode explicar-me o que lhe
falta.
Assim perguntou-me uma alma: “Você poderia sofrer por mim?”
Pareceu-me estranho, pois até então nenhuma alma me havia pedido tal coisa.
Perguntei-lhe então: “Sim, mas o que devo fazer?” Respondeu: “Durante três
horas sentirá fortes dores no corpo inteiro, porém, depois dessas três horas,
pode levantar-se e continuar seu trabalho como se nada tivesse acontecido. Você
pode assim poupar-me 20 anos de purgatório”. Portanto, aceitei. Abateram-se
sobre mim tais dores que quase não sabia mais onde estava, embora continuasse
consciente de ter aceitado expiação por uma alma e de que esses sofrimentos
deviam durar três horas. Parecia-me que essas horas há muito já haviam passado
e que, na verdade, tratavam-se de mais de três dias, senão de três semanas.
Quando tudo terminou, verifiquei que realmente haviam sido três horas. Muitas
vezes tive que sofrer apenas cinco minutos, mas como esse tempo me pareceu
longo!
Fonte: “Maria Simma, Segredos revelados pelas almas do
Purgatório”, Associação Maria Porta do Céu.
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