A RIQUEZA DOS POBRES
Dom Fernando Arêas
Rifan*
Em
nosso último artigo falamos sobre a Igreja dos pobres. Agora
falemos da sua
riqueza. A riqueza dos pobres é a Igreja, sua rica doutrina
e sua liturgia. As
igrejas, os templos sagrados, são a casa dos pobres. Lá eles
podem entrar sem
serem impedidos. Lá eles podem se sentir bem, contemplar
belas pinturas e
arquiteturas, vasos sagrados, esplêndidas imagens, como não
poderiam fazer em
nenhuma outra casa ou palácio. Ali eles podem, pois é a casa
deles.
A
pobreza pessoal,
que devemos cultivar, não significa que devemos empobrecer a
liturgia. Pelo
contrário, a beleza exterior da liturgia deve refletir a
glória de Deus, como
nos ensina o Papa Francisco: “As vestes
sagradas do Sumo Sacerdote são ricas de simbolismos; um
deles é o dos nomes dos
filhos de Israel gravados nas pedras de ónix que adornavam
as ombreiras do efod,
do qual provém a nossa casula atual...” “beleza de tudo o
que é litúrgico, que
não se reduz ao adorno e bom gosto dos paramentos, mas é
presença da glória do
nosso Deus que resplandece no seu povo vivo e consolado”.
(Hom. Missa Crismal,
28/3/2013).
O
Santo Cura d’Ars, São João Maria Vianney, exemplo para todos
os padres, amava a
pobreza pessoal e os pobres. “Uma batina velha fica muito
bem debaixo duma casula
bonita”, dizia ele. Ao lado da sua pobreza individual, não
media esforços em
adquirir o que havia de mais rico e suntuoso para a casa de
Deus e as
cerimônias litúrgicas. Ele dizia que se os palácios dos reis
são embelezados
pela magnificência, com maior razão as Igrejas.
Quando
Cardeal, o Papa Bento
XVI, lamentando a atual
crise litúrgica, comentava: “Depois do Concílio, muitos
padres deliberadamente
erigiram a dessacralização como um programa de ação,
argumentando que o novo
testamento aboliu o culto do templo; o véu do templo, que se
rasgou de alto a
baixo no momento da morte de Cristo sobre a cruz, seria,
para alguns, o sinal
do fim do sagrado... Animados por tais ideias, eles
rejeitaram as vestes
sagradas; tanto quanto puderam, eles despojaram as igrejas
dos seus
resplendores que lembram o sagrado; e eles reduziram a
liturgia à linguagem e
aos gestos da vida de todos os dias, por meio de saudações,
de sinais de
amizade e outros elementos” (Conferência aos Bispos
chilenos, Santiago,
13/7/1988).
Falando
sobre essa beleza
da liturgia e respondendo às “acusações de ‘triunfalismo’, em
nome das quais se
jogou fora, com excessiva facilidade, muito da antiga
solenidade litúrgica”, o
então Cardeal Ratzinger explicava: “Não é triunfalismo, de
forma alguma, a
solenidade do culto com que a Igreja exprime a beleza de Deus,
a alegria da fé,
a vitória da verdade e da luz sobre o erro e as trevas. A
riqueza litúrgica não
é riqueza de uma casta sacerdotal; é riqueza de todos, também
dos pobres,
que, com efeito, a desejam e não se escandalizam
absolutamente com ela.
Toda a história da piedade popular mostra que mesmo os mais
desprovidos sempre
estiveram dispostos instintiva e espontaneamente a privar-se
até mesmo do
necessário, a fim de honrar, com a beleza, sem nenhuma
avareza, ao seu Senhor e
Deus” (Rapporto sulla Fede, 1985).
*Bispo da
Administração Apostólica
Pessoal
São João Maria Vianney.
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