Queridos irmãos, queridas irmãs, a paz! A Ir. Lúcia, de Fátima, escreveu suas memórias, em obediência a seu bispo, D. José Alves Correia da Silva. Gostaria de compartilhar hoje com vocês o que, a pedido do mesmo bispo, ela registrou sobre tudo que se lembrava de sua priminha Jacinta. Lúcia, Francisco e Jacinta foram os três pastorzinhos que receberam as aparições de Nossa Senhora de Fátima.
Jacinta era, a princípio, uma criança como qualquer outra, que queria ter suas vontades atendidas e, quando não o conseguia, “ficava a prender o burrinho”, por ter “um caráter demasiado melindroso”, como relata sua prima. Agora, irmãos, vamos acompanhar a transformação que se operou em seu interior a partir das visões que teve de Nossa Senhora.
Começo, porém, relatando um episódio acontecido antes das aparições, para atestar que Jacinta já tinha então (ou seja, antes das aparições), “um coração muito bem inclinado, e o bom Deus tinha-a dotado dum carácter doce e meigo que a tornava, ao mesmo tempo, amável e atraente”. Todas as transcrições serão feitas literalmente, da forma registrada por Ir. Lúcia, para maior fidelidade ao seu pensamento:
Certa ocasião, em que os três pastorzinhos estavam brincando de prendas, Lúcia mandou Jacinta pagar uma prenda, indo abraçar e beijar seu primo (irmão de Lúcia), que estava sentado à uma mesa, escrevendo, mas Jacinta respondeu:
– Isso, não! Manda-me outra coisa. Por que não me mandas beijar aquele Nosso Senhora que está ali? (era um crucifixo que havia pendurado na parede).
– Pois sim – respondi. – Sobes acima duma cadeira, trá-lo para aqui e, de joelhos, dás-lhe três abraços e três beijos: um pelo Francisco, outro por mim e outro por ti.
– A Nosso Senhor dou todos quantos quiseres.
E correu a buscar o crucifixo. Beijou-o e abraçou-o com tanta devoção, que nunca mais me esqueceu aquela acção. Depois, olha com atenção para Nosso Senhor e pergunta:
– Por que está Nosso Senhor assim pregado numa cruz?
– Porque morreu por nós.
– Conta-me como foi.
Chegou o tempo em que os três passaram a guardar o rebanho. Relata Lúcia:
Tinham-nos recomendado que, depois da merenda rezássemos o Terço; mas, como todo o tempo nos parecia pouco, para brincar, arranjámos uma boa maneira de acabar breve: passávamos as contas, dizendo somente: Ave Maria, Ave Maria, Ave Maria! Quando chegávamos ao fim do mistério, dizíamos, com muita pausa, a simples palavra: Padre Nosso! E assim, em um abrir e fechar de olhos, como se costuma dizer, tínhamos o nosso Terço rezado!
A Jacinta gostava também muito de agarrar os cordeirinhos brancos, sentar-se com eles no colo, abraçá-los, beijá-los e, à noite, trazê-los ao colo para casa, para que não se cansassem. Um dia, ao voltar para casa, meteu-se no meio do rebanho.
– Jacinta – perguntei-lhe – para que vais aí, no meio das ovelhas?
– Para fazer como Nosso Senhor que, naquele santinho que me deram, também está assim, no meio de muitas e com uma ao colo.
Chegamos agora, irmãos, ao dia 13 de maio de 1917. Jacinta tinha 7 anos quando iniciou o novo período da vida da Jacinta.
Após a primeira aparição de Nossa Senhora, conta Lúcia que:
Quando, nesse dia, chegámos à pastagem, a Jacinta sentou-se pensativa, em uma pedra.
– Jacinta! Anda brincar!
– Hoje não quero brincar.
– Por que não queres brincar?
– Porque estou a pensar. Aquela Senhora disse-nos para rezarmos o Terço e fazermos sacrifícios pela conversão dos pecadores. Agora, quando rezamos o Terço, temos que rezar a Ave Maria e o Padre Nosso inteiro. E os sacrifícios como os havemos de fazer?
O Francisco discorreu em breve um bom sacrifício:
– Demos a nossa merenda às ovelhas e fazemos o sacrifício de não merendar!
Em poucos minutos, estava todo o nosso farnel distribuído pelo rebanho. E assim passámos um dia de jejum, que nem o do mais austero cartuxo! A Jacinta continuava sentada na sua pedra, com ar de pensativa e perguntou:
– Aquela Senhora disse também que iam muitas almas para o inferno. E o que é o inferno?
– É uma cova de bichos e uma fogueira muito grande (assim mo explicava minha mãe) e vai para lá quem faz pecados e não se confessa e fica lá sempre a arder.
– E nunca mais de lá sai?
– Não.
– E depois de muitos, muitos anos?!
– Não; o inferno nunca acaba. E o Céu também não. Quem vai para o Céu nunca mais de lá sai. E quem vai para o inferno também não. Não vês que são eternos, que nunca acabam?
Fizemos, então, pela primeira vez, a meditação do inferno e da eternidade. O que mais impressionou a Jacinta foi a eternidade. Mesmo brincando, de vez em quando, perguntava:
– Mas, olha. Então, depois de muitos, muitos anos, o inferno ainda não acaba?
Outras vezes:
– E aquela gente que lá está a arder não morre? E não se faz em cinza? (E agora, irmãos, vejam como Jacinta, aos 7 anos, já tinha absorvido em seu coração o que a Gospa nos pede hoje com tanta insistência: a oração pela conversão dos pecadores): E se a gente rezar muito por os pecadores, Nosso Senhor livra-os de irem para lá? E com os sacrifícios também? Coitadinhos! Havemos de rezar e fazer muitos sacrifícios por eles!
Depois acrescentava:
– Que boa é aquela Senhora! Já nos prometeu levar para o Céu!
Irmãos, Lúcia ainda acrescenta que “a Jacinta tomou tanto a peito os sacrifícios pela conversão dos pecadores, que não deixava escapar ocasião alguma”. Mas isso nós veremos na semana que vem. Que Nossa Senhora a todos nos abençoe!
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