As olimpíadas são a reunião de vários espetáculos criados pelos participantes das diversas modalidades esportivas. Dom Fernando Arêas Rifan, em seu artigo para a Folha, da quarta-feira, 1º de agosto, refere que o Beato João Paulo II via no desporto “instrumento significativo para o desenvolvimento global da pessoa e fator muito útil para a construção de uma sociedade mais humana”. O Papa Bento XVI considera que as Olimpíadas são “o maior acontecimento esportivo mundial, nas quais participam atletas de muitas nações, revestindo-se assim de um alto valor simbólico” e as que se realizam atualmente em Londres, que elas sejam, segundo a vontade de Deus, “uma verdadeira experiência de fraternidade entre os povos da Terra”.
É razoável considerar que os jogos são como que teatralizações dos esforços que o homem faz, ao longo da História, para superar obstáculos naturais e humanos. Este parece ser o sentido das denominações “atletismo” e “esporte”, representadas por práticas onde saber o que o outro faz é de pouca ou nula ajuda ou, ao contrário, de muita ajuda. Assim, ajuda muito pouco ao atleta que levanta pesos saber quanto seu concorrente levantou; o mesmo vale para o que salta, para o que nada, o que lança flechas e assim por diante. Bem diferente é o caso para o enxadrista, o boxer, o jogador de futebol, vôlei, basquete, etc.: estudar o adversário aqui possui a maior importância.
Em ambos os casos, vale a regra do sacrifício: seja atleta, seja desportista, aquele que não controle como convém o próprio corpo e o aprimore, sai-se mal, o que também vale para a alma, que também exige disciplina. Por esta razão, compreende-se que não há vocação humana incapaz de se encaixar como necessária no contexto profissional dos jogos. Porque o atleta, figura principal, necessita de médico e preparador físico; há necessidade de divulgação de seus feitos e malfeitos que sirvam de exemplo e ensinamento para as crianças e jovens; há necessidade de quem lhe dê suporte psicológico; é necessário que haja quem o instrua e o ensine a aperfeiçoar-se ao longo do tempo; é necessária a presença de quem o ajude a administrar o tempo de execução de tarefas e a cuidar adequadamente do material de que faz uso; é necessário que escolha companhias saudáveis para o convívio social, e assim por diante. Para tudo isso e demais coisas que contextualizam a vida do atleta, é necessária a presença de pessoas vocacionadas aos indispensáveis ofícios de suporte logístico, físico e psicológico. O que significa dizer que a Olimpíada é um acontecimento que simboliza a presença de todas as vocações naturais do homem.
A esse quadro o Cristianismo soma sua virtude própria, razão do apoio que lhe tem dado os Papas ao longo da História, que vêm nos jogos uma boa ocasião para o desenvolvimento das virtudes capazes de habilitar o homem a criar sociedades mais humanas e fraternas. Pois não se pode esquecer que, na Grécia, cuja marcação do tempo girava em torno dos jogos olímpicos, perder em muitos casos significava morrer. Os espetáculos daquela época eram enormemente sangrentos, conforme narra Santo Agostinho em suas “Confissões”.
No artigo do citado bispo também lemos: “O Barão Pedro de Coubertin, renovador dos Jogos Olímpicos da atualidade, cuja iniciativa foi encorajada pelo Papa São Pio X, assim escreve: “A Idade Média conheceu um espírito desportivo de intensidade e vigor provavelmente superiores aos que conheceu a própria antiguidade grega”. Ele atribui isso à influência primordial da religião que criou uma atmosfera das mais favoráveis à eclosão e desenvolvimento do espírito cavalheiresco que consiste na “lealdade praticada sem hesitação” (Pierre de Coubertin, La Pédagogie Sportive). O Cristianismo tem, pois, grande influência no jogo limpo, no “fair-play”.
Vale considerar que as virtudes da prática do esporte são, dentre outras, o sentido de hierarquia, fraternidade, amizade, autodisciplina e outras semelhantes, que muito convêm a todo indivíduo. Virtudes essas que têm sido enfraquecidas em resultado do ataque à família, sua primeira e principal transmissora. Quadro esse que, como cristãos, devemos nos esforçar por reverter. Caso não haja esforço neste sentido, a tendência é que diminuam ainda mais o número de vocações de que a Igreja necessita.
Joel Nunes dos Santos, em 04 de agosto de 2012.
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