domingo, 22 de julho de 2012

Madres Anacoretas – Marana e Cira – Parte II


A vida de Marana começa assim: depois de ter escrito as ações de tão grandes personagens, devo- para completar esta obra- falar também de umas mulheres que não somente lhes tem igualado, mas também superou por meios de seus trabalhos e lutas; tendo um corpo muito frágil, merecem mais louvor, porque tendo mostrado tanta coragem como eles elevaram-se acima da delicadeza de seu sexo.

Essas santas mulheres, Marana e Cira haviam nascido no seio de ilustres famílias de Berea, sua pátrio, e foram educadas segundo sua classe, mas o amor a Jesus Cristo as levou a desprezar todas as vantagens que lhes oferecia sua alta condição social, e decidiram-se a praticar um gênero de vida totalmente oposto, uma vida entregue a penitência, a qual só mencioná-la repugna a natureza, e que por isso mesmo, demonstra quanta força tem o Amor santo, e quanta coragem, quando Jesus Cristo toma inteira posse de um coração.

Abandonaram a casa paterna e recolheram-se em um pequeno recinto, não longe da cidade, rodeado de grossas paredes, e cuja porta taparam com pedras para não terem nenhum contato com o exterior. Só desejavam uma espécie de janelinha por onde recebiam o necessário para viver. Ao ar livre, sem refúgio algum onde proteger-se do sol, da chuva ou da neve e dos ventos. Viveram como plantas silvestres, sempre como único refúgio a abóbada celeste. Não tinham para proteger-se mais que uma túnica longa até os pés, com um grande véu que lhes chegava até a cintura e lhes cobria totalmente o rosto, o pescoço e as mãos. Em cima desta espécie de hábito tão austero – e que não lhes garantia livrá-las nem do frio – levavam correntes. Madre Cira que era mais frágil caminhava roçando o solo totalmente encurvada por causa de seu peso. Eram estes instrumentos como um colar de ferro ao redor do pescoço, um cinturão sobre os rins e uns nas mãos e nos pés.

Teodoreto que as conheceu quando estavam há 42 anos vivendo ao ar livre, sofrendo os rigores do tempo, assombrou-se sobremaneira, e disse que nenhum homem no vigor de sua idade haveria podido suportar aquele peso. Marana, por “esta espécie de janelinha”, falava com as visitas que só recebia em Pentecostes. Cira nunca mais falou, guardando profundo silêncio. Como Barea não estava mais que a dezessete milhas de Ciro, Teodoreto ia vê-las, mas às vezes elas concordavam pelo respeito que tinham à pessoa do Bispo. As obrigava a abrir a porta para recebê-lo e assim faziam com humilde obediência. Desta forma ele foi testemunha ocular do que conta. Pedia a elas em cada visita que retirassem os objetos de ferro pelo menos quando ele ia visita-las, e assim fizeram, porém quando ele saía, voltavam a colocá-los.

Por três vezes imitaram a Moisés observando o jejum de 40 dias, sem provar nada; e outras tantas vezes imitaram Daniel ao longo de três semanas seguidas. Saíram uma vez do local para ir a Jerusalém, pois a veemência de seu amor a Jesus Cristo as impulsionavam a conhecer a terra que Ele santificou com sua presença. Fizeram a pé o caminho. Durante os vinte dias que durou a viagem, não comeram nada, até que não adoraram na Cidade Santa as pegadas do seu Senhor. Uma segunda Peregrinação as levou a Selêucia, a venerar a tumba de Santa Tecla, com o único fim de acender mais e mais o fogo do divino amor, e tão pouco tomaram alimento; algum tanto na ida como na volta. Sem dúvida a graça divina alimentava estas virgens em tão prolongada e penosas abstinências.

Não sabemos a causa de suas mortes. Se Teodoreto escreveu sua vida por volta do ano 440 e, todavia viviam, perdemos sua pista desde então. A maternidade espiritual destas santas madres deixou somente semente profunda. Algumas de suas servas quiseram imitar suas vidas, porém elas permaneceram em um recinto indicado. Construíram algo parecido junto aos seus, comunicando-se por meio de uma pequena janelinha. Madres Marana e Cira vigiavam a conduta de suas filhas espirituais, exortando-as à oração e a renúncia por amor de Jesus Cristo.

APOFTEGMAS DE MADRES MARANA E CIRA:

1 – Ame. Acerte em ti mesma a violência e adquirirás a paz e a doçura de espírito.
2 – Põe interesse em guardar o silêncio, e ouvirás a voz do Amado.
3 – Nossa Cruz é o Temor de Deus, que nos leva ao Amor.
4 – Guarda o silêncio e terás paz, porém se tiver que falar sem remédio, diga o que convém e quando convém e não terás que ouvir o que não convém.
5 – Nossas cadeias são um sinal visível daquelas outras cadeias com que o diabo nos prende por meio de nossas concupiscências e soberba. Jesus Cristo as rompera no último dia.


Que estas santas madres intercedam por nós!
Até a próxima semana!
Fiquem na paz!
Madre Rosa Maria de Lima, F.M.D.J

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