Padre Lombardi fala de dois sentimentos. Um é a gratidão ao Senhor por este Papa que nos guia com grande força, gentileza e fé e que, portanto, é um dom de Deus. O outro é a admiração. Apesar de ter começado já em idade avançada este ministério para a Igreja universal, trata-se ainda assim de um pontificado muito rico e intenso, com tantas viagens e acontecimentos muito importantes, com um Magistério intenso e multifacetado. Devemos por isso dizer que é impressionante, admirável, o que o Papa conseguiu fazer nestes sete anos. P. – Pessoalmente, o que é que mais o impressiona do trato humano, do modo de ser do homem Joseph Ratzinger? R.- O que mais me impressiona é a sua gentileza e a sua atenção. A relação próxima com alguém, vive-a ele intensamente: ele escuta mesmo o que o interlocutor tem a dizer e fá-lo com grandíssima atenção e respeito. Tem, além disso; uma lucidez e uma clareza de pensamento e de expressão, uma densidade de conteúdo que comunica – isto para além da sua gentileza e a sua atenção – que cativa num modo verdadeiramente profundo. P. – É difícil, para não dizer impossível, traçar numa só resposta um balanço de sete anos de Pontificado. Se, no entanto, tivesse que dizer qual é a dimensão que mais caraterizou estes anos, qual sublinharia? R. – Diria que, neste pontificado, a Igreja concentrou-se no essencial da sua missão, ou seja, na atenção prioritária a Deus, à relação do homem com Deus, à dimensão transcendente da vida, à personalidade de Jesus Cristo como revelador do verdadeiro Rosto de Deus. Portanto, esta dimensão religiosa do ministério da Igreja, num tempo em que aspetos de carácter e de poder da Igreja se tornam cada vez mais secundários, parece-me ser uma característica deste Pontificado. O Papa Bento XVI guia a Igreja para o centro da sua missão. P. – Nos últimos tempos o Papa sentiu-se amargurado pelos acontecimentos internos do Vaticano, tais como as fugas de notícias. Um sentimento, este, do qual também mons. Becciu falou recentemente. E, contudo, o Papa testemunha serenidade e alegria… R. – Isso parece-me um episódio transitório. Os problemas que o Papa sente (mesmo) são a secularização, o esquecimento de Deus, o relativismo e a perda de referências e de orientação de tantas pessoas na época moderna. No que diz respeito à Igreja, sem dúvida que sofreu com os aspectos de incoerência e de infidelidade à missão e à sua dignidade. Nestes anos temos vivido também, com muito sofrimento, com todo o debate acerca dos abusos. Parece-me serem estas as coisas que mais podem fazer sofrer o Papa, e não as intrigas internas. P. – Este elemento de alegria e de serenidade, que encoraja, não obstante as preocupações, é algo lindo para quem vê o Papa… R. – Não há dúvida! O Papa é um homem de fé, é um verdadeiro crente. É aquele que pode ajudar a servir a Igreja como rocha da fé justamente porque ele é o primeiro a crer. Neste sentido, a fé é fonte de uma serenidade e de uma alegria profunda que ninguém pode tirar. A raiz da serenidade da alma do Papa Bento XVI é a própria fé, e portanto a esperança que dela deriva. D. – Normalmente, quando alguém faz anos, dá-se uma prenda… Mas, digamos, qual é, ao inverso, o maior dom que sente ter recebido, nestes anos, de Bento XVI? R. – Pessoalmente, apreciei muitíssimo o livro sobre Jesus: pareceu-me um esforço pessoal que o Papa fez, para além daqueles que eram os aspectos do ministério que se poderiam esperar dele, como Papa, para manifestar – com a sua preparação teológica mas também com a sua espiritualidade – a sua relação pessoal com Cristo. Isto, para cada um de nós e para cada crente e cristão, é qualquer coisa de extremamente fundamental. O Papa… acho que nos ofereceu a sua procura pessoal do Rosto de Cristo: é isso que considero o maior dom que dele recebi. D. – Que votos de felicitação gostaria de dirigir ao Santo Padre? R. – Sinto muito a permuta de encorajamento vivida pelo Papa. Quer dizer: o Papa diz muitas vezes: eu vim para vos confirmar na fé e para vos encorajar, mas sou grato pelo encorajamento que me dais quando me respondeis com gratidão e com afeto, quando me acolheis com espírito aberto e com entusiasmo. Os meus votos são, portanto, precisamente estes: continuar a sentir esta permuta, para que também ele seja encorajado pela Igreja e por tantas pessoas, no desenvolvimento do seu ministério.
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