No Brasil, nunca foi tão fácil o ingresso nas esferas do poder, o que se vem conseguindo de duas maneiras: por amizade com alguém que já ocupe algum cargo público; e por ingresso na vida pública, por concurso. Destes últimos, os interessados no poder afiliam-se a alguma agremiação política ou sindical, ajustam-se às exigências que forem propostas e em resultado disso conseguem alçar-se a alguma função de poder.
No passado, a família, então numerosa, tinha como honra que dentre seus filhos um seria oferecido à Igreja, tornando-se sacerdote; outros dois seriam oferecidos ao bem biológico e civil do homem, como médico e advogado; isto numa época em que ainda constava nos currículos escolares o ensino da religião e da moral. Por isso, por tais desejos se escorarem na religião e na moral (e isto se dava com tamanha força que mesmo em famílias não-cristãs, espíritas, a moral ensinada era a moral católica), tais oferecimentos não necessariamente provocavam o enriquecimento da família, mas provia a comunidade de benfeitores ilustres. Eu próprio sou testemunha, ainda criança, da existência de médicos e farmacêuticos que atendiam crianças e adultos que não poderiam pagar por seus serviços com a solicitude que hoje em dia, em muitos casos, se tornou exclusiva de famílias e indivíduos abastados. Vi advogado (em função em cartório) fazer uso de suas prerrogativas para beneficiar viúvas que faziam jus a pensões mas que não teriam recursos para acionarem as instâncias legais necessárias para tanto. Só não vi sacerdote levando viáticos a lugares pobres e inóspitos certamente porque cresci em meio protestante e total e completamente hostil à Igreja. Por isso, só pude enxergar esta última caridade já muito adulto, quando passei a ter conhecimento da fé católica. Mas ainda assim, não julgo excessivo dizer que compreendo qual honra as famílias do passado desejavam ter ao oferecerem um de seus filhos a Deus através da Igreja, como sacerdote. Só o fato de, após converter-me à fé católica, ter tido a honra de hospedar e alimentar um sacerdote em minha casa, com todas as conseqüências benéficas disso, me dá um vislumbre do que poderia ser a honra de um pai cujo filho se torna sacerdote.
Pelo fato de a estrutura social, psicológica, etc., das famílias, ter mudado, isso não alterou nem um pouco o desejo pela honra a partir daquilo que o filho se torna. Hoje parece que o desejo maior é somente pelo poder em sua expressão a mais inferior, aquele que é dado pelo dinheiro. Quem não sabe que é possível comprar favor e lealdade momentânea de alguém com dinheiro? Mas essa lealdade dura até o tempo em que algum outro, com mais dinheiro, ofereça àquele mesmo sujeito uma importância um pouco maior. O desejo das famílias atualmente por este último e mínimo poder, isto é, o poder que o dinheiro traz, talvez isto seja por causa da natural necessidade que todos temos de segurança em caso de algum infortúnio: doença inesperada, perda de emprego e de fonte de renda, etc.; ao que se soma também a imoralidade da conduta de homens e mulheres que atualmente vêm se instalando em cargos de poder, que vão mudando as leis e condicionando o respeito à justiça somente àqueles que podem pagar por tal privilégio.
Que as famílias tenham o desejo de que seus filhos subam na vida, consigam bem remuneradas colocações na vida, nada mais justo. Porém, quando isto é buscado independentemente da vocação da indivíduo, as conseqüências não costumam ser boas. Vejamos porquê.
O poder é de 3 tipos: intelectual, militar (jurídico-político) e econômico.
O poder é a “capacidade para”. Quando focado no homem, é a “capacidade que permite fazer com que o outro faça o que eu quero que ele faça”. Por via intelectual, quando se convence ao outro de que isto ou aquilo é verdadeiro e, portanto, desejável; a via militar, jurídica ou política, por meio da intimidação, quando então as pessoas fazem isto ou aquilo tão-somente por medo das conseqüências caso não faça. Por via econômica, através da troca de favores.
Indivíduos não vocacionados ao exercício de tais poderes conseguem tornar difícil ou mesmo impossível a necessária confiança das pessoas entre si, condição indispensável para que a vida social seja ordeira e tranqüila. Um indivíduo com habilidade intelectual, porém não vocacionado à vida intelectual – que deve se caracterizar sempre pelo amor à verdade e não somente pelo interesse em saber “quem disse o quê” – fará uso da linguagem, que é seu instrumento de poder, para vingar-se pelos sofrimentos que julga ter passado durante a vida. Tal tipo de pessoa lançará no espírito das pessoas o fel da descrença, da desconfiança, da malícia, de tal maneira que convencerá que o conteúdo dos livros é aquilo que os seus autores querem que seja, e não expressão da verdade. Estes conseguem enganar e levar a que se creia que a Bíblia e a Tradição da Igreja (a sua parte escrita) não refletem o que Deus julgou necessário disponibilizar para o homem, mas apenas pontos-de-vista que não podem como devem ser discutidos “democraticamente” por qualquer um. Este tipo de indivíduo parece manifestar-se em toda época, com a diferença que somente atualmente os veículos de comunicação os incensem tanto. Lembro-me do terror que passou a dominar a minha alma, na juventude, quando pensava na Igreja, depois de ter lido o livro “O Papa Negro”, cujo autor não me recordo. Na atualidade, “O Código da Vinci” desempenha este papel, amplificado pela força do cinema. Quantas vidas se infelicitam e almas se perdem justamente porque, dando crédito a tais intelectuais não vocacionados à verdade, as pessoas deixam de procurar o remédio há muito oferecido “meu fardo é leve e meu jugo é suave...”, justamente o ensinamento que a Igreja custodia, pois para isso foi criada.
Um indivíduo com habilidade militar, jurídico-política, investido no papel de figura de poder, por certo cederá ao impulso de alterar as leis e a moral a seu bel-prazer – somente porque tem o poder de fazê-lo, e não porque o faça movido pelo respeito ao bem comum. É a indivíduos assim que é praticamente impossível fazer ver que a família não pode ser um arranjo fundado em desejos contrários à natureza, mas a união de um homem e uma mulher mais a prole que daí decorre. Indivíduos assim determinaram, no Brasil, há 6 anos, a revogação do sexto e nono mandamentos, tornando preceito legal que o adultério e a sedução não são mais crimes.
Um indivíduo com habilidade para ganhar dinheiro, mas incapaz de colocar freio na própria cobiça – portanto, uma pessoa incapaz de desenvolver a virtude da magnanimidade – verá com hostilidade a moral que ensina não ser lícito auferir lucros baseados no que ofende a moral. A tal indivíduo não será possível explicar porque um determinado sacerdote recusou a oferta de toneladas de alimentos (dos quais precisava para atender a incontável número de miseráveis) oferecida pelos responsáveis pela passeata gay da Avenida Paulista de São Paulo.
O poder nas mãos dos não vocacionados a exercê-lo é muito pior do que a situação de uma comunidade pobre e acossada por flagelos naturais (epidemias, terremotos, pestilências diversas). Porque essas podem ser minimizadas e superadas pelo engenho humano. Mas a soberba, o orgulho e o egoísmo, sempre presentes nos que se instalam no poder, sem terem vocação para bem administrá-los, é de difícil retificação. Porque tais pecados se dirigem por via direta ao primeiro e principal dos mandamentos da Lei Natural, que é “Amar a Deus sobre todas as coisas”, cujo cumprimento é a realização do primeiro e fundamental procedimento de justiça: dar a cada um ( no caso, a Deus) o que lhe é de direito.
Joel Nunes dos Santos, em 8 de outubro de 2011.
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