Diferenças à parte, os parlamentares de bancadas religiosas - católica e evangélica - atuam em comunhão no Congresso e monitoram a tramitação de 368 projetos na Câmara e no Senado. Em defesa de suas bandeiras, esses deputados e senadores interferem no andamento de propostas como união civil entre homossexuais, criminalização da homofobia, contra os abortos legais e o chamado "divórcio instantâneo" (projeto que permite que esse processo se dê via internet), entre dezenas de outros.
Os religiosos atuam para atrasar, retirar de pauta ou rejeitar projetos que contrariam suas crenças. Em outra ponta, trabalham pela aprovação de propostas de interesse do segmento, como o Estatuto do Nascituro, que prevê o pagamento de um salário mínimo para mulheres que engravidaram após estupro. Essa pensão vai até a criança completar 18 anos. Foi classificado pelos opositores de "bolsa-estupro".
Juntos, evangélicos e católicos formam um grupo de cerca de cem parlamentares. "Foi-se o tempo em que católicos e evangélicos se estranhavam aqui no Congresso. Principalmente pelas críticas dos católicos aos cultos evangélicos. Esse tempo passou e hoje trabalhamos juntos na proteção da família e da vida", disse João Campos (PSDB-GO), coordenador da bancada evangélica.
Um personagem central nesse monitoramento dos projetos não é um parlamentar. É o advogado Paulo Fernando Melo, que, semanalmente, faz um balanço atualizado da tramitação de projetos e o encaminha aos parlamentares. Ele é vice-presidente da Associação Nacional Pró-Vida e atua no Congresso Nacional há 20 anos, onde assessora deputados e senadores católicos e evangélicos, e redigi projetos e prepara discurso. É o ghost writer das duas bancadas.
Paulo tem até proposta de sua "autoria" que virou lei: a inscrição do nome do padre José de Anchieta no Livro dos Heróis da Pátria. Foi sancionado por Dilma Rousseff e, oficialmente, é de autoria do deputado Doutor Dalmir (PV-SP).
Apesar de não ser parlamentar, Paulo é personagem central para a bancada da fé
O advogado elaborou o Estatuto do Nascituro e redigiu proposta que considera a música gospel como atividade cultural e com direito aos benefícios da Lei Rouanet. Esse projeto foi aprovado na Câmara e tramita no Senado. Foi apresentado pelo Bispo Rodovalho (PP-DF).
Há projetos de autoria de um católico e um evangélico, mostrando o entrosamento. Doutor Talmir (PV-SP), católico, e Henrique Afonso (PV-AC), evangélico, são autores de proposta que obriga o SUS a oferecer cirurgias de reversão de vasectomia. (Agência O Globo)
Articulação
"Comparo o que faço a um trabalho missionário. É por convicção. A aproximação das duas bancadas facilita a articulação"
Paulo Fernando Melo - Advogado e vice-presidente da Associação Nacional Pró-Vida
Foco no tratamento contra as drogas
Paulo Fernando Melo - Advogado e vice-presidente da Associação Nacional Pró-Vida
Foco no tratamento contra as drogas
Outro tema que une as bancadas, além do combate à políticas pró-homossexuais, é o tratamento de drogados. Evangélicos e católicos mantêm centros de tratamento e querem a atenção do poder público, de olho nos recursos orçamentários.
Um dos coordenadores da bancada católica, Eros Biondini (PTB-MG) defende com prioridade a causa. O deputado revela que foi viciado durante 20 anos e tratou-se numa dessas comunidades. Nesses lugares, os usuários de drogas são também catequizados e acabam virando cabo eleitoral. Biondini, que controla locais para tratamento, reconhece que elegeu-se em função da atividade. "São locais que cobrem lacunas no atendimento oferecido pelos governos".
Ele cita a ação conjunta com evangélicos para tirar de circulação o kit contra homofobia elaborado pelo Ministério da Educação. "Foi uma demonstração que temos muitos pontos de convergência e que se repetiu outras vezes e assim será quando princípios que defendemos, como a família, estiverem ameaçados".
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