Devemos nos lembrar que são poucos os que, em virtude de sua posição ou adiantamento, são de qualquer modo chamados a corrigir os seus irmãos; ainda um menor número é competente para fazê-lo com doçura; e não há ninguém cuja santidade não seja submetida à mais rude provação pelo perfeito cumprimento deste dever. Ao contrário, os que assumirem com leviandade e por conta própria esta responsabilidade delicada não somente pecam por desobediência, por falta de respeito, por arrogância, por azedume, por presunção e por exagero, como são causa de pecado para os outros, fazendo das coisas de Deus um escândalo e um obstáculo. Antes, portanto, de empreender a correção fraternal, verifiquemos se temos vocação para isto, consultando a opinião de outros, tanto quanto a nossa própria. Quando tivermos certeza desta vocação, façamos preceder nossa correção pela oração e a deliberação. Podemos acrescentar que corrigir o nosso próximo com o fim de edificar uma terceira pessoa é uma prática que raramente evita conseqüências desagradáveis, e só não prejudica nossa humildade por ser uma prova de que não temos esta de todo. Nessa fase da vida espiritual [isto é, na via purgativa ou dos principiantes], só podemos, a respeito da correção fraternal, reconhecer que ela existe. Mais adiante, Deus no-la confiará e saberemos empregá-la. Se por acaso este dever nos fosse imposto agora, não deveríamos empreendê-lo sem tremer e refletir, esperando que Deus nos ajude com o resto. Portanto, guardar-nos-emos de edificar o próximo por estes meios. Vejamos agora o verdadeiro meio de edificá-lo. Podemos fazê-lo de dois modos: pela mortificação de Jesus e pela doçura de Jesus. Primeiro, pela mortificação de Jesus, isto é: guardar o silêncio sob justas repreensões, abster-nos de julgamentos levianos e superficiais, não insistir pelos nossos direitos de um modo pedante e desagradável, servir aos outros com desinteresse, sem nos queixarmos das dificuldades e dos transtornos que nos causam, e sem exagerarmos, teimosa e tolamente, os pontos onde todos têm direito de guardar sua liberdade; são estes os modos pelos quais devemos praticar a mortificação de Jesus no nosso trato com os outros, e, além da edificação que assim daremos, conseguiremos por essas práticas um grau de perfeição interior acima de toda a nossa previsão. E isso porque quase não há uma inclinação corrupta, orgulho secreto ou dobra de amor próprio que elas não atinjam e purifiquem. Entretanto, devemos também edificar pela doçura de Jesus. Uma resposta branda afugenta a cólera, diz a Escritura. Palavras boas e meigas, como as de Nosso Senhor, são em si um apostolado. Ao contrário, palavras irônicas e mordazes, embora tenhamos muitas vezes o direito de empregá-las, ajudam continuamente o demônio em seu trabalho, prejudicam as almas dos outros, infringindo na nossa feridas que não deixam de ser sérias. Nossas maneiras devem ser cheias de unção, sendo por si um meio de atrair os outros, e de fazê-los amar o espírito que nos anima. A frieza, a falta de interesse, um certo e inexplicável ar de superioridade ou mesmo uma afetada condescendência, no entanto, são coisas não raro encontradas em pessoas piedosas. Não dominaram ainda o seu espírito a ponto de empregá-lo graciosamente, ou não apreciam como deviam a delicadeza e a ternura. Não têm, portanto, presente ao espírito uma imagem fiel de Jesus, e dificilmente O podem refletir na sua conduta exterior. Nosso próprio aspecto deve estar sujeito à Graça. Quanto mais nos esforçarmos em gravar a imagem de Jesus em nossos corações, tanto mais a Sua doçura transparecerá, sem o sabermos, em nossas feições. A não ser em tempos de grande dor física (e mesmo isto nem sempre o impede), a paz interior e a harmonia da alma se refletem visivelmente no semblante. Notemos que no Evangelho de São Marcos, escrito sob o ditado de São Pedro, há freqüentes alusões à expressão e aos gestos de Nosso Senhor; e a história do jovem que não teve coragem de renunciar ao dinheiro, bem como a própria conversão de São Pedro, mostram o que podia a doçura do olhar de nosso Salvador. Praticamos também esta doçura, louvando todo o bem que descobrirmos nos outros, mesmo quando ele se mistura ao que não é bom. Quem louva livremente, porém sem extravagância, sempre influi na conversa, e pode empregar sua influência na causa de Deus. Um espírito crítico, pelo contrário, diverte pela vivacidade ou assusta pela malícia, mas não suaviza, não atrai, não persuade, não governa. Devemos exercer também essa doçura cristã, interpretando favoravelmente as ações duvidosas, sem tomarmos todavia atitude forçada ou pouco natural, e sobretudo sem desculparmos pecados positivos. Fora disto há vasto campo de ação para essa amável prática. Nunca a praticareis sem fazerdes obra de missionário pela glória de Deus, ainda que de modo inconsciente. Devemos guardar-nos também de certos olhares, de umas certas maneiras, e sobretudo de um certo silêncio, que fazem sentir aos outros que interiormente os censuramos. Nada é mais irritante do que isto. Quando o pecado presenciado torna o santo silencioso, há no seu silêncio uma triste doçura, que mostra sua aflição pelo pecador, e que se esforça por amá-lo apesar do pecado. O nosso silêncio crítico, tão contrário à doçura de Jesus, irrita aos outros e os põe na defensiva. Assim arrojam o pouco de Graça que ainda possuíam, endurecendo seus corações contra qualquer Graça possível. Esse silêncio severo, sendo de fato a mais clara das correções fraternas, ninguém o pode exercer sem verificar, pelos métodos que indiquei, se tem ou não o direito de corrigir seu irmão. Ainda assim é o meio mais arriscado de cumprir uma obrigação já por si perigosa. Faz também parte da doçura de Jesus não permitirmos que nossa piedade ou devoção incomode aos outros. Quando Santa Joana Francisca de Chantal passou a estar sob a direção espiritual de São Francisco de Sales, seus criados diziam que o antigo diretor da senhora a fizera rezar uma ou duas vezes por dia, e ela todos incomodava assim, ao passo que o novo diretor a fazia rezar o dia inteiro e a ninguém incomodava. Um pouco de prudência bastaria, de certo, para que as nossas Comunhões e orações não perturbassem o arranjo da família, nem exigissem dos outros a menor abnegação. Ninguém deveria ter má vontade para essas coisas; mas nós nada lhes devemos impor. Assim é que o nosso trato com os outros deve a um tempo santificar a nós mesmos e edificar ao próximo, pelo duplo exercício da mortificação e da doçura de Jesus. Provavelmente já nos ocorreu que, nesta fase da nossa carreira, nosso trato com os outros se resumisse principalmente no governo da língua. Não sei o que deve surpreender mais: se a importância inesperada que a Santa Escritura assinala ao dever de governar a língua, ou se a inteira indiferença que este dever inspira até às almas piedosas. Só quem toma a concordância [bíblica] e procura na Bíblia todas as passagens que se referem ao assunto, desde os Provérbios e o Eclesiástico até S. Tiago, terá uma idéia da soma total de ensinos contidos sob este título [do governo da língua] e do espaço que ocupa naquele único volume. É incompatível com a brevidade que me proponho o entrar detalhadamente no assunto. Basta sugerir a cada um esta única pergunta: a atenção escrupulosa que cada um presta ao governo da língua está de todo em proporção com a tremenda verdade revelada por São Tiago quando disse: ‘Se eu não puser um freio à minha língua, toda a minha religião é vã’? A resposta dificilmente deixará de ser tão assustadora quanto humilhante. Mas como governar a língua? A simples enumeração dos males há de implicitamente sugerir os remédios. Atendei a uma hora de conversa em qualquer companhia cristã. O assunto volve quase unicamente em torno das ações e dos caracteres dos outros! A razão é provavelmente esta: o trono do juízo de Nosso Senhor como que já está erigido na terra, não estando porém ocupado, mas à Sua espera. Nós, entretanto, com incivilidade, sem convite, subimos constantemente os degraus, sentamo-nos no Seu trono, antecipando e imitando a Sua sentença sobre os nossos irmãos. Procedendo deste modo, vemos quanto nossa conduta é perniciosa. Esta idéia nos ajudará de certo a purificar a nossa conversa da discussão desnecessária sobre motivos e ações alheias. Na maioria das vezes, porém, é só depois de longamente percorrido o caminho da devoção, e quando já nos prejudicamos irreparavelmente, que começamos a dedicar ao governo da nossa língua um pouco do cuidado que merece e que imperiosamente exige. O primeiro efeito da espiritualidade em nós é o de avivar o nosso lado crítico. Temos novas medidas para avaliar, temos nova luz para ver tudo, e com esses novos meios de observação prejudicamos nosso juízo sobre o próximo. Fazei disto o assunto do vosso exame particular, e vos surpreendereis de ver quão numerosas são vossas quedas. Com efeito, édifícil exagerar a facilidade, a multidão ou os efeitos fatais dos pecados a que nos levam todas essas conversas sobre os outros, mesmo quando temos e melhor e mais benévola das intenções. (…)” - (FONTE : FABER, Padre Frederick William [1814 – 1863], in: O PROGRESSO NA VIDA ESPIRITUAL, tradução segundo o original inglês por Marianna Nabuco, Editora Vozes, Petrópolis:1924, páginas 82-87. Doutor em Teologia, Co-Fundador e Superior do Oratório de São Filipe Néri de Londres e, sobretudo, morto em odor de santidade, Padre Faber é considerado o maior escritor espiritual do século XIX - O Segredo do Rosário)
LITURGIA DO DIA 27 DE SETEMBRO DE 2011
PRIMEIRA LEITURA : Zacarias 8, 20-23
SÃO VICENTE DE PAULO , PRESBÍTERO - (branco, prefácio comum ou dos pastores - ofício da memória) - Leitura da profecia de Zacarias - 20Eis o que diz o Senhor dos exércitos: virão ainda muitos povos e habitantes de grandes cidades: 21os habitantes de uma cidade convidarão os habitantes de outra, dizendo: Vamos e roguemos ao Senhor! Busquemos o Senhor dos exércitos! - Também eu irei. - 22Virão muitos povos e poderosas nações buscar o Senhor dos exércitos em Jerusalém, e implorar a face do Senhor. 23Eis o que diz o Senhor dos exércitos: naquele dia dez homens de todas as línguas das nações tomarão um judeu pela orla de seu manto, e dirão: queremos ir convosco, porque soubemos que Deus está convosco. - Palavra do Senhor
1. Salmo dos filhos de Coré. Cântico. O Senhor ama a cidade que fundou nos montes santos; ele prefere as portas de Sião às tendas de Jacó. De ti se anuncia um glorioso destino, ó cidade de Deus. - R.
2. Ajuntarei Raab e Babilônia aos que me honram; eis a Filistéia e Tiro com a Etiópia, lá todos nasceram. Dir-se-á de Sião: Um por um, todos esses homens nela nasceram; foi o próprio Altíssimo quem a fundou. - R.
3. O Senhor inscreverá então no registro dos povos: Aquele também nasceu em Sião. E cantarão entre danças: Todas as minhas fontes se acham em ti. - R.
MENSAGEM DO DIA 09/10/1986 - Vocês sabem que Eu desejo guiá-los pela estrada da santidade, mas não quero constrangê-los, pela força, a serem santos. Eu desejo que cada um de vocês ajude a si mesmo e a Mim, por meio dos seus pequenos sacrifícios, de modo que Eu os possa guiar para estarem, dia após dia, mais próximos da santidade. Por isso, queridos filhos, não desejo nem mesmo constrangê-los a viver as Minhas Mensagens, mas esse longo tempo em que estou com vocês é sinal de que Eu os amo imensamente e quero que cada um de vocês torne-se santo - MENSAGEM DE NOSSA SENHORA EM MEDJUGORJE
No sermão da montanha o divino Mestre chama a seus apóstolos o “sal da terra” e a “luz do mundo” (Mt. 5, 13-14). Seremos “sal da terra” na medida em que formos santos. O sal insípido para que serve? “Que pode sair de puro de uma fonte impura?” (Ecli. 34, 4). Só presta para ser atirado aos caminhos e calcado aos pés. Verdadeiro “sal da terra”, pelo contrário, o apóstolo piedoso será um verdadeiro agente de conservação da sociedade, no meio da corrupção humana. Farol que brilha durante a noite, o clarão do seu exemplo, mais ainda do que da sua palavra, dissipará – omo verdadeira “luz do mundo” – as trevas acumuladas pelo espírito do mundo, e fará resplandecer o ideal da verdadeira felicidade, que Jesus traçou nas oito bem-aventuranças. O que mais favorece a prática da vida cristã são, precisamente, as virtudes daqueles que têm a missão de ensinar os fiéis. Pelo contrário, as suas fraquezas afastam as almas de Deus; “Por vossa causa o nome de Deus é blasfemado entre os gentios” (Rom. 2, 24). O apóstolo deve ter nas mão a tocha do bom exemplo, mais do que bonitas palavras nos lábios e, antes de pregar a virtude, deve praticá-la. “Aquele que tem a missão de dizer coisas sublimes é, por isso mesmo, obrigado a traduzi-las na prática”, diz S. Gregório. (1). O povo tem intuições que não falham. Pregue um homem de Deus e o povo acode em multidão. Cesse porém a sua conduta de corresponder ao que se tinha o direito de esperar, e logo a obra fica comprometida e ameaça ruína
A IGREJA CELEBRA HOJE , SÃO VICENTE DE PAULO - "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e espírito e amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Mat 22,37.39). Se não foi o lema da vida deste santo, viveu como se fosse. O santo de hoje, São Vicente de Paulo, nasceu na Aquitânia (França) em 1581. No seu tempo a França era uma potência, porém convivia com as crianças abandonadas, prostitutas, pobreza e ruínas causadas pelas revoluções e guerras. Grande sacerdote, gerado numa família pobre e religiosa, ele não ficou de braços cruzados mas se deixou mover pelo espírito de amor. Como padre, trabalhou numa paróquia onde conviveu com as misérias materiais e morais; esta experiência lhe abriu para as obras da fé. Numa viagem foi preso e, com grande humildade, viveu na escravidão até converter seu patrão e conseguiu depois de dois anos sua liberdade. A partir disso, São Vicente de Paulo iniciou a reforma do clero, obras assistenciais, luta contra o jansenismo que esfriava a fé do povo e estragava com seu rigorismo irracional. Fundou também a "Congregação da Missão" (lazaristas) e unido a Santa Luísa de Marillac, edificou as "Filhas da Caridade" (irmãs vicentinas). Sabia muito bem tirar dos ricos para dar aos pobres, sem usar as forças dos braços, mas a força do coração. Morreu quase octogenário, a 27 de setembro de 1660. São Vicente de Paulo, rogai por nós!
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