Queridos irmãos, queridas irmãs, vocês sabiam que Jesus tinha defeitos? Quem fez essa afirmação foi o servo de Deus François-Xavier Nguyên Van Thuân, mais conhecido como Cardeal Van Thuan, que se declarou apaixonado por esses defeitos de Jesus e os descreveu no livro “Testemunhas da esperança”. Semana que vem vamos saber quais são. Mas hoje conheceremos um pouco da vida deste grande servo de Deus.
Van Thuân tinha sete irmãos. Vinha de uma família que contava com numerosos mártires da fé. Sua mãe, todas as noites, contava-lhe histórias bíblicas e narrava-lhe testemunhos de mártires, especialmente de seus antepassados.
Foi ordenado sacerdote católico em 1953. No dia 15 de agosto de 1975 – dia de Nossa Senhora da Assunção –, quando já era arcebispo, foi preso. Ele conta que, no caminho da prisão, lembrou-se da palavra que Monsenhor John Walsh, bispo missionário na China, pronunciou quando foi libertado depois de doze anos de cativeiro: “Passei a metade da minha vida esperando”. Van Thuan escreve: “É verdadeiríssimo: todos os prisioneiros, inclusive eu, esperam a cada minuto sua libertação. Porém, depois decidi: Eu não esperarei. Vou viver o momento presente, enchendo-o de amor”.
De fato, foi o que fez: amou, amou, amou. Passou treze anos nas prisões vietnamitas; deles, nove em isolamento. Durante alguns meses esteve confinado numa cela minúscula, sem janela e úmida. A cama era coberta de fungos. Para respirar passava horas com o rosto enfiado num pequeno buraco no chão. Os nove primeiros anos foram terríveis: “uma tortura mental, no vazio absoluto, sem trabalho, caminhando dentro da cela desde a manhã até as nove e meia da noite para não ser destruído pela artrose, no limite da loucura”.
Van Thuân procurava conversar com os carcereiros, que a princípio resistiam, mas acabavam seduzidos por sua gentileza e inteligência. Contava-lhes sobre países e culturas diferentes. Isso lhes instigava a curiosidade. Logo começavam a fazer perguntas, o diálogo se estabelecia, a amizade se enraizava. Chegou a dar-lhes aulas de inglês e francês.
No começo, a cada semana os guardas eram substituídos, mas logo as autoridades, para evitar que o exército todo fosse "contaminado", deixou uma dupla de carcereiros fixa. Estes espantavam-se de que o prisioneiro pudesse chamá-los de amigos, mas Van Thuan afirmava que os amava porque esse era o ensinamento de Jesus.
Inspirado pela criatividade amorosa, Van Thuan escreveu uma carta aos amigos pedindo que enviassem um pouco de vinho, como remédio para doenças estomacais. Assim, a cada dia, três gotas de vinho e uma de água eram suficientes para trazer Jesus eucarístico à prisão. Os pedacinhos de pão consagrado eram conservados em papel de cigarro, guardado no bolso com reverência. De madrugada, ele e os poucos católicos detidos ali davam um jeito de adorar o Senhor escondido com eles.
O Cardeal Van Thuan foi libertado no dia 21 de novembro de 1988. Para sua grande surpresa, foi escolhido para pregar o retiro ao papa e à cúria romana pela passagem do Jubileu do Ano 2000. Seu último livro, “Testemunhas da esperança”, é fruto justamente deste retiro: são as meditações que ele escreveu para o retiro, onde relata sua experiência de prisioneiro.
Em 2001 tornou-se Cardeal, vindo a falecer no ano seguinte, aos 74 anos de idade, vítima de câncer.
Em 2007 foi aberta sua causa de beatificação.
O Papa João Paulo II, em sua homilia por ocasião das exéquias do Cardeal Van Thuân, disse: “(...) Ele narrava que, precisamente no cárcere, tinha compreendido que o fundamento da vida cristã consiste em escolher unicamente a Deus, abandonando-se de maneira integral em suas mãos paternas. (...)
Na prisão, ele celebrava a cada dia a Eucaristia com três gotas de vinho e uma gota de água na palma da sua mão. Este era o seu altar, a sua catedral. O Corpo de Cristo era o seu ‘remédio’. Por isso, narrava com emoção: Todas as vezes eu tinha a oportunidade de estender as minhas mãos e de me cravar na Cruz juntamente com Jesus, de beber com Ele o cálice mais amargo. Em cada dia, recitando as palavras da consagração, eu confirmava com todo o meu coração e com toda a minha alma um novo pacto, uma aliança eterna entre mim e Jesus, mediante o seu Sangue que se misturava ao meu.
'Para mim viver é Cristo' (Fl 1, 21). Fiel até a morte, o Cardeal François-Xavier Nguyên Van Thuân fez sua a expressão do Apóstolo Paulo, que acabamos de escutar. Ele conservou a serenidade e até mesmo a alegria, durante a sua prolongada e dolorosa hospitalização. Nos últimos dias, quando já era incapaz de falar, permanecia com o olhar fixo no Crucifixo posto à sua frente.
Rezava em silêncio, enquanto consumava o seu extremo sacrifício, como coroação de uma existência assinalada pela heróica configuração com Cristo na Cruz. Bem se lhe adaptam as palavras proclamadas por Jesus, na iminência da sua Páscoa: 'Se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito fruto' (Jo 12, 24).
Somente com o sacrifício de si mesmo é que o cristão contribui para a salvação do mundo. E foi assim para o nosso venerável Irmão Cardeal. Ele deixa-nos, mas o seu exemplo permanece. A fé garante-nos que ele não morreu, mas que entrou no dia eterno que não conhece ocaso.
Santa Maria... rogai por nós... na hora da nossa morte. Na prisão, quando lhe era impossível rezar, ele recorria a Maria: ‘Mãe, vedes que me encontro no limite extremo e não consigo recitar qualquer prece. Então... colocando tudo das vossas mãos, simplesmente repetirei: Ave Maria!’ (...)
Seu testamento espiritual termina com esta tríplice recomendação: Amai a Virgem Santa e tende confiança em São José; sede fiéis à Igreja; permanecei unidos e sede caridosos para com todos. Esta é a síntese da sua existência. (...)”
Queridos irmãos, queridas irmãs, semana que vem conheceremos os cinco defeitos que o Cardeal Van Thuân descobriu em Jesus. Fiquem na paz de Deus.
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