segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Madres do Deserto – Santa Sinclética – Parte XI


Continuando com os ensinamentos de Santa Sinclética...
Cólera e Rancor
Pode-se dizer que a cólera é um mal menor se a comparada com o rancor, que é o maior mal. A cólera, depois de ter perturbado a alma por certo tempo, se dissipa como a fumaça, porém o rancor se encrosta na alma e a converte a pior que uma fera. Quando um cão se põe furioso contra alguém, o alimento lhe atrai e cessa seu furor. Os demais animais também se amansam se lhes dá o que necessitam. Porém o rancoroso, não ouve conselhos, não se acalma comendo e nem sequer o tempo, remédio universal, cura esta paixão. Os rancorosos são os mais malvados e mais perversos. Não querem ouvir a voz do Salvador: Vai primeiro a reconciliar-te com teu irmão; em seguida retorne e apresente tua oferta ao altar, e noutro lugar: Não se ponha o sol enquanto estais irados.
Devemos evitar o rancor, que têm muitos companheiros realmente terríveis: a inveja, a tristeza, a murmuração, cuja malícia é mortal, ainda que sua aparência seja benigna. São pequenas flechas do inimigo. Com frequência as feridas causadas por uma larga espada de dois fios – como a fornicação, a ganância, e o homicídio – se tem curado com o remédio saudável do arrependimento; porém o orgulho, o rancor, a murmuração, que parecem pequenas flechas, causam insensivelmente a morte porque se cravam nas partes vitais da alma. E não causa a morte esta grave ferida que produzem, senão que esta sobrevém à causa da insensata negligência que foram feridos. Porque não dão importância à murmuração e aos demais vícios, e assim chegam, pouco a pouco, a uma corrupção total.

Gravidade da murmuração
Não existe coisa pior e mais funesta que a murmuração: e alguns fazem dela seu alimento e seu recreio. Porém tu, não dês ouvido às palavras tolas, não sejas curioso pelas faltas do outro. Guarda tual alma de coisas supérfluas. Se admites as palavras purulentas da murmuração, manchas tua oração. Se teus ouvidos se enchem da perversidade dos murmuradores vai olhar para todos maliciosamente, à maneira de um olho que olhou uma cor demasiada viva e não pode ter mais que uma imagem turva dos objetos postos ao alcance de sua vista.
Vigiemos, portanto, sobre nossa língua e sobre nossos ouvidos, para não dizer nem escutar murmuração alguma. Está escrito: Não prestarás ouvido ao falso testemunho. E, ao que difama seu próximo em segredo, será aniquilado. O salmista diz também: Para que minha boca não fale das obras dos homens. E nós falamos do que não se foi feito. Não nos fiemos do que se diz; não condenemos tão pouco aqueles que falam, mas que em nossas obras e palavras conformemo-nos com a Divina Escritura: “Mas eu como um surdo não ouço, como um mudo, não abro a boca.”
O amor aos inimigos e aos pecadores
Nunca devemos nos alegrar das desgraças do próximo, por mais pecados que tenham. Quantos diante de um homem maltratado ou preso repetem tontamente este ditado popular: O que tem cama mal feita não poderá dormir bem. Tu que se vangloria de ter em ordem suas coisas pensas de poder viver uma vida totalmente tranquila? Não ouvistes o que se foi dito: Há um destino comum para todos, tanto para o justo como para o malvado. Todos terão o mesmo destino nesta terra, ainda que o modo de vida seja distinto.
Não odiemos aos nossos inimigos. É a mesma voz de Cristo que nos manda: porque se amis aos que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem o mesmo os publicanos e pecadores? Para fazer o bem não se necessita nem arte nem luta, pois Ele mesmo atrai a si aos que o amam. Para evitar o mal nos é necessário o ensinamento divino e muitos esforços. Porque não é aos débeis nem aos indolentes que pertence o Reino dos Céus, senão aos esforçados e diligentes.
Se não devemos odiar aos inimigos, tão pouco temos de evitar o trato dos imperfeitos. Alguns se aplicam estas palavras da Escritura: Serás santo com o santo, com o perverso te farás sábio. Fogem dos pecadores para não contagiar-se: o fazem por ignorância e atuam ao contrário do que deveriam fazer. O Espírito Santo não nos manda não nos contaminarmos quando estivermos com os maus, mas nos incita que os convertamos à vida nova.
A humanidade se divide claramente em três categorias bem caracterizadas: a primeira é a maldade total; a segunda é intermediária e umas vezes se inclina ao mal e outras ao bem, sem definir-se claramente; a terceira é a dos perfeitos que alcançam uma contemplação elevada. Os maus, quando se juntam com outros piores que eles, aumentam sua maldade; os do meio se esforçam por apartarem-se do mal, porém são como meninos, sem discernimento definido, os terceiros são pessoas resolvidas, de caráter bem temperado e podem mesclar-se com os maus com o propósito de salvá-los. Não os importam as injúrias e penalidades que suscita o demônio a seu redor pelas boas obras que empreendem, eles aceitam gozozos as provas, vivendo segundo a Escritura: “Alegrai-vos e regozijai-vos, quando os injuriarem e perseguirem”. Sua maneira de atuar é como a do Mestre, não comia Ele com publicanos e pecadores?

O dever da esmola e a pobreza voluntária
Os vícios estão relacionados entre si: a avareza engendra a inveja, o fingimento é o perjúrio, a ira o rancor. Da mesma maneira que as virtudes opostas a estes vícios acompanham a caridade. Quero vos falar agora da doçura, da longanimidade, da paciência e do maior de todos os bens: a pobreza voluntária. O Senhor não nos mandou amar a uma só pessoa senão a todo o mundo; porém o bem da caridade nos excede, pois por nós mesmos não podemos ajudar a todos, isto é somente obra de Deus.
Eles dizem: tu que nada possui, te põe a falar de esmola, não será um pretexto para conseguir algum benefício? Isto se dirige para as pessoas do mundo. A esmola não se manda tanto para alimentar ao pobre, quanto para exercitar a caridade, pois Deus que dá ao rico o necessário alimenta igualmente ao pobre. Então, o preceito da esmola é supérfluo? De modo algum! A esmola é um princío de caridade.
Se a esmola é boa, melhor é a pobreza voluntária. Porém, dando um passo a mais, a pobreza voluntária traz a caridade... Não és acaso portadora da cruz? Deves, pois pronunciar estas palavras que são uma expressão de liberdade: Nós deixamos tudo e te seguimos.
Às pessoas do mundo Jesus Cristo deu sua lei, a nós consagrados, por sua graça, Ele mesmo em pessoa nos tem dado a conhecer seus mandamentos.
A Cruz é nosso troféu de vitória. Nossa profissão dos votos não é outra coisa que renunciar à vida e exercitarmos em ir morrendo pouco a pouco. Os mortos não atuam segundo a carne. Acaso não diz o Apóstolo: O mundo está para mim crucificado e eu crucificado para o mundo?


Na próxima semana continuamos...
Fiquem na paz!
Madre Rosa Maria de Lima, F.M.D.J

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...