É enorme a quantidade de sabedoria das autoridades que a Igreja, inspirada e guiada pelo Espírito, dá aos santos como diretores espirituais. Os santos entendem que tais autoridades falam com a voz do próprio Deus. Vale a pena prestar atenção nos resultados da ação desses diretores sobre os santos e, mais principalmente, sobre nós, os beneficiários da santidade dos santos. Tive a oportunidade de observar este fenômeno ao ler escritos de Santa Tereza de Ávila, o mesmo acontecendo ao ler os de Irmã Lúcia. Com Santa Teresinha dá-se o mesmo: obedecendo a ordem superior, escreve sua “História de uma alma”. Na parte intitulada “Carta à Irmã Maria do Sagrado Coração”, escrito que recebe o nome de “Manuscrito ‘B’”, depois de dizer que “Sem se mostrar, sem fazer ouvir sua voz, Jesus instruiu-me em segredo, e não foi por meio de livros, porquanto não entendo o que leio” (p. 206), páginas à frente diz: “MINHA VOCAÇÃO É O AMOR” (p. 214). Ela afirma: “no coração da Igreja,... serei o amor...”. (p. 214)
A santa fala de sua vocação de religiosa: “Ser tua esposa, ó Jesus, ser carmelita, ser mãe das almas pela união contigo, deveria ser bastante para mim... Mas assim não acontece... Sem dúvida, as três prerrogativas constituem exatamente minha vocação: Carmelita, Esposa e Mãe. Contudo, sinto em mim outras vocações. Sinto em mim a vocação de GUERREIRO, de SACERDOTE, de APÓSTOLO, de DOUTOR e de MÁRTIR. Sinto, afinal, a necessidade, o desejo de realizar por ti, Jesus, todas as obras, as mais heróicas...”. (p. 211)
À primeira vista, e numa leitura superficial, o impacto dessas palavras pode ser pequeno ou nenhum. Porém, quando se medita em cada uma das denominações que a Santa Flor dá à sua vocação (ou o que dá expressão visual dos aspectos que sua vocação assume em sua alma), então o espanto não tem como ser evitado. Pois vejamos.
Sobre a vocação Carmelita, ela esclarece (p. 167): “O que vinha fazer no Carmelo, declarei-o aos pés de Jesus-Hóstia no exame que precedeu minha profissão: ‘Vim para salvar as almas, e principalmente para rezar pelos sacerdotes’”. Trata-se do aspecto central de sua vocação sobrenatural, de sua vocação que é o amor. (E aqui vale recordar o que já disse em artigo anterior sobre o acento da vocação sobrenatural do santo que impacta a alma dos fiéis: no caso desta Santa Flor, o acento é no amor, enquanto que outro santo ou santa impacta pela fé ou pela esperança). Mas chama minha atenção – e é aqui que se dá o meu espanto – a reunião, na alma/imaginação desta Santa Flor, a arte com que ela, em seus santos desejos, cria uma imagem que reúne a sua vocação sobrenatural com todas as vocações naturais possíveis. E isto ela faz quando diz sentir em si vocação de guerreiro, sacerdote, apóstolo, doutor e mártir. Pois cada um desses “personagens” no qual ela se vê pode ser referido a um tipo específico de vocação. Ao enxergar-se como APÓSTOLO, está se vendo como o mais excelente filósofo que se pode conceber; como DOUTOR, como o mais excelente cientista; como MÁRTIR, como o mais altruísta [que é a excelência da vocação interpersonalista] dos homens; como GUERREIRO, como o mais atraente de todos os artistas. Como SACERDOTE, como aquele que recebeu de Deus um poder ausente no anjo e em toda qualquer outra criatura, inclusive na Santa Mãe de Deus: o poder de consagrar o pão e o vinho. A Santa Flor reúne, portanto, num simples parágrafo, um certo máximo de excelência que o homem pode almejar ser, máximo esse que somente Deus ao se fazer Homem Perfeito pôde dar expressão material, concreta, acabada. Pois Jesus é Deus, é o “Verbo que se fez carne”.
Que Nossa Senhora, a quem a vocação Carmelita emula, nos dê a graça de podermos nos elevar à aspiração de tão elevadas coisas como fez esta Santa Flor, a qual, quanto mais conhecida, mais inspiradora se torna do desejo de imitarmos a santidade que Deus aprouve a ela conceder.
Joel Nunes dos Santos, em 23 de julho de 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário