A matéria da Ética é as paixões e ações humanas; a da Moral, além daquelas, também as intenções humanas, de modo que se o ensinamento da Ética é que o homem deve fazer o bem e afastar-se do mal, o da Moral é que o homem deve amar fazer o bem e amar afastar-se do mal, odiando-o. O amor é o princípio condutor da Moral; o dever-ser (que se baseia no conhecer), da Ética.
A Moral é mais exigente do que a Ética, assim como a família é (ou deve ser) mais do que a sociedade. Pois para à família não basta que os filhos façam o que é certo, mas que amem fazer o certo. Mas a família pode errar quanto ao que seja realmente certo, pois a inteligência natural pode muito, mas falha aqui e ali. Por esta razão, ela deve aprender com a Igreja, da Igreja, os fundamentos da Moral a ser transmitida aos filhos.
Quando esta ordem é desobedecida – Igreja, família, filhos –, como ocorre nos tempos em que vivemos, a vida do homem em sociedade fica pesada, sujeita a imprevistos e descontroles. O que não é matéria de dúvida nos dias de hoje, quando vemos a TV, a Internet, a educação das escolas não raro baseadas no ateísmo produzirem verdadeiros circos de horror. Pois a “educação” transmitida por tais meios (e outros que também poderiam ser mencionados) parece que está intencionalmente voltada a fazer com que os ensinandos pequem contra cada um dos santos mandamentos.
Para os que entendem juntamente com Santo Tomás d Aquino, que a Moral diz respeito à relação do homem como Deus (“A Teologia Moral se ocupa do movimento da criatura racional para Deus”), não é preciso insistir muito no valor do conhecimento da vocação como instrumento eficiente para a educação dos filhos. É coisa óbvia. Porque educar baseado naquilo que é vocacional no educando é o mesmo que educa-lo para aceitar amorosamente a noção do dever. O contrário da educação baseada na vocação é vida que promete encher-se da tristeza própria de quem não vê sentido no viver o dia-a-dia.
A educação moral inclina o coração da criança ao amor do bem e ao ódio ao mal. Ora, o bem é o objeto do desejo honesto, do desejo não pecaminoso, do desejo inocente. Por isso o bem se converte com o verdadeiro, com o justo e com o que é bom (“...e viu Deus que é bom...”). No cotidiano da vida da criança, nos instrumentos (ou objetos) que materializam o verdadeiro, o justo e o bom são as coisas bonitas, as coisas agradáveis, as coisas com as quais brinca ou que aprende a fazer.
Não se educa bem a criança somente afastando-a de coisas perigosas, como do fogão aceso, da tomada elétrica e demais coisas que podem ferir o seu corpo. Mas ensinando-a a encaixar o protetor de tomada, a correta posição dos acionadores de gás do fogão, tudo isso na medida da curiosidade da criança, na medida em que ela vá manifestando interesse pelas coisas do ambiente que a cerca. O mesmo se deve fazer com a criança quando ela estiver mais avançada em anos e começar a interessar-se por TV, Internet e outros “educadores” modernos. Proibi-las de utilizar tais meios pode ter êxito dentro da própria casa, mas não quando elas estiverem na casa dos coleguinhas. A alternativa é ensiná-la a conhecer o que é justo, bom e verdadeiro baseado na adaptação deste ensinamento ao que nelas é vocacional. Conforme a vocação da criança, deve-se elevá-la à compreensão racional do verdadeiro, do bom e do justo tomando por base o objeto que lhe é conatural.
Um exemplo ilustra o que digo.
Conheço uma família de 10 pessoas (o casal e 8 filhos), cujas idades variam de uns 27 anos (irmã mais velha) a 4 anos (irmã mais nova). Entre os tais filhos há um com atualmente 5 ou 6 anos – e é este que uso como exemplo – que, ao brincar, é totalmente intransigente. Quando faz a arrumação dos brinquedos pelo chão da sala, não há quem o faça ceder: qualquer dos irmãos que queira pegar algum, ele briga e não cede. As repreensões e aulas de catecismo não possuem força para alterar-lhe a conduta. Como ajuda-lo a tornar-se criança, depois jovem e, por fim, adulto, sociável. Ajudando-o a aprender coisas conaturais com o que nele é vocação, isto é, arte e mecânica.
Eis a razão.
O exame da vida de seus pais e demais parentes (avós, tio-avós, irmãos adultos, etc), dá a ver que a vocação familiar é de tipo artístico-científico. O pai dessa criança certa vez me disse: “Meu sonho é desmontar e montar um motor v.8” – motor de carros caríssimos, como os Ferrari, cujo preço é superior a R$ 750.000,00. “Porque você entende de mecânica?”, perguntei. “Não! Somente pelo prazer de montar e desmontar, de ver o motor pronto na minha frente, montado por mim.”
As pessoas de vocação artística apegam-se mais facilmente ao deleite da obra realizada do que à sua funcionalidade. Como diz Santo Agostinho, “a arte lida com presença” e o ofício do artista é impor presença. E este parece ser o movimento da alma da criança de 5 anos de quem falo: ao dispor os brinquedos em certa ordem, é como se estivesse criando uma obra de arte, da qual ninguém pode mexer ou mudar qualquer peça de lugar. Ensinando-a a de fato criar algum tipo de obra de arte, ou de objeto mecânico, ao crescer, poderá vir a desenvolver gosto pelas artes e ciências arquitetônicas e mecânicas.
No processo de seu crescimento, as sucessivas experiências que irá tendo com o belo, conscientemente visto como belo, a ajudarão a firmar na alma a força da moral (o desejo e amor pelo bom, verdadeiro e justo, características que combinam perfeitamente com o belo), tornando coisa facílima para ela portar-se de maneira ética na vida social e profissional. Pois não há quem possa agir fundado na ética se não teve educação moral.
Joel Nunes dos Santos, em 25 de maio de 2011
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