terça-feira, 3 de maio de 2011

Chegaram os tempos finais? (Parte IV)



O RECONHECIMENTO DE ISRAEL

A reflexão sobre a segunda vinda de Cristo é muito intensa em todas as páginas do Novo Testamento. Para isso precisamos de um afresco que descreva a peregrinação da Igreja nesta última fase da história, como as dificuldades que deverá enfrentar no momento conclusivo desta etapa, quando as forças do mal lançarem a última e mais tremenda ofensiva. Mas é a Paulo que devemos uma meditação de grande densidade teológica, graças à qual podemos de certo modo colher na história um sinal da iminência da segunda vinda de Cristo.



Segundo o apóstolo, a vinda do Messias glorioso só acontecerá depois do reconhecimento dele por parte de todo Israel. Todo o décimo primeiro capítulo da Carta aos Romanos é uma profunda reflexão sobre o papel de Israel na história da salvação. Segundo Paulo, o povo eleito tem uma função a desempenhar justamente em vista do fim dos tempos. “Se de sua rejeição resultou a reconciliação do mundo, qual será o efeito de sua reintegração, senão uma ressurreição dentre os mortos? (Rom 11,15). Uma parte do povo eleito, observa Paulo com pesar, se endureceu na incredulidade em relação a Jesus. No entanto, esta recusa ao desígnio misericordioso de Deus obteve a graça da redenção. Ora, se a negação trouxe ao mundo a salvação, o que significa a aceitação, se não que o mundo entra na glória de Cristo ressuscitado? Em outras palavras, o reconhecimento de Cristo como o Messias e o Senhor por parte do povo judeu significa que a história humana chegou à sua conclusão.



Trata-se de uma convicção de fé bem enraizada na primitiva comunidade cristã. Pedro, antes ainda do que Paulo, o diz em seu discurso aos judeus de Jerusalém, depois de Pentecostes: “Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para serem apagados os vossos pecados. Virão assim da parte do Senhor os tempos de refrigério e ele enviará aquele que vos é destinado: Cristo Jesus. É necessário, porém, que o céu o receba até aos tempos da restauração universal, da qual falou Deus outrora pela boca dos seus santos profetas” (At 3,19-21).


Qual seria a origem desta convicção de fé da Igreja apostólica, segundo a qual a segunda vinda de Cristo está estreitamente ligada à conversão de todo Israel? É razoável pensar que a fonte original seja a palavra mesma de Jesus. De fato, encontramos a este respeito um indício bem preciso nos Evangelhos, quando Jesus, meditando sobre a recusa de Jerusalém, prediz a destruição do templo, por sua vez sinal profético das dores do fim dos tempos: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne seus pintinhos debaixo de suas asas... e tu não quiseste! Pois bem, a vossa casa vos é deixada deserta. Porque eu vos digo: Já não me vereis de hoje em diante, até que digais: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor” (Mt 23,37-39). Podemos, portanto, concluir que, na visão católica do fim dos tempos, a vinda de Cristo na glória esteja estreitamente ligada à sua aceitação por parte de Israel.

É lícito, portanto, afirmar que antes da conversão de Israel não acontecerá o fim do mundo? A este respeito, assim se exprime o Catecismo da Igreja Católica: “A entrada da plenitude dos judeus na salvação messiânica, depois da “plenitude dos pagãos” (Rm 11, 25), permitirá ao Povo de Deus chegar à plena maturidade de Cristo na qual Deus será tudo em todos” (n 674). Isto significa que não é possível prever a conclusao da história com a vinda de Cristo juiz sem a Sua aceitação por parte de todo Israel. O sim de Maria tornou possível a primeira vinda na humildade da carne. O sim de Israel tornará possível a segunda vinda com poder e glória.

O FIM DOS TEMPOS

Chamamos de “últimos tempos” a fase da história humana que estamos vivendo e que compreende o período de tempo que vai da ascensão até a parusia. Não sabemos quanto irá durar esta fase definitiva da história, na qual a graça da salvação é oferecida aos homens. Tenhamos em mente que a fase precedente, aquela da espera, depois da queda original e da expulsão dos primeiros pais do Paraíso, durou um tempo muito longo, um período de centenas de milhares de anos. Deus não tem a nossa pressa e “diante dele um dia é como mil anos e mil anos como um dia”. Por outro lado, acrescenta Pedro, “o Senhor não retarda o cumprimento de sua promessa, como alguns pensam, mas usa da paciência para convosco. Não quer que alguém pereça; ao contrário, quer que todos se arrependam. Entretanto, virá o dia do Senhor como ladrão. Naquele dia, os céus passarão com ruído, os elementos abrasados se dissolverão, e será consumida a terra e todas as obras que ela contém" (2Pt 3,8-10).

É certo, portanto, que este mundo vai acabar, como também a ciência nos assegura, ao menos em relação ao nosso planeta. Não sabemos quando. Mas, como vêem, o clima de espera e de vigilância pode durar tempos intermináveis. As medidas de Deus não são as nossas. A espera pela primeira vinda foi muito longa. Como se pode excluir que a espera pela segunda vinda demore ainda mais? A revelação divina, que exclui qualquer indicação sobre o dia e a hora, não se limita a subordinar a vinda do Senhor à conversão de todo Israel, mas a coloca num contexto bem preciso. É a própria palavra de Cristo a indicar cenários inquietantes. O fim dos tempos, isto é, os dias que precedem imediatamente a segunda vinda, serão caracterizados por uma prova final que abalará a fé de muitos crentes. Nesse sentido, Jesus se pergunta: “Quando vier o Filho do homem, acaso achará fé sobre a terra?” (Lc 18,8). Frase misteriosa, a cujo sentido não se pode absolutamente fugir. Só um “pequeno rebanho” perseverará na fé até o fim e esperará a vinda do Senhor, enquanto que a maior parte dos homens, inclusive muitos crentes, terá perdido a fé.



Em outro contexto, Jesus acrescenta, ao eclipse da fé, o resfriamento da caridade. Na verdade, não é possível perder uma sem perder também a outra. Falando das “dores” do fim, assim se exprime: “Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos. E, ante o progresso crescente da iniqüidade, a caridade de muitos de esfriará. Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 24, 11).



Jesus, como vêem, coloca o fim do mundo num contexto de grande apostasia da fé. Num mundo no qual o Evangelho do Reino terá sido anunciado por toda parte da terra (cf. Mt 24,14) acontecerá a rejeição do cristianismo por parte de muitos que haviam aderido a ele. É neste clima de traição que se coloca a vinda de Cristo juiz.

Traduzido do italiano para o português por Tania

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