domingo, 27 de março de 2011

Vocação e Vida no Planeta

O tema da Campanha da Fraternidade deste ano de 2011 é a vida no planeta, tema que consegue abarcar positivamente uma quantidade enorme de assuntos. Um desses assuntos é a vocação, uma vez que ela é uma graça por Deus introduzida na natureza de modo que cada homem possa servir ao próximo de maneira amorosa e verdadeira.

Nas três encíclicas do Papa Bento XVI, destacam-se ensinamentos como aquele sobre o fato de que a administração do mundo está caminhando para ser única e mundial, quando então aconselha que tudo se faça com caridade e verdade. Para fazer as coisas assim, ensina que se deve somar a competência profissional adquirida ao longo da vida à intenção caridosa, para que ela não fique apenas na intenção. Assim, se me compadeço de alguém mergulhado em dificuldades psicológicas, tenho de possuir verdadeira competência firmada para ajudá-lo. Caso não seja assim, ao invés de ajudar ao sofredor vou aumentar-lhe os problemas, simplesmente apoiando suas razões de revolta e ressentimento contra as pessoas que eventualmente o injustiçaram. Possuindo vocação compatível com o ofício de ajudar ao próximo por meio de conselhos, é necessário que o faça com competência suficiente para não incorrer em erro. Caso contrário, ao invés de ajudar a que o outro se eleve acima de seus problemas, corro o risco de rebaixar minha alma a desejos e sentimentos capazes de corrompê-la.

Nem sempre ocorre – e talvez não ocorra na maioria dos casos – de a pessoa encaixar-se numa profissão de fato compatível com sua vocação. Feliz de quem consegue fazer isso. Mas para os que não o conseguem, ainda há a possibilidade de voluntariamente reservarem parte de seu tempo diário, semanal, etc., a alguma atividade vocacionada. Assim fazendo, estará agindo melhor que o personagem da parábola dos talentos, o que recebeu apenas um e o enterrou, impedindo-o de “render juros”. Não organizar a vida em torno à vocação não cancela a posse da vocação, mas apenas diminui a amplitude dos seus resultados positivos. Quem aproveita parte do tempo que possui para servir ao próximo, ainda que tal tempo represente pequena parcela semanal a isto dedicada, é como se tivesse colocando o próprio “talento” nas mãos de quem pode “aplicá-lo a juros”, como o infeliz personagem da citada parábola deveria ter feito.

Das quatro vocações principais, às quais podem ser referidas todas as demais vocações particulares, há a própria de quem ensina, de quem soluciona problemas práticos, de quem encanta a alma do próximo e a de quem fala em nome do próximo. Cada pessoa pode fazer uma ou outra dessas coisas, dentro dos limites de suas possibilidades, e deve fazê-lo a melhor maneira possível. Quem é vocacionado a ensinar deve esforçar-se por aprender ainda que poucas coisas, para poder ensiná-las com correção e firmeza, o mesmo talento para os vocacionados a coisas práticas, estéticas ou sociais.

Ora, Deus criou o cosmos e nele colocou o planeta em que habitamos para que dele cuidássemos e não simplesmente o consumíssemos. Cuidar do planeta de maneira alguma é adorá-lo, pecando contra o primeiro e o mais superior de todos os 10 mandamentos, “Não terás outros deuses diante de mim”; é cuidar do que há de mais precioso nele, o homem, cuja vida manifesta sua real grandeza quando colocada a serviço de Deus, em conformidade com a vocação e estado de vida de cada um.

Ao longo de mais de 20 séculos tentou-se ensinar ao maior número de pessoas os princípios da Ética, que podem ser resumidos pela sentença “esforço do homem em direção à felicidade, a qual só pode ser verdadeira felicidade quando resultado de uma vida virtuosa”. E vida virtuosa é a vida de quem canaliza a natural agressividade para manter-se empenhado em fazer o bem e afastar-se do mal; refreia as paixões que inclinam o homem ao desejo de possuir mais do que necessita para sustentar a própria vida e a da espécie; age com prudência e, acima de tudo, pratica a justiça, não retendo nem tomando o que ao outro pertence. Todas essas qualidades ou virtudes se adquirem com mais facilidade quando não há divergência entre a vocação e o esquema de vida adotado. Pois assim ocorrendo, as contrariedades interiores diminuem ou mesmo desaparecem, e a pessoa adquire o hábito de estar “inteira” naquilo que faz.


Que a Campanha da Fraternidade deste ano seja, na vida de cada um de nós, ocasião para dizermos “sim” ao chamamento que é a vocação, tanto natural quanto sobrenatural. Assim fazendo, estaremos contribuindo para a vida no planeta, já que estaremos cuidando da vida mesma do homem, a serviço da qual todas as demais coisas materiais foram criadas.

Joel Nunes dos Santos, 25 de março de 2011.

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