domingo, 6 de fevereiro de 2011

A Vocação Sobrenatural e a Natural

“A graça aperfeiçoa a natureza”, ensina-nos Santo Tomás de Aquino. A fé não é contrária à razão, mas sim o que a aperfeiçoa. Este mesmo princípio pode ser aplicado proveitosamente à vocação, no sentido de que a vocação sobrenatural dá direção positiva à vocação natural.

A vocação natural, quando cultivada de maneira esmerada, porém desvinculada da fé, esperança e caridade, costuma produzir frutos amargos que, ao invés de felicitarem o homem, nada mais faz que corrompê-lo e ameaçá-lo de perdição.

A vocação natural dota a pessoa do potencial para fazer bem isto ou aquilo, tecnicamente falando. Mas fazer alguma coisa bem não significa necessariamente fazer bem ao próximo. Para fazer bem ao próximo, é necessário deixar-se guiar pela fé, esperança e caridade; é necessário ter em mente que a qualquer momento Deus tomara satisfação de nossos atos. A vocação sobrenatural se manifesta com força em nossas vidas quando, ainda que estejamos agindo como se tudo dependesse de nós, sabemos claramente que na verdade tudo depende de Deus. Quando se cultiva a vocação natural desligada e até de maneira contrária à sobrenatural, o resultado disso não é nada bom. O risco de desvio e conseqüente perda da alma se torna enorme.

Vejamos um exemplo de um fenômeno deste tipo: Freud e sua psicanálise; o qual
Neste autor parece combinarem-se elementos da vocação artística e científica. Da parte artística de sua vocação deriva o encanto que seus seguidores viram em sua obra e por isso a ela aderiram; da parte científica, a aparência de trabalho fundado em provas e argumentos verdadeiros. Dentre outros fatores, um que não é nada desprezível, que lhe permitiu granjear tantos seguidores, é a exuberância do que se refere à parte artística de sua vocação.

Diz Santo Agostinho que “a arte lida com presenças”, no sentido de que o artista, fazendo uso de coisas materiais (como se vê na pintura, na escultura, etc.) ou imateriais (como a música, a poesia, a arte oratória), faz com que a imaginação do público se concentre nisto ou naquilo. A arte “imita a natureza”, faz os sentidos se comportarem quanto ao que não existe de modo parecido como se comportam com que a natureza fornece concretamente.

Alguns componentes desta doutrina que corroboram tratar-se de arte e não ciência.

Os seguidores desta doutrina admitem haver no homem um chamado “Complexo de Édipo”, cujo significado é este: o nascituro deseja ter intercurso sexual com o genitor do sexo oposto ao seu. O garoto deseja a mãe e a garota, ao pai. Para justificar sua ciência, este judeu ateu, neto de rabinos, tanto por parte de pai quanto de mãe, invoca a seu favor o personagem Édipo, da tragédia grega escrita por Sófocles, denominada “Édipo Rei”, que resumidamente é a seguinte: Édipo, que era rei, mata seu pai e relaciona-se sexualmente com sua mãe. Porém, ele não sabia que o homem que matara era seu pai e muito menos que a mulher com quem se relacionara era sua mãe. Como resultado de tal ação, seu reino passou a padecer catástrofes. Seu conselheiro (ou conselheiros) esclareceram-no que a causa de tais catástrofes foi a vileza da conduta de um certo criminoso, tomando o cuidado de não dizerem para ele que ele, o rei, era o homem vil da história. Claro, ele poderia mandar matá-los. Édipo aceitou que a causa das catástrofes foi a mencionada pelos seus conselheiros e, em resposta, determinou que tão logo o pulha fosse encontrado, sofreria justa e severa punição. Seus conselheiros lhe deram pistas suficientes que o levaram a descobrir que ele, o próprio rei, era o pulha procurado. Ele então cegou-se com as próprias mãos.

Pois bem, ao ler a tragédia de Sófocles, fica claro que Édipo considerou sua conduta quase tão vil quanto nós, cristãos, a consideraríamos. Neste personagem está presente uma das verdades que a Igreja ensina, que a Lei Natural está inscrita na alma do homem. A Lei Natural inicia pelo mandamento “Honrar pai e mãe”. A reação de Édipo, o rei, é conforme com o que manda este mandamento; ele em momento algum aceita que algum homem possa ter desejos libidinosos por seus genitores. Isto é algo transparente como água na tragédia de Sófocles.

Contudo, Freud, para dar ares de antigüidade a seu pensamento, denomina “Complexo de Édipo” o cerne de sua doutrina, levando muitos a acreditarem que ele apenas repetia modernamente o que era um conhecimento milenar. E o que é o tal “Complexo de Édipo”? O Complexo de Édipo, de Freud é algo assim como a inclinação natural da alma do homem a desejar sexual, ainda nascituro, o genitor de sexo oposto ao seu: o menino deseja ter intercurso sexual com a mãe e a menina, com o pai.

Curiosamente, somente em indivíduos com grave patologia mental se verifica a presença de desejo tão mórbido, não havendo registro de algum ser humano são que o tenha manifestado. Além disso, não parece haver algum psicanalista que aceite aplicar a si mesmo o conteúdo desta doutrina – quando algum o faz, dá tratamento tão figurado e simbólico que lhe retira qualquer vínculo com o sexo entendido em suas raízes biológicas. Tanto é assim que um conhecido, ao assistir a aula de psicanalista, perguntou-lhe se ela identificava em si mesmo desejo sexual por seu pai, quer no passado quanto no presente – o que lhe custou a expulsão da sala e sua desistência do curso.

Ora, se nem o proponente da doutrina aceita aplicá-la a si próprio – o contrário do que se vê na Igreja: “Servo dos servos de Deus” é o dístico com que o papa João Paulo II se identificava – como se dá o fenômeno de ela ser aceita como se ciência fosse? Sem ser a única razão, mas uma que possui peso enorme, é esta: o proponente desta doutrina possuia a arte como vocação natural.

Este não é caso único. Há inúmeros outros, valendo mencionar aqui dois que ainda gozam de bastante prestígio: Darwin e Marx. Verifica-se o mesmo no caso de ambos: a leitura das obras desses autores não exibe nenhuma prova aceitável do fundamento das premissas a ele atribuídas. Darwin (ou qualquer de seus seguidores) nunca exibiu qualquer prova de que tenha sido constatado alguma vez a existência de uma espécie derivada de outra. Como dizia Aristóteles, as espécies são tão diferentes entre si quanto os números. Nenhum número se transforma em outro, mas cada um é um, o um sendo tão distinto do dois quanto é distinto do cem, do mil, do milhão, do bilhão... O mesmo se dá com as espécies. Marx (ou qualquer de seus seguidores) nunca exibiu qualquer prova de que a abolição da propriedade privada gera sociedade justa; pelo contrário, gera somente escravidão e morte, pois abolir a propriedade privada vai contra o fato de o homem ser (e ter de ser) senhor do próprio corpo. Além do mais, se o homem não possuir bens que sejam seus, como ele pode praticar a caridade? Eu não posso fazer caridade com o dinheiro alheio, mas somente com o meu próprio.
A habilidade artística dos mencionados “sábios” parece justificar o encanto que suas doutrinas exerceram e exercem sobre o espírito de muitas pessoas, dentre as quais é incontável o número de indivíduos bem-intencionados e seriamente preocupados com o bem do próximo.

A Psicanálise afirma sobre o homem o contrário do que a Igreja afirma; a ciência – entendida como a correspondência biunívoca entre fatos ou fenômenos observados e princípios – depõe contra a psicanálise, pois não há registro de alguém não afetado por patologia que se enquadre na concepção de homem por ela defendida. Portanto, não é possível ser católico e freudiano, pois não é possível servir a dois senhores, “porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro” (Mat. 6, 24).

É muito necessário que o maior número de católicos possível saiba o que é vocação, suas características, sua distinção entre natural e sobrenatural, como identificá-la em si e nos outros, etc., de modo que desenvolva instrumentos intelectuais úteis ao cumprimento da exortação de São Pedro, o primeiro Papa: “Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito.” (I Pe. 3, 15).

É com o desejo de ser de alguma utilidade neste conhecimento que venho tornando pública minha reflexão a respeito deste assunto, agradecendo a Deus pela graça de ter conhecido o Pe. Mateus Maria, que deu-me liberdade de fazê-lo.

Joel, em 5 de fevereiro de 2011.

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