domingo, 13 de fevereiro de 2011

O que é Vocação

Na vocação sobrenatural estão presentes a fé, a esperança e a caridade, que engloba a natural, na qual se une como numa unidade a razão, a vontade e a afetividade.

A vocação natural manifesta-se através das ações dotadas de pleno sentido existencial. Para que isto ocorra, é necessário que a pessoa conheça (ou tenha facilidade natural para conhecer) o que faz, queira fazer o que faz e goste do que faz. Numa palavra, que estejam reunidos, como numa unidade, a razão, a vontade e o entendimento.

A vocação é uma coisa extraordinária, não no sentido de ser privilégio desta ou aquela pessoa “sortuda”, mas no sentido de que se trata de uma graça tão comum que nem nos damos conta de sua grandeza. Igual ao que acontece com o dom da vida, que é algo ao mesmo tempo tão maravilhoso e cotidiano que não nos lembramos de agradecê-la a Deus todo dia. Costumo dizer que “o amor pela criança nos faz tolerar sem nojo fralda suja”. É isto que a vocação provoca em nós: aceitamos, gostamos, toleramos coisas e situações que para os de vocações diferentes da nossa seriam inaceitáveis.

Uma situação comum e por isso de fácil observação, que mostra a unidade entre a razão, a vontade e a afetividade, é a relação da mãe com sua criança. É visível como ela consegue perceber a causa do desconforto da criança mesmo sendo totalmente desprovida de cultura médica ou psicológica. É visível também que ela quer cuidar da sua criança e só por algum motivo fora de suas possibilidades de superá-lo aceita deixa-la com outra pessoa; mas ainda assim sente um pouco de culpa por fazer isso.
Além disso, não resiste ao choro e aos apelos de sua criança, ficando transtornada quando a vê com febre ou padecendo de algum outro mal. Ora, identificar a causa das coisas é papel da razão; querer, da vontade e sentir, da afetividade. A mãe, quando o assunto é sua criança, compreende, quer e sente o que for necessário para que ela fique bem.

Assim também se dá com o que é vocacionado: a pessoa manifesta facilidade para entender do assunto, quer que sua vida seja organizada em torno deste assunto e sente atração pelo que tem relação com tal assunto. Algo que se manifesta desde muito cedo na vida, desde criança. Por exemplo, observe duas crianças numa mesma escola, digamos, de música. Aquela cuja vocação é artístico-musical conseguirá atingir em poucos meses nível de desenvolvimento muito superior a outra que, não obstante seja inteligente, não possua o mesmo tipo de vocação. Pode até acontecer de esta segunda criança, não vocacionada à música, ser tão inteligente que compreenda mais rapidamente os elementos da música do que a outra, vocacionada. Porém, ela chegará a um certo nível de desenvolvimento que não prosseguirá, por uma razão: ela não se interessa tanto pelo assunto a ponto de sacrificar outras coisas por causa disso. Ela compreende, tem facilidade para compreender, mas falta-lhe vontade para prosseguir o estudo da música. Além disso, o assunto música não a atrairá tanto a ponto de ela ficar distante da atração por outras coisas que terminarão por consumir tanto seu tempo que não lhe sobrará tempo ou disposição interior para dedicar-se àquela arte.

Pelo fato de a vocação constituir a unidade entre razão, vontade e afetividade, as ações ou práticas com ela relacionadas provocam na pessoa a sensação de sentido pleno, faz com que a pessoa se sinta realmente “inteira” naquilo que está fazendo. O que permite definir a vocação como

“aquilo que dota as ações de sentido existencial pleno como resultado da adesão voluntária da alma a um dever que nunca se esgota.”

Nos artigos seguintes procurarei esclarecer cada termo desta definição, de modo que ela fique suficientemente clara, a ponto de permitir o desenvolvimento do hábito de responder à pergunta “Qual é a minha vocação e com que profissão ou trabalho, remunerado ou não, ela combina?”
Na sequência será possível perceber as características da vocação natural nos santos que a Igreja nos oferece como exemplos a serem imitados.

Joel Nunes dos Santos, em 12 de fevereiro de 2011.

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