Queridos irmãos e irmãs, a paz! Neste texto, Dom Gabriele Amorth nos mostra que a apresentação de Jesus no Templo foi uma verdadeira oferta sacrifical e nos leva a refletir sobre o profundo significado deste acontecimento de tão grande valor profético. Aprendi muito com o texto. Espero que vocês tirem também bastante proveito dele.
O Evangelho de Lucas narra que Maria e José, em cumprimento à Lei de Moisés, “levaram o menino (Jesus) a Jerusalém para oferecê-lo ao Senhor” (cf. 2, 22). Mas na realidade, o evangelista da infância de Cristo descreve o comportamento de Maria e de José com particularidades únicas, que fazem entrever que eles realizaram plenamente aquele rito que era feito de uma forma que velava a realidade, cumprida só com Jesus.
Em primeiro lugar, não estava prescrito que os esposos se dirigissem ao Templo. Já este fato nos mostra que foi feito mais do que a obrigação, mesmo que a proximidade entre Belém e Jerusalém tornasse fácil este tributo não exigido. Não encontramos nenhum outro exemplo similar na Bíblia.
Depois, Lucas fala da “purificação deles” (Lc 2, 22), incluindo José. Também este detalhe revela uma profunda finalidade. Os santos cônjuges, por uma indubitável inspiração divina, ofereceram verdadeiramente aquele filho ao Pai, Àquele que era o verdadeiro Pai sob todos os pontos de vista. Mas fica evidente que ele foi oferecido pelos pecados, como é a sua missão. Por isso, Lucas colocou juntos José e Maria: os dois esposos se tornam os representantes de todo o povo, para que a oferta de Jesus acontecesse num contexto de purificação.
O valor deste episódio se torna profético. Não nos esqueçamos de que, para Lucas, Jerusalém é vista sempre como a cidade da Paixão. Aqui nós notamos que não tem importância o rito de purificação da mãe. Porém, tem enorme importância a oferta do filho: verdadeira oferta sacrifical, à qual Maria se associa, compreendendo seu significado, mesmo que tenha compreendido só vagamente que se tratasse de um presságio e de uma antecipação de uma oferta muito diferente, aquela da Cruz. A Cruz será a salvação de toda a humanidade, e já aqui Jesus é proclamado “luz para iluminar as nações” (Lc 2, 32).
A profecia de Simeão e Ana
De fato, neste momento se insere um fato que completa e explica plenamente a oferta sacrifical que acabara de acontecer: o encontro com o velho Simeão. Este piedoso israelita tinha recebido uma promessa do Espírito Santo: “Não morrerás antes de teres visto o Messias” (cf Lc 2, 25-26). É o Espírito que o impele a ir ao Templo naquele dia e é o Espírito que, em meio à confusão habitual do Templo, o faz aproximar-se dos jovens esposos. Dirige-se à mãe surpresa, para pedir-lhe um favor: deseja segurar o menino nos braços, quer olhá-lo bem, para então pronunciar uma oração estupenda, que faz com que os jovens esposos compreendam que o Senhor lhe havia revelado a verdadeira identidade daquele menino: “Agora, Senhor, podes levar-me na tua paz, porque me deste a alegria de ver o Salvador, como me havias prometido”. E exalta o menino: “Luz das nações e glória de Israel” (cf Lc 2, 23-32).
Mas neste momento o encontro com o santo velho dá uma reviravolta. O rosto de Simeão terá talvez se obscurecido, enquanto se dirige diretamente à mãe para fazer uma dupla e dolorosa profecia: sobre o menino e sobre ela mesma, assim plenamente associada à missão do filho. Quem sabe o quanto aquelas palavras caíram pesadas no coração de Maria: “Ele veio para a queda e para a ressurreição de muitos em Israel e como sinal de contradição”. E aquelas palavras proféticas, não menos graves, dirigidas a ela: “E uma espada transpassará a tua alma” (cf. Lc 2, 34). É como um segundo anúncio feito a Maria, “Corredentora” na Paixão do Filho.
Neste momento, para os surpresos Maria e José, deve ter sido um grande bálsamo a presença da velha profetiza Ana, também ela cheia do Espírito Santo, a qual demonstra ter recebido plena revelação da verdadeira identidade de Jesus, pelo qual “louva a Deus e fala do menino, indicando-o como o Salvador a todos aqueles que esperavam a redenção de Jerusalém” (cf. Lc 2, 38).
João Paulo II comenta, na Carta apostólica “Rosarium Virginis Mariae": “(Este quarto mistério gozoso), embora conservando o sabor da alegria, antecipa já os sinais do drama. A apresentação ao Templo, de fato, enquanto exprime a alegria da consagração e extasia o velho Simeão, registra também a profecia do “sinal de contradição” que o Menino será para Israel e da espada que trespassará a alma da Mãe (cf. Lc 2, 34-35)” (RVM, 20).
Dom Gabriele Amorth
Traduzido do italiano para o português, por Tania
O Evangelho de Lucas narra que Maria e José, em cumprimento à Lei de Moisés, “levaram o menino (Jesus) a Jerusalém para oferecê-lo ao Senhor” (cf. 2, 22). Mas na realidade, o evangelista da infância de Cristo descreve o comportamento de Maria e de José com particularidades únicas, que fazem entrever que eles realizaram plenamente aquele rito que era feito de uma forma que velava a realidade, cumprida só com Jesus.
Em primeiro lugar, não estava prescrito que os esposos se dirigissem ao Templo. Já este fato nos mostra que foi feito mais do que a obrigação, mesmo que a proximidade entre Belém e Jerusalém tornasse fácil este tributo não exigido. Não encontramos nenhum outro exemplo similar na Bíblia.
Depois, Lucas fala da “purificação deles” (Lc 2, 22), incluindo José. Também este detalhe revela uma profunda finalidade. Os santos cônjuges, por uma indubitável inspiração divina, ofereceram verdadeiramente aquele filho ao Pai, Àquele que era o verdadeiro Pai sob todos os pontos de vista. Mas fica evidente que ele foi oferecido pelos pecados, como é a sua missão. Por isso, Lucas colocou juntos José e Maria: os dois esposos se tornam os representantes de todo o povo, para que a oferta de Jesus acontecesse num contexto de purificação.
O valor deste episódio se torna profético. Não nos esqueçamos de que, para Lucas, Jerusalém é vista sempre como a cidade da Paixão. Aqui nós notamos que não tem importância o rito de purificação da mãe. Porém, tem enorme importância a oferta do filho: verdadeira oferta sacrifical, à qual Maria se associa, compreendendo seu significado, mesmo que tenha compreendido só vagamente que se tratasse de um presságio e de uma antecipação de uma oferta muito diferente, aquela da Cruz. A Cruz será a salvação de toda a humanidade, e já aqui Jesus é proclamado “luz para iluminar as nações” (Lc 2, 32).
A profecia de Simeão e Ana
De fato, neste momento se insere um fato que completa e explica plenamente a oferta sacrifical que acabara de acontecer: o encontro com o velho Simeão. Este piedoso israelita tinha recebido uma promessa do Espírito Santo: “Não morrerás antes de teres visto o Messias” (cf Lc 2, 25-26). É o Espírito que o impele a ir ao Templo naquele dia e é o Espírito que, em meio à confusão habitual do Templo, o faz aproximar-se dos jovens esposos. Dirige-se à mãe surpresa, para pedir-lhe um favor: deseja segurar o menino nos braços, quer olhá-lo bem, para então pronunciar uma oração estupenda, que faz com que os jovens esposos compreendam que o Senhor lhe havia revelado a verdadeira identidade daquele menino: “Agora, Senhor, podes levar-me na tua paz, porque me deste a alegria de ver o Salvador, como me havias prometido”. E exalta o menino: “Luz das nações e glória de Israel” (cf Lc 2, 23-32).
Mas neste momento o encontro com o santo velho dá uma reviravolta. O rosto de Simeão terá talvez se obscurecido, enquanto se dirige diretamente à mãe para fazer uma dupla e dolorosa profecia: sobre o menino e sobre ela mesma, assim plenamente associada à missão do filho. Quem sabe o quanto aquelas palavras caíram pesadas no coração de Maria: “Ele veio para a queda e para a ressurreição de muitos em Israel e como sinal de contradição”. E aquelas palavras proféticas, não menos graves, dirigidas a ela: “E uma espada transpassará a tua alma” (cf. Lc 2, 34). É como um segundo anúncio feito a Maria, “Corredentora” na Paixão do Filho.
Neste momento, para os surpresos Maria e José, deve ter sido um grande bálsamo a presença da velha profetiza Ana, também ela cheia do Espírito Santo, a qual demonstra ter recebido plena revelação da verdadeira identidade de Jesus, pelo qual “louva a Deus e fala do menino, indicando-o como o Salvador a todos aqueles que esperavam a redenção de Jerusalém” (cf. Lc 2, 38).
João Paulo II comenta, na Carta apostólica “Rosarium Virginis Mariae": “(Este quarto mistério gozoso), embora conservando o sabor da alegria, antecipa já os sinais do drama. A apresentação ao Templo, de fato, enquanto exprime a alegria da consagração e extasia o velho Simeão, registra também a profecia do “sinal de contradição” que o Menino será para Israel e da espada que trespassará a alma da Mãe (cf. Lc 2, 34-35)” (RVM, 20).
Dom Gabriele Amorth
Traduzido do italiano para o português, por Tania
Nenhum comentário:
Postar um comentário