domingo, 6 de fevereiro de 2011

Madres do Deserto - Santa Macrina - Parte III



A herança de Macrina

Sua mãe que gozava de uma feliz ancianidade, emigrou para Deus, expirando nos braços de Macrina e Pedro.

Sem dúvida santa Macrina deixou uma herança monástica feminina, modelo para aquelas que a seguiram mais tarde. Em sua casa, convertida em mosteiro, se praticou com grande espírito a vida cenobítica: desprendimento total de todo desejo mundano; carência absoluta do supérfluo ou vão; pobreza no mobiliário e no vestuário, que consistia em uma em uma única túnica, que servia de proteção da honestidade em vida e em mortalha na morte; austeridade na comida, e que como temos visto, era vínculo de união e comunhão entre as mais antigas senhoras e servas; canto contínuo dos salmos, que elevava as almas ao céu em sublime arrebatamento de amor, e trabalho manual moderado.

Com toda segurança Macrina deu a seu irmão Basílio a semente de seu monaquismo, vivido muito antes por ela e suas discípulas. Por influência de sua santa irmã, Basílio renunciou às pompas e a glória do mundo e abraçou a vida monástica. Também, quando morre Basílio em 379, Macrina vende quanto lhe restava do patrimônio familiar e o dá aos pobres. Diz-se que santa Macrina viveu e cultivou a ternura e a delicadeza de serviço que vivia a Virgem na casa de Nazaré.


A morte de Macrina

A morte desta santa a descreve seu irmão Gregório de Nissa, que antes de encontrá-la havia tido um forte pressentimento: algo grave havia de ocorrer à sua irmã tão querida...

Segue a narração...

“Entrei no mosteiro onde ela habitava, tinha muito avançada a doença e vi-a deitada sobre o leito, mas não sobre uma cama, mas no solo, tinha uma tábua de saco, e ao modo de uma almofada, um pedaço de madeira que sustentava elevada sua cabeça. Ao notar que eu estava na porta para entrar, apoiando o corpo, fez o possível para erguer-se, coisa que não pôde fazer pela intensidade da febre. E como não conseguia a tomei em meus braços e a coloquei em seu leito normal.

Aqui foi quando, levantando as mãos ao céu exclamou: GRAÇAS A TI MEU DEUS E SENHOR, QUE ME CONCEDEU ISSO E SATISFEZ O QUE TANTO ANSIAVA EM MEU CORAÇÃO, MOVENDO O TEU SERVO PARA QUE FIZESSE ESTA VISITA A TUA ESCRAVA.

E enquanto dizia isso, para evitar molestar os demais, suavizava a força do sufucamento procurando dissimular a dificuldade que sentia na respiração. Fazia transparecer alegria ao seu redor, introduzindo, ela mesma, conversações gostosas e fazendo-me mil perguntas para dar matéria a essa conversação.
Porém, quando no curso destas conversas começamos a falar de Basílio (que havia falecido com 49 anos, em 1 de janeiro do ano de 379), já não pude mais conter a emoção: uma grande tristeza cobriu meu rosto, e as lágrimas começaram a correr por meus olhos.

Ela, serena, tomando precisamente a ocasião da morte de nosso irmão, aproveitou para remontar uma magnífica exposição das causas e dos acontecimentos humanos ocultos na providência divina, aquilo que se tem por desgraça entre os homens. Como inspirada por luz celestial, falou largamente sobre os bens da vida futura; e fez isto de modo que ao influxo de suas palavras, minha alma, diante do que ouvia de seus lábios, transportou-se à região mais altas, saindo tudo o que era humano.

A febre a tinha consumido, e sem força, seu corpo parecia como envolvido em um orvalho congelado, que acelerava a sua morte; porém sua cabeça, lúcida, parecia ilesa de toda enfermidade, que voava sem obstáculo à mais elevada contemplação...
A deixei um pouco sozinha, porque havia me pedido, e fui descansar um pouco. Porém, foi um inútil empenho, pois meu coração pesava por causa da tristeza e eu partilhei meus sentimentos com aqueles que me acompanhavam. Todos sentiam esse pesar.

Ela sabendo disso, mandou-nos dizer que tivéssemos ânimo, pois se sentia melhor... A tão boa notícia nos levantamos e fomos ficar com ela...


Continuamos na próxima semana...
Fiquem na paz!
Madre Rosa Maria de Lima, F.M.D.J

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