domingo, 20 de fevereiro de 2011

Madres do Deserto – Santa Macrina – Parte V




Terminando a oração de Santa Macrina, São Gregório continua sua narração...

“Dizendo isto, fez em seus olhos, lábios e coração o sinal da cruz. Depois, já com a língua ressecada, pouco a pouco por causa da febre, apenas podia balbuciar as palavras. Somente com o movimento dos lábios e das mãos que continuava sua oração.

Ainda esforçou-se para recitar as preces de ação de graças vespertinas. A falta de voz era suprida com o coração e com o movimento das mãos, ás vezes com um movimento quase imperceptível de seus lábios, mostrava o afeto do coração. Terminadas as preces, aquietaram-se suas mãos, dando sinais de que seus desejos estavam já cumpridos; logo, exalando um suspiro profundo, deu fim sua vida e sua oração, juntas.

Sem respiração, imóvel, era já um cadáver. Neste ponto lembrei-me que ela me havia suplicado, em nossa primeira conversa: seu desejo era que minhas mãos cerrassem suas pálpebras e seus lábios. Acheguei meus dedos a seu santo rosto, lânguido de tanto sofrer, fazendo isso somente para cumprir a súplica que me havia feito, pois não parecia estar morta, mas dormindo! Tão natural estava! Seus olhos haviam ficado confortavelmente cobertos pelas pálpebras; seus lábios estavam unidos um ao outro, e havia deixado suas mãos graciosamente entrelaçadas sobre o peito. Todo o corpo estava tão composto e pleno de dignidade.

Minha alma estava sob fortes impressões: por uma parte, o que viam meus olhos; por outra, os gemidos das virgens, que romperam em soluço ao meu lado com um pranto que perfurava o coração. Até então haviam se conservado valentes e silenciosas, dissuadindo a dor e a expressão de suas lágrimas, pelo respeito que professavam à sua grande mestra e pelo temor de que sem palavras as repreendesse. Não queriam de modo algum dar-lhe ocasião de desgosto. Porém agora já sem forças para conter o ímpeto de suas lágrimas, prorromperam-se em soluços e gemidos tão profundos e amargos como se o fogo abrasasse seus corações, fatigados por ter-se reprimido. Eu mesmo sentia que meu espírito perdia as forças, como se um golpe irresistível arrastasse violentamente toda minha alma em gemidos.”

As virgens que choravam a Macrina chamavam-na de mãe, pois muitas delas haviam sido recolhidas e salvas da indigência. As havia recolhido e agrupado quando caminhavam sem rumo pelos caminhos, sendo assim mãe de suas vocações.

Gregório segue a narração com este caloroso acento, como se seus sentimentos estivessem todos ao calor das tão queridas recordações familiares tão vivas nele:
Diz ele: “Me parecia razoável e justa a veemência da dor das virgens, pois certamente não choravam a perda de alguém de seu mesmo sangue, é que haviam perdido alguém que as fazia chorar amargamente como se tivessem sido segregadas da esperança divina e da mesma salvação eterna e lamentavam-se chorando e dizendo: Extinguiu-se a lâmpada de nossos olhos. Foi-nos arrebatada à luz, guia de nossas almas e a segurança de nossa vida. Já não está entre nós o selo da incorruptibilidade e nos foi arrancado o laço da nossa concórdia. Foi quebrado o braço que sustentava os fracos, e as mãos maternas que cuidavam dos enfermos... a teu lado Madre, a noite tornava-se dia, porque tua vida límpida era a nossa luz.

Depois de ter resgatado minha lama do abismo sem fundo da dor, coloquei meus olhos em seu santo rosto – o de Macrina – e notei como se me repreendesse por permitir a desordem e as vozes das virgens, então gritei fortemente: Vede a vossa Madre, olhai-a, e recordem os seus conselhos, suas exortações que em cada momento de vossa vida monástica vos deu a conhecer o que era próprio e correto. Esta alma pura e divina, ao prescrever, que desejaria ver correr vossas lágrimas somente durante a oração, já em tempo fixado para este alívio. Agora podeis converter as lamentações em salmodia.”

Dito isso, levantando a voz para dominar a gritaria das virgens, Gregório as convida a retirar-se. Permanecem na cela de Macrina somente as discípulas que mais intimamente haviam compartilhado a vida com a Madre.

E com elas, Gregório interroga qual era a vontade de Macrina, com que roupa ela gostaria de ser sepultada. Uma das virgens respondeu que Macrina não possuiu nada durante sua vida, ao que concerne ao vestir-se, nem preparara nada para a presente situação, de maneira que nem mesmo querendo encontraremos algo mais do que se vê aqui.

Continuamos na próxima semana...
Fiquem na paz!
Madre Rosa Maria de Lima, F.M.D.J

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