Terminando a oração de Santa Macrina, São Gregório continua sua narração...
“Dizendo isto, fez em seus olhos, lábios e coração o sinal da cruz. Depois, já com a língua ressecada, pouco a pouco por causa da febre, apenas podia balbuciar as palavras. Somente com o movimento dos lábios e das mãos que continuava sua oração.
Ainda esforçou-se para recitar as preces de ação de graças vespertinas. A falta de voz era suprida com o coração e com o movimento das mãos, ás vezes com um movimento quase imperceptível de seus lábios, mostrava o afeto do coração. Terminadas as preces, aquietaram-se suas mãos, dando sinais de que seus desejos estavam já cumpridos; logo, exalando um suspiro profundo, deu fim sua vida e sua oração, juntas.
Sem respiração, imóvel, era já um cadáver. Neste ponto lembrei-me que ela me havia suplicado, em nossa primeira conversa: seu desejo era que minhas mãos cerrassem suas pálpebras e seus lábios. Acheguei meus dedos a seu santo rosto, lânguido de tanto sofrer, fazendo isso somente para cumprir a súplica que me havia feito, pois não parecia estar morta, mas dormindo! Tão natural estava! Seus olhos haviam ficado confortavelmente cobertos pelas pálpebras; seus lábios estavam unidos um ao outro, e havia deixado suas mãos graciosamente entrelaçadas sobre o peito. Todo o corpo estava tão composto e pleno de dignidade.
Minha alma estava sob fortes impressões: por uma parte, o que viam meus olhos; por outra, os gemidos das virgens, que romperam em soluço ao meu lado com um pranto que perfurava o coração. Até então haviam se conservado valentes e silenciosas, dissuadindo a dor e a expressão de suas lágrimas, pelo respeito que professavam à sua grande mestra e pelo temor de que sem palavras as repreendesse. Não queriam de modo algum dar-lhe ocasião de desgosto. Porém agora já sem forças para conter o ímpeto de suas lágrimas, prorromperam-se em soluços e gemidos tão profundos e amargos como se o fogo abrasasse seus corações, fatigados por ter-se reprimido. Eu mesmo sentia que meu espírito perdia as forças, como se um golpe irresistível arrastasse violentamente toda minha alma em gemidos.”
As virgens que choravam a Macrina chamavam-na de mãe, pois muitas delas haviam sido recolhidas e salvas da indigência. As havia recolhido e agrupado quando caminhavam sem rumo pelos caminhos, sendo assim mãe de suas vocações.
Gregório segue a narração com este caloroso acento, como se seus sentimentos estivessem todos ao calor das tão queridas recordações familiares tão vivas nele:
Diz ele: “Me parecia razoável e justa a veemência da dor das virgens, pois certamente não choravam a perda de alguém de seu mesmo sangue, é que haviam perdido alguém que as fazia chorar amargamente como se tivessem sido segregadas da esperança divina e da mesma salvação eterna e lamentavam-se chorando e dizendo: Extinguiu-se a lâmpada de nossos olhos. Foi-nos arrebatada à luz, guia de nossas almas e a segurança de nossa vida. Já não está entre nós o selo da incorruptibilidade e nos foi arrancado o laço da nossa concórdia. Foi quebrado o braço que sustentava os fracos, e as mãos maternas que cuidavam dos enfermos... a teu lado Madre, a noite tornava-se dia, porque tua vida límpida era a nossa luz.
Depois de ter resgatado minha lama do abismo sem fundo da dor, coloquei meus olhos em seu santo rosto – o de Macrina – e notei como se me repreendesse por permitir a desordem e as vozes das virgens, então gritei fortemente: Vede a vossa Madre, olhai-a, e recordem os seus conselhos, suas exortações que em cada momento de vossa vida monástica vos deu a conhecer o que era próprio e correto. Esta alma pura e divina, ao prescrever, que desejaria ver correr vossas lágrimas somente durante a oração, já em tempo fixado para este alívio. Agora podeis converter as lamentações em salmodia.”
Dito isso, levantando a voz para dominar a gritaria das virgens, Gregório as convida a retirar-se. Permanecem na cela de Macrina somente as discípulas que mais intimamente haviam compartilhado a vida com a Madre.
E com elas, Gregório interroga qual era a vontade de Macrina, com que roupa ela gostaria de ser sepultada. Uma das virgens respondeu que Macrina não possuiu nada durante sua vida, ao que concerne ao vestir-se, nem preparara nada para a presente situação, de maneira que nem mesmo querendo encontraremos algo mais do que se vê aqui.
Continuamos na próxima semana...
Fiquem na paz!
Madre Rosa Maria de Lima, F.M.D.J
“Dizendo isto, fez em seus olhos, lábios e coração o sinal da cruz. Depois, já com a língua ressecada, pouco a pouco por causa da febre, apenas podia balbuciar as palavras. Somente com o movimento dos lábios e das mãos que continuava sua oração.
Ainda esforçou-se para recitar as preces de ação de graças vespertinas. A falta de voz era suprida com o coração e com o movimento das mãos, ás vezes com um movimento quase imperceptível de seus lábios, mostrava o afeto do coração. Terminadas as preces, aquietaram-se suas mãos, dando sinais de que seus desejos estavam já cumpridos; logo, exalando um suspiro profundo, deu fim sua vida e sua oração, juntas.
Sem respiração, imóvel, era já um cadáver. Neste ponto lembrei-me que ela me havia suplicado, em nossa primeira conversa: seu desejo era que minhas mãos cerrassem suas pálpebras e seus lábios. Acheguei meus dedos a seu santo rosto, lânguido de tanto sofrer, fazendo isso somente para cumprir a súplica que me havia feito, pois não parecia estar morta, mas dormindo! Tão natural estava! Seus olhos haviam ficado confortavelmente cobertos pelas pálpebras; seus lábios estavam unidos um ao outro, e havia deixado suas mãos graciosamente entrelaçadas sobre o peito. Todo o corpo estava tão composto e pleno de dignidade.
Minha alma estava sob fortes impressões: por uma parte, o que viam meus olhos; por outra, os gemidos das virgens, que romperam em soluço ao meu lado com um pranto que perfurava o coração. Até então haviam se conservado valentes e silenciosas, dissuadindo a dor e a expressão de suas lágrimas, pelo respeito que professavam à sua grande mestra e pelo temor de que sem palavras as repreendesse. Não queriam de modo algum dar-lhe ocasião de desgosto. Porém agora já sem forças para conter o ímpeto de suas lágrimas, prorromperam-se em soluços e gemidos tão profundos e amargos como se o fogo abrasasse seus corações, fatigados por ter-se reprimido. Eu mesmo sentia que meu espírito perdia as forças, como se um golpe irresistível arrastasse violentamente toda minha alma em gemidos.”
As virgens que choravam a Macrina chamavam-na de mãe, pois muitas delas haviam sido recolhidas e salvas da indigência. As havia recolhido e agrupado quando caminhavam sem rumo pelos caminhos, sendo assim mãe de suas vocações.
Gregório segue a narração com este caloroso acento, como se seus sentimentos estivessem todos ao calor das tão queridas recordações familiares tão vivas nele:
Diz ele: “Me parecia razoável e justa a veemência da dor das virgens, pois certamente não choravam a perda de alguém de seu mesmo sangue, é que haviam perdido alguém que as fazia chorar amargamente como se tivessem sido segregadas da esperança divina e da mesma salvação eterna e lamentavam-se chorando e dizendo: Extinguiu-se a lâmpada de nossos olhos. Foi-nos arrebatada à luz, guia de nossas almas e a segurança de nossa vida. Já não está entre nós o selo da incorruptibilidade e nos foi arrancado o laço da nossa concórdia. Foi quebrado o braço que sustentava os fracos, e as mãos maternas que cuidavam dos enfermos... a teu lado Madre, a noite tornava-se dia, porque tua vida límpida era a nossa luz.
Depois de ter resgatado minha lama do abismo sem fundo da dor, coloquei meus olhos em seu santo rosto – o de Macrina – e notei como se me repreendesse por permitir a desordem e as vozes das virgens, então gritei fortemente: Vede a vossa Madre, olhai-a, e recordem os seus conselhos, suas exortações que em cada momento de vossa vida monástica vos deu a conhecer o que era próprio e correto. Esta alma pura e divina, ao prescrever, que desejaria ver correr vossas lágrimas somente durante a oração, já em tempo fixado para este alívio. Agora podeis converter as lamentações em salmodia.”
Dito isso, levantando a voz para dominar a gritaria das virgens, Gregório as convida a retirar-se. Permanecem na cela de Macrina somente as discípulas que mais intimamente haviam compartilhado a vida com a Madre.
E com elas, Gregório interroga qual era a vontade de Macrina, com que roupa ela gostaria de ser sepultada. Uma das virgens respondeu que Macrina não possuiu nada durante sua vida, ao que concerne ao vestir-se, nem preparara nada para a presente situação, de maneira que nem mesmo querendo encontraremos algo mais do que se vê aqui.
Continuamos na próxima semana...
Fiquem na paz!
Madre Rosa Maria de Lima, F.M.D.J
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