domingo, 20 de fevereiro de 2011

Investigando a Vocação

A vocação sobrenatural tem como matéria as virtudes das quais Deus é o objeto; as vocações naturais têm como matéria os saberes são os correspondentes à filosofia, ciência, arte e altruísmo. Assim, os dois gêneros de vocação, a sobrenatural e a natural, distinguem-se do mesmo modo que o amor a Deus e o amor ao próximo.

Interessa-nos tratar da vocação natural, que se biparte em quatro, duas de índole intelectual e duas de índole afetiva, como não poderia ser diferente em se tratando do homem, que é um composto de alma e corpo, portanto de intelecto e sentidos.

As duas vocações de natureza intelectual são a filosófica e a científica, esta de índole material e prática e aquela de índole abstrata e disputativa.

As duas vocações de natureza afetiva são a artística e a altruística, esta de índole prática e aquela de natureza abstrativa.

O espírito de cada pessoa repousa de acordo com a natureza de sua vocação: os vocacionados à Filosofia, quando encontram solução para dilemas de ordem especulativa; os vocacionados à Ciência, quando encontram solução para dificuldades de ordem material e prática; os vocacionados à Arte, quando finalizam sua obra; os vocacionados ao Altruismo, quando assume como sua alguma motivação ou interesse de terceiros.

Como o próprio nome diz, vocação “natural”, isto é, vocação “que vem da natureza”, ou, noutras palavras, da “constituição física e psicológica da pessoa”, o dado mais imediato para investiga-la é partindo-se do conhecimento da família daquele cuja vocação deseja-se conhecer. Para quem não conheça a própria família, sua vocação pode ser conhecida investingando-se as três variáveis representadas pelos verbos querer, sentir e conhecer. Primeiramente, vamos supor que a pessoa a conhecer a vocação tenha informações sobre sua própria família.

A primeira questão a ser respondida é: “Quem é o parente mais bem-sucedido?”, podendo tratar-se de um ou vários.

Diz-se bem-sucedida a pessoa que não depende de terceiros, mas terceiros dela dependa. Tudo que o homem faz pode ser referido a uma das quatro possibilidades, representadas pelos objetos que caracterizam as quatro vocações naturais. Observando as famílias, nota-se que há sempre um traço vocacional principal geralmente acompanhado de outros complementares, o que resulta da combinação dos elementos de duas, três ou mesmo das quatro vocações numa mesma pessoa. Porém, a experiência mostra que sempre é possível identificar uma vocação principal, básica, à qual se soma como complemento elementos das demais vocações.

A título de exemplo, resumo de investigação de vocação de jovem de 16 anos, descendente de japoneses, cuja dúvida era cursar Engenharia ou Comunicações.

Seus dois parentes mais bem-sucedidos eram:

1) seu avô paterno, nascido no Japão. Veio do Japão para o Brasil depois da 1ª. Guerra, instalou-se em São Paulo, para onde trouxe a família. Abriu uma pensão, cujos rendimentos permitiram cuidar da família. Além disso, era homem que gostava de esportes, daí ter desempenhado relevante papel na criação de associação de atletas na região do Ipiranga em SP. Escreveu no jornal da colônia nipo- brasileira de SP, sendo um de seus fundadores. Traduzia correspondências vindas do Japão para os que quem não soubesse ler japonês e vertia para o japonês correspondências de brasileiros com parentes naquele país.
2) um de seus tios maternos, cuja história é muito edificante. O sonho deste homem, desde criança, era ser engenheiro. Não podia cursar porque acordava aproximada-mente às 5h30 e ia trabalhar para ajudar no sustento da família. Mas esta condição de vida não o impedia de sonhar algum dia fazer engenharia, que na época só havia na USP, no horário matutino. Até que um dia foi criada uma faculdade de engenharia numa cidade próxima da capital de São Paulo, e ele não pensou duas vezes: fez vestibular, passou e dormindo no máximo 5 horas por dia, graduou-se. Formado, foi contratado por uma multinacional com filial no Brasil, onde trabalhou por 26 anos, quando em resposta a algum plano econômico do governo,extingiu setores, dentre os quais aquele no qual trabalhava. Não se fez de rogado: criou uma empresa prestadora de serviços que fornecia peças, equipamentos e serviços para esta mesma empresa.

O denominador comum tanto entre os parentes acima citados quanto entre os demais, cujas informações omiti apenas por questão de brevidade, é o fato de entenderem que a primeira opção a ser adotada para a solução de problemas é do tipo próprio de pessoas vocacionadas à Engenharia ou ciências afins, com complementos culturais provindos da área de Comunicações e da Administração de Empresas.

Um sinal característico da vocação científica deste jovem para mim ficou claro quando, em resposta à pergunta que lhe fiz sobre sua vida, do que gostava, etc., fez uma análise da condições físicas da cidade de São Paulo no que respeita a vias de transporte, veículos e poluição.Suas idéias eram perfeitamente claras, dando a perceber quão dotada é sua mente para trabalhar com objetos que exijam raciocínio lógico-mecânico, como convém a um engenheiro por vocação.

Quanto à sua comunicabilidade, algo na ocasião em que o orientei não muito comum entre descendentes de japoneses, nada deixava a dever aos mais desenvoltos “brasileiros”. De modo que o que me pareceu ser-lhe conveniente (com o que ele seus pais concordaram) era Engenharia como formação principal e conhecimentos na área de Comunicações e Administração de Empresas como dados fortemente necessários, ainda que a título de complemento de sua formação acadêmica e pessoal. Ele parecia, jovem ainda, vocacionado a ofício de tipo técnico, como o de engenheiros cuja função é equacionar e propor soluções técnicas a problemas estruturais como os ligados a veículos, transportes, meio-ambiente e outros afins. Para tanto, ele precisaria ser engenheiro para dominar tecnicamente tais assuntos e habilidoso na arte de comunicar soluções técnicas numa linguagem possível de ser entendida por leigos – por exemplo, por políticos e empresários, categorias que definem no quê há de se investir dinheiro público.

Joel Nunes dos Santos, em 19 de fevereiro de 2010.

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