Louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!
Caros irmãos e irmãs, neste Domingo vamos penetrar mais a fundo no conteúdo do Sermão da Montanha e das Bem Aventuranças. O que vimos até aqui, nos dois últimos Domingos, foi como que uma sua introdução. São Mateus, ao nos conduzir aos pés da Montanha Sagrada o faz com o intuito de mostrar Nosso Senhor qual Novo Moisés. Lembrem-se que foi na Montanha do Sinai que ele recebeu os Dez Mandamentos. Também aqui, Jesus está. Só que Ele é mais que Moisés, pois não os recebe para nos dar, mas é Ele mesmo, com o Pai e o Espírito, o próprio Legislador. Por isso é Novo Moisés e mais do que Moisés. E é nisto que reside a sua autoridade. Mais, por isso somente Ele pode fazer o que hoje diz-nos: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas;
não vim revogar, mas completar”. Completar, pois os que haviam recebido não haviam plenamente compreendido. Transformaram os Mandamentos de Deus em um conjunto de regras a serem obedecidas à risca e de forma exterior. O que não era a intenção divina ao no-los conceder. Mas cumpre então perguntar: qual era a intenção de Deus ao nos conceder os Dez Mandamentos ou como eles devem ser vividos? São perguntas que devem ser respondidas para podermos vivê-los de acordo com a vontade divina neles expressa.
A I Leitura de Ben Sirácide nos ajuda a compreender. Conhecido como o Livro do Eclesiástico, os textos deste autor reúne os ensinamentos do bem viver segundo os costumes dos judeus que estavam correndo o risco de desaparecer. Ele resolveu escrever, inspirado por Deus, para preservar os judeus da tentação de se entregarem aos costumes pagãos dos gregos. “Estamos no início do séc. II a.C.; a cultura grega (instalada na Palestina desde 333 a.C., quando Alexandre da Macedônia venceu Dario III, em Issos, e se apossou da Palestina e do Egito) minava há já algum tempo, a cultura, a fé, os valores tradicionais de Israel. Os mais jovens abandonavam a fé dos pais, seduzidos pelo brilho superior dessa cultura universal, que era a cultura helênica”… (http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=686).
Esta situação muitas vezes lhes gerava escravidões e exílio, além das invasões e dos domínios estrangeiros. Ben Sirácide nos ensina também o mesmo. Quando preferimos nossas próprias idéias ou a dos que se apresentam como “salvadores da pátria” ou como quando damos ouvidos mais a homens e suas idéias do que a Deus, isso nunca acaba bem. Teríamos muitos exemplos a dar, mas basta citar a desgraça do Holocausto dos Judeus, a gravidez precoce de tantas adolescentes, muitas vezes o aborto que daí decorre de forma não espontânea, o voto dado às pessoas porque são famosas, bonitas ou porque dão-nos um “dinheirinho” a mais, mas que são contrários ao que Deus ensina... Isto nunca acabou bem. E os judeus piedosos sempre reconheceram isso! Os demais choram, se lamentam quando tudo dá errado e sofrem... isto quando não atribuem qual ação do demônio ou castigo de Deus o mal que sofrem. Ben Sirácide recorda-nos da parte de Deus: “Diante do homem estão a vida e a morte:
o que ele escolher, isso lhe será dado.
Porque é grande a sabedoria do Senhor,
Ele é forte e poderoso e vê todas as coisas.
Seus olhos estão sobre aqueles que O temem,
Ele conhece todas as coisas do homem.
Não mandou a ninguém fazer o mal,
nem deu licença a ninguém de cometer o pecado”.
De modo que, desde já é preciso esclarecer que o mal que se sofre é sempre conseqüência do pecado. Seja pecado pessoal ou pecado alheio que traz conseqüências para aqueles que praticam a justiça. Conseqüência, portanto de escolhas erradas confiando mais em esquemas próprios de conduta de vida do que aquele estilo de vida que nos deu o Senhor no Sinai como uma garantia de segurança na nossa relação com Ele e conosco mesmo e entre nós e com a inteira Criação...
São Paulo, recorda, por isso aos Coríntios: “Nós falamos de sabedoria entre os perfeitos,
mas de uma sabedoria que não é deste mundo,
nem dos príncipes deste mundo,
que vão ser destruídos”.
Voltemos ao Senhor nossos corações, elevemo-los acima das preocupações de todo dia, procuremos nos deixar guiar pelo Espírito Santo para, ouvindo o Senhor, compreendermos que os Mandamentos são um caminho seguro de liberdade, mesmo que sejam expressos com muitos “não”.
É o que Nosso Senhor hoje nos quer ensinar quando nos conduz à profundidade do mistério de Deus, do seu plano para nossa vida que São Paulo menciona. Deus quer que nos salvemos e que sejamos felizes e não é um inimigo da nossa liberdade, pelo contrário, é Ele quem a garante para nós ao indicar-nos o caminho da verdadeira vida. É neste sentido que Nosso Senhor, hoje qual Novo Moisés, diz completá-los, dar-lhes, pois, pleno cumprimento.
É necessário, para bem vivê-los, um convencimento da mente e do coração. Só assim, eles se tornarão um código de vida e não somente prescrições religiosas. Para isso, Nosso Senhor, hoje, dá três exemplos importantes. Vejamos:
1o. “Não matarás; quem matar será submetido a julgamento”.
Eu, porém, digo-vos”:
aqui já não se trata de tirar a vida física de alguém, mas de evitar a ira, as ofensas e tudo o que avilta o outro. Não se mata alguém também assim? Por isso Deus não aceita o culto e as ofertas de quem é inimigo de alguém. Podemos até ter inimigos e os temos, mas não podemos nós sê-lo. Devemos nos empenhar em viver em paz com todos para que nossas orações sejam ouvidas.
2o.“Não cometerás adultério”.
Não se trata só de relações carnais com outra pessoa que não seja esposa ou esposo de outrem, mas de sequer cobiçar e fantasiar. Arrancar o olho é purificar o coração de onde nascem os maus desejos; cortar a mão direita é não dar vazão aos desejos nascidos no coração; é não praticá-los! A única dissolução do vínculo do casamento é por união que não deveria ter existido sequer.
3o. “Não faltarás ao que tiveres jurado,
mas cumprirás os teus juramentos para com o Senhor”.
Sequer o juramento deve ser feito. Jurar já indica uma relação de desconfiança. Só Deus jura por Si mesmo! Ele o faz não porque necessita, mas o faz para indicar que só Ele o pode, pois jamais falhará. Só Ele pode fazer branco ou preto um fio de cabelo!
E termina dizendo: “A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’.
O que passa disto vem do Maligno”.
É neste sentido que devemos ouvir o que o Santo Padre disse aos Sacerdotes que ordenou Bispos para o trabalho na Cúria Romana, esta semana, em 05 de Fevereiro, e que serve para todos nós como uma explicação do que disse o Senhor: “O Pastor não deve ser uma cana que se dobra segundo o sopro do vento, um servo do espírito do tempo. Ser intrépido, corajoso de opor-se a corrente do momento pertence de modo essencial à tarefa do Pastor. Não deve ser um caniço, mas – segundo a imagem do Salmo 1 – deve ser como uma árvore que tem raízes profundas, nas quais está equilibrada e fundamentada bem. Isto nada tem a ver com rigidez ou inflexibilidade. Somente onde há estabilidade há também crescimento. O Cardeal Newman, cujo caminho foi marcado por três conversões, diz que viver é transformar-se. Mas as suas três conversões e as transformações ocorridas na sua vida são, porém, um caminho coerente: o caminho da obediência à verdade, para Deus: o caminho da verdadeira continuidade que, justamente assim, faz progredir”.
Nada ainda, pois, na nossa vida está perfeito e acabado. Progridamos, pois. Como o Beato Newman para a verdade de Deus e de Seu Filho Jesus Cristo. E, se alguém acha pouco o que o Senhor nos promete, ouçamos, por fim, São Paulo:
“Mas, como está escrito,
«nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram,
nem jamais passou pelo pensamento do homem
o que Deus preparou para aqueles que O amam».
Queiramos Deus, cumpramos os Mandamentos e amemos Deus sobre todas as coisas, inclusive nós mesmos e teremos tudo aquilo que sequer o coração pode imaginar de bom!
Louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!
Pe. Samuel Pereira
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