E quando outro ano se passou, ele foi novamente para o deserto. Alcançou o mesmo lugar, mas não pôde ver ninguém. Então, levantando os olhos ao céu como antes, rezou:
"Mostra-me, Ó Senhor, vosso puro tesouro, que escondeste no deserto. Mostra-me, eu vos peço, o anjo na carne, de quem o mundo não é digno."
Então, no lado oposto do rio, sua face voltada para o sol nascente, ele viu a santa, morta no chão. Suas mãos estavam cruzadas de acordo com o costume e sua face voltada para o Leste. Correndo, ele chorava sobre os pés da santa e beijava-os, não ousando tocar mais nada.
Por um longo tempo ele chorou. Depois recitando os salmos apropriados, disse as orações fúnebres e pensou consigo: "Devo enterrar o corpo de uma santa? Ou isto seria contrário aos seus desejos?" E então ele viu palavras traçadas no chão, perto da cabeça dela:
"Pai Zózimo, enterra neste local o corpo da humilde Maria. Volte ao pó o que é pó e reza ao Senhor por mim, que parti no mês de Fermoutin do Egito, chamado Abril pelos Romanos, no primeiro dia, na mesma noite da Paixão de Nosso Senhor, depois de participar dos Divinos Mistérios."
Lendo isto o ancião ficou feliz de conhecer o nome da santa. Ele compreendeu também que, tão logo ela participou dos Divinos Mistérios na margem do Jordão, ela foi transportada ao lugar onde faleceu. A distância que Zózimo levou vinte dias para cobrir, Maria evidentemente atravessou em uma hora e finalmente entregou sua alma a Deus.
Então Zózimo pensou: "Está na hora de fazer o que ela pediu. Mas como vou cavar uma sepultura sem nada nas mãos?"
E então ele viu nas proximidades um pequeno pedaço de madeira deixado por algum viajante do deserto. Pegando-o começou a cavar o chão. Mas a terra era dura e seca e não correspondia aos esforços do velho. Ele ficou cansado e molhado de suor.
Suspirava das profundezas de sua alma e levantando os olhos viu um grande leão, próximo ao corpo da santa, a lamber-lhe os pés. À vista do leão ele tremeu de medo, especialmente quando se lembrou das palavras de Maria de que ela nunca havia visto feras selvagens no deserto. Mas, protegendo-se com o sinal da Cruz, ele pensou que o poder daquela que ali jazia, o protegeria e o guardaria incólume. Enquanto isso, o leão se aproximou dele, mostrando afeição em cada movimento.
Zózimo disse ao leão:
"O Grande e Onipotente Senhor ordenou que o corpo dela fosse enterrado. Mas eu sou velho e não tenho forças para cavar a sepultura (pois não tenho pá e demoraria muito para ir conseguir uma), então, poderias realizar o trabalho com suas garras? Então, poderemos entregar à terra o templo mortal da santa."
Enquanto ainda falava, o leão começou a cavar com suas patas dianteiras um buraco suficientemente fundo para enterrar o corpo.
Novamente o ancião lavou os pés da santa com suas lágrimas e pedindo-lhe que rezasse por todos, cobriu o corpo com terra na presença do leão. Foi como tinha sido, nu e descoberto de tudo, com apenas o manto esfarrapado que Zózimo lhe dera e com o qual Maria se voltara para tentar cobrir parte do seu corpo. Então ambos partiram. O leão desapareceu nas profundezas do deserto, como um carneirinho, enquanto Zózimo retornou ao mosteiro glorificando e bendizendo a Cristo Nosso Senhor. E ao alcançar o mosteiro contou a todos os irmãos sobre tudo, diante do que todos se maravilharam ao ouvir os milagres de Deus. E com respeito e amor eles guardaram a memória da santa.
O Abade João, como santa Maria havia previamente dito ao Pai Zózimo, encontrou um número de coisas erradas no mosteiro e se livrou delas com a ajuda de Deus. E São Zózimo morreu no mesmo mosteiro, quase atingindo a idade de cem anos e passou para a vida eterna. Os monges guardaram esta história sem escrevê-la, passando-a de viva voz de um para outro.
Mas eu, (acrescenta Safrônio), tão logo a ouvi, escrevi-a. Talvez alguém mais, melhor informado, já tenha escrito a vida da santa, mas tanto quanto possa, registrei tudo, acreditando acima de tudo o mais. Que Deus que realiza milagres incríveis e generosamente concede dons àqueles que se voltam para Ele com fé, recompense aqueles que buscam luz para si mesmos nessa história, que ouvem, lêem e são zelosos em escrevê-la, e que Ele conceda a esses, o destino da bem-aventurada Maria, junto com todos os que em diferentes épocas, agradaram a Deus com seus trabalhos e pensamentos piedosos.
E demos também glória a Deus, o Rei eterno, que Ele nos conceda também Sua misericórdia no dia do Julgamento pelo amor de Jesus Cristo, Nosso Senhor, a Quem pertence toda glória, honra, domínio e adoração com o Pai Eterno e o Santíssimo e Vivificante Espírito, agora e sempre, e através dos tempos. Amém!
Terminamos aqui a história da Santa Maria Egípicia, na próxima semana iniciaremos a história de outra Madre do Deserto. Que estas santas mulheres possam interceder por nós junto ao Senhor. E conceder ao nosso coração a graça de como elas, estarmos abertos aos projetos do Pai.
Fiquem na Paz!
Me. Rosa Maria de Lima, F.M.D.J
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