domingo, 23 de janeiro de 2011

HOMILIA PARA O III DOMINGO COMUM A

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Irmãos, há dois domingos, retomamos o Tempo Comum e iniciamos, de novo, a percorrer os passos da vida do Senhor entre nós. Como já disse, este Tempo litúrgico, ocupa 34 semanas, sendo que o primeiro Domingo, cede lugar ao Batismo de Jesus e o último, à solene proclamação do reinado universal de Cristo. Nós temos assim, todo o arco da vida do Senhor entre nós.

Na Sagrada Liturgia, ao ouvirmos a Palavra do Senhor, não se trata somente de uma recordação dos ditos do Senhor no AT e NT, mas de um verdadeiro e real pôr-se, como assembléia, a ouvir, aquilo que o Senhor deseja para nós.

No Domingo, dia que é do Senhor e que, na sua bondade, nos é concedido para a sua adoração, nosso descanso semanal e convivência familiar, nós nos colocamos à sua disposição para ouvir o que o Senhor nos irá dizer. Ele fala, nós ouvimos. É uma Aliança que Ele nos propõe, como outrora o fazia na Assembléia do Sinai, esperando que nos decidamos como o Povo no Deserto: “Faremos tudo o que o Senhor nos disser”! Assim estabelecemos a Aliança com Deus e, primeiro, Ele conosco.

Toda a nossa vida, pois, é uma chamado a ouvir o Senhor e responder-lhe com atitudes na vida, manifestando a sinceridade do nosso “amém” cantado em toda Missa.

E é dessa oferta generosa de Deus, do seu interesse por nós, do seu chamado e da resposta que devemos dar, que hoje a Liturgia nos fala.

Na I Leitura da profecia de Isaías, a região da Galiléia, considerada terra de pagãos por conter uma população composta de muitos colonos estrangeiros, desde a invasão do assírios no século VIII antes de Cristo, era considerada uma terra em que o povo vivia nas trevas. São eles os destinatários da “grande Luz” que brilharia sobre eles. Hoje nós contemplamos o cumprimento desta Profecia, pois é lá que Nosso Senhor, depois do aprisionamento de João e depois do seu Batismo, vai habitar. A Luz brilha para eles.

Essa Luz do Senhor é destinada a continuar brilhando para todos os povos que ainda não conhecem o Senhor. Depois da Ascensão de Jesus, sua Missão, perfeitamente cumprida na sua Morte e Ressurreição, passa a ser tarefa da sua Igreja. Nela, como nos recorda as primeiras palavras da Constituição Dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium, Luz dos Povos, a Luz que é Cristo resplandece na face da Igreja.

A Igreja, pois é chamada a transmitir esta Luz através dos séculos, até que o próprio Senhor retorne.

Este tema, foi caro aos primeiros escritores cristãos, que chamaram esta relação da Igreja com Cristo de “Mysterium Lunae”, ou Mistério da Lua. Como todos sabemos, a Lua não tem luz própria, mas reflete a luz do Sol durante a noite. Como a Lua, também a Igreja, infelizmente, passa por fases ao longo da sua história. Como a Lua, nem sempre é cheia, iluminando bem a noite, assim também a Igreja, muitas vezes é minguante...

Quando a Lua nesta fase não reflete muita luz, ainda assim não é deixada à sua própria natureza opaca. Também a Igreja, jamais deixará de ter a assistência do Espírito Santo a inundar-nos com a Luz do Senhor.

A Igreja Santa, composta por nós, membros de Cristo, porém marcados pelo pecado, tantas vezes não consegue refletir plenamente esta Luz do Senhor na sua vida. E isto não é porque o Senhor a abandona. Como a Lua, dependendo da posição da Terra, não reflete plenamente a Luz do Sol, assim também, dependendo do nosso comportamento em responder com a vida ao que o Senhor nos pede, a Igreja como que entra numa fase minguante...

Esta constatação em nada diminui a santidade da Igreja. Ela é Santa e nos santifica continuamente com a graça que vem diretamente do Senhor pelos Sacramentos que administra, independentemente da santidade pessoal dos seus Pastores, Papa, Bispos e Sacerdotes. Isto porque é sempre Cristo o Ministro Principal de todos os Sacramentos na força do Seu Espírito. É Ele quem nos garante a Pureza e a Santidade da sua Igreja.

Embora tudo isto seja verdade, é necessário com pesar admitir que, embora o pecado dos seus filhos, não diminuam a santidade da Igreja, impedem que Cristo seja, muitas vezes, plenamente refletido na sua face. É a fase minguante... Mas o Senhor não abandona aquela que conquistou a preço do Seu Sangue Preciosíssimo!

Hoje, São Paulo, nos relata um destes pecados que acometem a Igreja por causa dos seus filhos. Os “partidos” ou as “panelinhas”. Ele fala, exortando aos Coríntios que preferiam com obstinação a Paulo, outros a Pedro, outros a Apolo e ainda a Cristo, sem querer depender da Autoridade Apostólica, numa presumida relação direta com o Senhor, o que ainda está presente em muitas mentes desorientadas. Querem Cristo, mas não querem a Igreja, sem saber que assim, não tem nem Um nem a outra, mas um simulacro, uma pantomima de Cristo e da Igreja.

Que coisa triste é constatar Pastores da Igreja, Associações e Movimentos que querem brilhar mais do que a Única Luz que ilumina todo Homem e todos os Povos. Isto impede que Cristo seja plenamente conhecido. Paulo pergunta-nos: “Acaso Cristo está dividido”?

Convertamo-nos! Voltemos nosso olhar unicamente para o Senhor. Papa, Bispos, Padres, Associações e Movimentos, todos passamos. Somente Cristo e a Sua Igreja permanecerá até que Ele volte. Queiramos Deus, somente a Ele e tudo o mais que d’Ele nos aproxima e nos ajuda a amá-Lo. Se leva à divisão ou impedem que seja Ele a brilhar, afastemo-nos de todos e de tudo que quer reluzir sem ser ouro. Cristo deve ser nossa Jóia Rara, não prefiramos bijuterias vagabundas vendidas a baixo preço! Ele adquiriu-Nos com Sua Vida para nos dar a verdadeira Vida. Lembremos a que preço fomos comprados!

São Paulo adverte, porque tem a responsabilidade sobre a Igreja em Corinto. E o faz com a autoridade recebida do Senhor, posto que enviado por Ele.

Hoje contemplamos também o Senhor chamando os primeiros seguidores seus: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João.

Eles nos surpreendem pela disponibilidade em abandonar tudo para o seguir. Eles não dizem que estão ocupados; não pedem ao Senhor para voltar depois; não pensam duas vezes e compreendem que ser “pescador de homens” é muito mais do que de peixes.

Eles o acompanham, pois se deixam reger pela Palavra que o Senhor lhes dirige. O Senhor não lhes oferece garantias, não lhes promete nenhuma imediata recompensa financeira. Eles deixam o seu “ganha pão” e partem com o Senhor a anunciar o Evangelho Reino dos Céus. Como que tornam-se seus primeiros cidadãos. Pois é assim que se ganha cidadania no Céu: pela resposta pronta ao Senhor e sem barganhas!!!

Irmãos, todos nós somos chamados à mesma disponibilidade. Cada qual, mesmo não deixando seu ofício, pode e deve responder ao Senhor com prontidão. Por isso nos reunimos aos domingos, como que para ouvir a ordem do Senhor para a Semana, sermos fortalecidos, com a Sua Vida, para a cumprir.

Devemos fazer isto para caminharmos na Luz e não nas trevas de nós mesmos e dos nossos mesquinhos interesses, de forma pessoal e comunitariamente. Para cada um, hoje, o Senhor pede disponibilidade em ouvi-Lo e prontidão em respondê-Lo; e a nós, como Igreja, como Família Paroquial a não querermos aparecer e a não achar que o que eu fazemos é mais importante ou necessário do que o outro faz. Em tudo o que fizermos, façamos de tal modo que seja sempre Cristo a brilhar, não nós.

Peço a todos que rezem muito por mim, para que o Senhor me auxilie sempre a vencer a tentação do estrelismo que acomete alguns Ministros seus. Tenho consciência de que sou como vaso de argila. Frágil, fácil de quebrar. Rezem para que eu não me esqueça disto e creiam que tudo o que eu faço de bom, se é que o faço, não o faço com minhas humanas forças, mas o “poder, a honra e a glória, pertencem ao nosso Deus e ao Cordeiro, assentado no trono”!

Amém!


Pe. Samuel Viana Pereira
Mestre em Teologia

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...