domingo, 5 de dezembro de 2010

Madres do Deserto - II Teoria da vida de Maria Egípicia – I Parte





Hoje iniciamos a meditar uma segunda teoria da vida de Maria Egípicia. Esta que dividirei em partes, pois ela é um pouco longa.
Depararemos com a figura de um monge chamado Zózimo, é necessário contar a história deste monge para entendermos melhor a história de Maria Egípicia, já que esta teoria foi contada por ele.

Convido todos a acompanhar pacientemente cada parte para vermos de fato que os caminhos do Senhor são diferentes dos nossos, o Senhor de fato não quer nossos sacrifícios externos, mas o sacrifício do nosso coração quer ver nossos corações contritos, voltados para Ele.

"Havia certo ancião em um dos mosteiros da Palestina, um padre de vida e palavra santas, que desde a infância foi criado no caminho e nos costumes monásticos. Este ancião chamava-se Zózimo. Em toda sua vida ascética e em tudo o mais, ele aderiu à Regra dada a ele pelos seus mestres, no que dizia respeito aos trabalhos espirituais e a isso ele acrescentou por si mesmo mais trabalhos, a fim de sujeitar a carne à vontade do espírito. E ele não falhou no seu objetivo. Ele era tão renomado por sua vida espiritual que muitos vinham a ele dos mosteiros vizinhos e outros de bem longe. Durante sua vida nunca deixou de estudar as Divinas Escrituras. Seja descansando ou de pé, trabalhando ou comendo (se as migalhas que ele comia podiam ser chamadas alimento), ele incessantemente e constantemente tinha um único objetivo: sempre cantar a Deus e praticar os ensinamentos das Divinas Escrituras. Zózimo costumava contar que desde que foi retirado do seio de sua mãe e foi entregue ao mosteiro, ele se submeteu ao treinamento ascético até a idade de 53 anos. Depois disso, ele começou a ser atormentado com o pensamento de que ele era perfeito em tudo e não necessitava de instrução alguma de ninguém, dizendo a si mesmo mentalmente, "existirá algum monge na terra que pode ser útil a mim e mostrar-me um tipo de ascetismo" que eu já não tenha realizado? Haverá algum homem no deserto que tenha me superado?"
Assim pensava o ancião, quando de repente um anjo lhe apareceu e disse:

"Zózimo, você lutou valentemente, tanto quanto esteja na capacidade humana, valentemente você trilhou o caminho ascético. Mas, não há homem algum que tenha atingido a perfeição. Antes que você minta, batalhas não conhecidas, maiores do que as suas foram realizadas. Para que você conheça quantos outros caminhos levam à salvação, deixe sua terra natal, como o patriarca Abraão e vá para o mosteiro à margem do Rio Jordão."
Zózimo fez como lhe fora dito. Deixou o mosteiro no qual vivera desde a infância e foi para o Rio Jordão. Finalmente chegou à comunidade para onde Deus o enviara. Batendo à porta do mosteiro, disse ao monge porteiro quem ele era e este reportou ao abade. Sendo admitido à presença do abade, Zózimo fez a prostração usual e suas orações. Vendo que ele era um monge o abade perguntou:
"De onde vem irmão, e porque vieste a nós pobres anciãos?"

Zózimo replicou:
"Não há necessidade de dizer de onde eu vim, mas vim, Pai, buscando ajuda espiritual pois ouvi grandes maravilhas sobre sua habilidade em conduzir almas para Deus."

"Irmão", disse o abade, "apenas Deus pode curar a enfermidade da alma. Que Ele ensine a ti e a nós seus divinos caminhos e nos conduza a todos. Mas já que é o amor de Cristo que te trouxe para visitar-nos, pobres anciãos, então fique conosco, se é por isso que tu vieste. Que o Bom Pastor Que deu sua vida pela nossa salvação encha-nos a todos com a graça do Santo Espírito.

Depois disso, Zózimo se inclinou diante do abade, pediu suas orações e benção e ficou no mosteiro. Lá ele conheceu anciãos zelosos, tanto na ação quanto na contemplação do Senhor. Eles cantavam incessantemente, permaneciam em oração toda a noite, o trabalho sempre em suas mãos e salmos em seus lábios. Nunca uma palavra vã era ouvida entre eles, nada sabiam sobre adquirir bens temporais ou dos cuidados da vida. Tinham apenas um desejo - ter seus corpos como cadáveres. Seu alimento constante era a Palavra de Deus, e mantinham seus corpos a pão e água apenas; tanto quanto seu amor a Deus lhe permitiam. Vendo isto, Zózimo ficou grandemente edificado e preparou-se para o combate que o esperava.

Muitos dias se passaram e chegou o tempo, quando todos os cristãos jejuam e se preparam para adorar a Divina Paixão e Ressurreição de Cristo. Os portões do mosteiro eram sempre fechados e se abriam apenas quando alguém da comunidade era enviado para alguma incumbência. Era um local deserto, onde nunca apareciam visitantes do mundo e sequer era conhecido deles.
Havia uma regra no mosteiro que foi a razão pela qual Deus enviara Zózimo para lá. No início do Grande Jejum (no Domingo do Perdão) o padre celebrava a sagrada Liturgia e todos participavam do sagrado corpo e sangue do Senhor. Depois da Liturgia eles iam ao refeitório e podiam comer um pouco de comida quaresmal.

Em seguida, todos se reuniam na igreja e depois de rezarem fervorosamente com prostrações, os anciãos se beijavam e pediam-se mutuamente perdão. E cada um fazia uma prostração diante do abade, pedia sua benção e orações para o combate que iam enfrentar. Depois disso, os portões do mosteiro se abriam e cantando, "O Senhor é minha luz e meu Salvação; a quem temerei? O Senhor é o defensor de minha vida; de quem terei medo?" (Salmo 26,1) e o resto daquele salmo, todos saiam para o deserto e atravessavam o Rio Jordão. Apenas um ou dois irmãos permaneciam no mosteiro, não para guardar a propriedade (pois nada havia para ser roubado), mas para não deixar a igreja sem o Divino Ofício. Cada um levava consigo o quanto podia ou desejava em alimento, de acordo com as necessidades de seu corpo: um tomaria um pequeno pão, outro alguns figos, outro algumas tâmaras ou trigo misturado em água. Alguns nada levavam, mas apenas seus corpos cobertos com trapos e quando a natureza os forçava se alimentavam de plantas que nasciam no deserto.

Depois de atravessar o Jordão, eles se espalhavam em diferentes direções, longe uns dos outros.

E esta era a regra de vida que eles tinham e que todos observavam - nenhum deveria falar com o outro, nem saber como o outro vivia ou jejuava. Se acontecesse de um avistar o outro, deveria este se afastar para outra parte da região, vivendo só e sempre cantando a Deus e na hora definida comer uma pequena porção de comida. Desse modo passavam toda a Quaresma e geralmente retornavam ao mosteiro uma semana antes da Ressurreição de Cristo, no Domingo de Ramos. Cada um retornava tendo apenas sua própria consciência como testemunha de seu labor e nenhum perguntava a outro como ele passara seu tempo no deserto. Tais eram as regras no mosteiro. Cada um deles, enquanto no deserto, pelejava consigo mesmo, diante do Juiz da batalha - Deus - não buscando agradar a homens, nem jejuar diante dos olhos de todos. Pois o que é feito para agradar aos homens, ganhar elogios e honrarias, não só é inútil para quem o faz mas muitas vezes é causa de grande castigo.

Zózimo fez como os demais. E foi para longe, bem longe no deserto com um desejo secreto de encontrar algum Pai que estivesse vivendo ali e que pudesse satisfazer sua sede e desejo de Deus. E vagou sem descanso como se corresse para algum lugar definido. Já tinha andado por vinte dias e quando veio a sexta hora ele parou e voltando-se para o oriente, começou a cantar a Sexta Hora e recitar as orações costumeiras. Ele costumava interromper sua jornada em determinados horários para descansar um pouco, para cantar salmos de pé e rezar de joelhos.

Assim cantava, sem tirar os olhos dos céus quando subitamente, viu à direita da colina em que se encontrava algo semelhante a um corpo humano. No início ele ficou confuso, pensando tratar-se de uma visão do demônio e chegou a ter medo. Mas, tendo feito o sinal da Cruz e banido todo o medo, volveu o olhar naquela direção e na verdade viu algo deslizando na direção sul. A forma estava nua, a pele escura, como se queimada completamente pelo calor do sol; o cabelo em sua cabeça era branca como lã e não comprido, indo somente até abaixo do pescoço. Zózimo ficou tão cheio de alegria ao perceber uma forma humana que correu atrás em perseguição, mas a forma fugiu dele.

Continuamos na próxima semana...
Fiquem na paz!


Me. Rosa Maria de Lima, F.M.D.J

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