Antes de dar continuidade a história de Maria Egípicia, gostaria de desejar a todos um Natal abençoado, que o Menino Jesus nasça a cada instante em nossos corações, e que 2011 seja um ano repleto da graça do Senhor no coração de cada um de nós!
Depois de atravessar o Jordão continuemos a história...
Zózimo perguntou-lhe:
"Quantos anos se passaram desde que começaste a viver neste deserto?"
Ela replicou:
"Quarenta e sete anos se passaram, creio, desde que deixei a cidade santa."
Zózimo inquiriu:
"Mas qual alimento encontrou?"
A mulher disse:
"Eu tinha dois pães mais a metade quando cruzei o Jordão. Logo eles ficaram duros como pedra. Comendo aos pouquinhos eles acabaram em alguns poucos anos."
Zózimo continuou:
"Como se explica que tenhas vivido por tão longos anos, assim, sem ficar doente, sem sofrer de algum modo uma mudança tão completa?"
Ela respondeu:
"Tu me lembras, Zózimo, do que eu não ouso falar. Pois quando me lembro dos perigos que superei, todos os pensamentos violentos que me confundiram, novamente tenho receio de que eles venham a me dominar."
Zózimo falou:
"Não escondas nada de mim; fala-me sem ocultar coisa alguma."
E ela respondeu-lhe:
"Creia-me, Pai, por dezessete anos vivi nesse deserto lutando contra feras selvagens - desejos loucos e paixões. Quando ia me alimentar eu costumava lamentar a carne e o peixe que eu tinha em abundância no Egito. Lamentava também não ter vinho que eu apreciava tanto, pois eu bebia muito vinho quando vivia no mundo, enquanto aqui eu nada tinha, nem mesmo água. Queimava-me até sucumbir de sede. Um desejo atroz de canções libertinas também me perturbavam e me confundiam grandemente, levando-me quase a cantar canções satânicas, que eu tinha aprendido antes. Mas quando esses desejos me vinham, eu batia no peito e me recordava do voto que tinha feito antes de vir para o deserto. Em meus pensamentos voltava-me para o ícone da Mãe de Deus que me tinha recebido e a quem clamava na oração. Implorava-lhe para dar caça a esses pensamentos, diante dos quais minha alma estava sucumbindo. E depois de chorar por longo tempo e batendo no peito, eu costumava ver uma luz que parecia brilhar sobre mim de algum lugar. E depois da violenta tempestade finalmente vinha a paz.
E como posso dizer-lhe sobre os pensamentos que me instavam à fornicação, como posso expressá-los a ti, Pai? Um fogo inflamava meu miserável coração que parecia queimar-me completamente e me despertava uma sede de abraços. Tão logo esse desejo me surgia, eu jogava-me ao solo e molhava-o de lágrimas, como se visse diante de mim minha testemunha, que tinha me aparecido em minha desobediência e que parecia ameaçar punição para o castigo. E eu não me erguia do chão (algumas vezes ficava lá prostrada por um dia e uma noite), até que a calma e a doce luz descesse e me iluminasse e pusesse em fuga os pensamentos que me possuíram. Mas sempre eu voltava os olhos de minha mente para minha protetora, pedindo-lhe para estender seu auxílio a uma que estava afundando rápido nas dunas do deserto. E sempre a tive como meu socorro e aquela que aceitava meu arrependimento. E assim vivi por dezessete anos, entre constantes perigos. “E desde então a Mãe de Deus me auxilia em tudo e me conduz como pela mão.”
Zózimo perguntou:
"Como pode ser que não tenhas necessitado de alimento e roupas?"
Ela respondeu:
"Quando terminaram os pães que trouxe, de que já falei por dezessete anos me alimentei de ervas e tudo que pudesse ser encontrado no deserto. As roupas que eu trazia quando atravessei o Jordão se tornaram rotas e gastas. Sofri grandemente o frio e também o calor extremo. Às vezes o sol me queimava completamente e em outras eu estremecia enregelada e freqüentemente caia ao chão onde permanecia inerte, sem respirar. Eu lutava contra muitas aflições e com terríveis tentações. Mas desde então e até agora, o poder de Deus numerosas vezes guardou minha alma pecadora e meu pobre corpo. Mas quando penso nos perigos dos quais Nosso Senhor me livrou, tenho alimento imperecível de esperança e salvação. Sou alimentada e vestida pela toda poderosa Palavra de Deus, o Senhor de todos. Pois não é somente de pão que se vive. E aqueles que se despojaram dos trapos do pecado não encontram refúgio, escondendo-se nos vãos das rochas (Heb 11,38)."
Ouvindo-a citar as Escrituras, de Moisés, Zózimo perguntou-lhe:
"E então tens lido os Salmos e outros livros?"
Ela sorriu a isto e disse ao ancião:
"Creia-me, desde que atravessei o Jordão não vi um rosto humano, exceto o teu hoje. Não vi uma fera ou uma criatura viva desde que vim ao deserto. Nunca aprendi nos livros. Também nunca ouvi alguém que cantasse ou lesse deles. Mas a palavra de Deus que é viva e ativa, por si mesmo, ensina a um homem o saber. E assim chega ao fim minha estória. Mas como te pedi no início, e também agora, imploro pelo amor da Palavra encarnada de Deus, reze ao Senhor por mim que sou tão grande pecadora."
Assim terminando, ela se inclinou diante dele. Com lágrimas ele exclamou:
"Bendito é Deus Que cria o grande e o maravilhoso, o magnífico e o glorioso sem fim. Bendito é Deus que me mostrou como Ele recompensa aqueles que O temem. Verdadeiramente, Ó Deus, Vós não abandonais aqueles que vos buscam!"
E a mulher, não permitindo ao ancião curvar-se diante dela, disse:
"Eu te peço, santo Pai, pelo amor de Jesus Cristo, nosso Deus e Salvador, não contes a ninguém o que ouviste, até que Deus me tire desse mundo. E agora vá em paz e novamente me verás no próximo ano e eu a ti, se Deus nos preservar em Sua grande misericórdia. Mas, pelo amor de Deus, faças como te peço. No próximo ano, durante a Quaresma, não atravesses o Jordão, como é costume no mosteiro."
Zózimo ficou surpreso ao ver que ela conhecia as regras do Mosteiro e só pôde dizer:
"Glória a Deus que concede grandes dons àqueles que O amam."
Ela continuou:
"Permaneça, Pai, no mosteiro. E mesmo que desejes partir, não o conseguirás. E ao por do sol do dia santo da Última Ceia, coloque um pouco do vivificante Corpo e Sangue de Cristo dentro de um cálice sagrado, digno de conter tais Mistérios e traga-os para mim. E espere por mim na margem do Jordão, nas vizinhanças das partes habitadas da terra, de modo que eu possa vir e participar dos Dons vivificantes. Pois, desde a vez que comunguei no templo do Precursor, antes de atravessar o Jordão até este dia, não mais me aproximei dos Sagrados Mistérios. E tenho sede deles com irreprimível amor e desejo. E assim, peço e imploro a ti que me concedas essa graça, traga-me os Mistérios vivificantes nessa mesma hora, quando Nosso Senhor fez com que seus discípulos participassem de sua Divina Ceia. Diga ao Abade João do mosteiro onde vives: 'Cuida de si e de teus irmãos, pois há muito que se corrigir'. Apenas não digas isto agora, mas quando Deus te conduzir. Ora por mim!"
Com estas palavras ela desapareceu nas profundezas do deserto. E Zózimo, caindo de joelhos e curvando-se em direção ao chão onde ela havia estado, deu glória e graças a Deus. E depois de vagar através do deserto, ele voltou ao mosteiro no dia em que todos os irmãos retornavam.
Continuemos na próxima semana...
Fiquem na paz!
Depois de atravessar o Jordão continuemos a história...
Zózimo perguntou-lhe:
"Quantos anos se passaram desde que começaste a viver neste deserto?"
Ela replicou:
"Quarenta e sete anos se passaram, creio, desde que deixei a cidade santa."
Zózimo inquiriu:
"Mas qual alimento encontrou?"
A mulher disse:
"Eu tinha dois pães mais a metade quando cruzei o Jordão. Logo eles ficaram duros como pedra. Comendo aos pouquinhos eles acabaram em alguns poucos anos."
Zózimo continuou:
"Como se explica que tenhas vivido por tão longos anos, assim, sem ficar doente, sem sofrer de algum modo uma mudança tão completa?"
Ela respondeu:
"Tu me lembras, Zózimo, do que eu não ouso falar. Pois quando me lembro dos perigos que superei, todos os pensamentos violentos que me confundiram, novamente tenho receio de que eles venham a me dominar."
Zózimo falou:
"Não escondas nada de mim; fala-me sem ocultar coisa alguma."
E ela respondeu-lhe:
"Creia-me, Pai, por dezessete anos vivi nesse deserto lutando contra feras selvagens - desejos loucos e paixões. Quando ia me alimentar eu costumava lamentar a carne e o peixe que eu tinha em abundância no Egito. Lamentava também não ter vinho que eu apreciava tanto, pois eu bebia muito vinho quando vivia no mundo, enquanto aqui eu nada tinha, nem mesmo água. Queimava-me até sucumbir de sede. Um desejo atroz de canções libertinas também me perturbavam e me confundiam grandemente, levando-me quase a cantar canções satânicas, que eu tinha aprendido antes. Mas quando esses desejos me vinham, eu batia no peito e me recordava do voto que tinha feito antes de vir para o deserto. Em meus pensamentos voltava-me para o ícone da Mãe de Deus que me tinha recebido e a quem clamava na oração. Implorava-lhe para dar caça a esses pensamentos, diante dos quais minha alma estava sucumbindo. E depois de chorar por longo tempo e batendo no peito, eu costumava ver uma luz que parecia brilhar sobre mim de algum lugar. E depois da violenta tempestade finalmente vinha a paz.
E como posso dizer-lhe sobre os pensamentos que me instavam à fornicação, como posso expressá-los a ti, Pai? Um fogo inflamava meu miserável coração que parecia queimar-me completamente e me despertava uma sede de abraços. Tão logo esse desejo me surgia, eu jogava-me ao solo e molhava-o de lágrimas, como se visse diante de mim minha testemunha, que tinha me aparecido em minha desobediência e que parecia ameaçar punição para o castigo. E eu não me erguia do chão (algumas vezes ficava lá prostrada por um dia e uma noite), até que a calma e a doce luz descesse e me iluminasse e pusesse em fuga os pensamentos que me possuíram. Mas sempre eu voltava os olhos de minha mente para minha protetora, pedindo-lhe para estender seu auxílio a uma que estava afundando rápido nas dunas do deserto. E sempre a tive como meu socorro e aquela que aceitava meu arrependimento. E assim vivi por dezessete anos, entre constantes perigos. “E desde então a Mãe de Deus me auxilia em tudo e me conduz como pela mão.”
Zózimo perguntou:
"Como pode ser que não tenhas necessitado de alimento e roupas?"
Ela respondeu:
"Quando terminaram os pães que trouxe, de que já falei por dezessete anos me alimentei de ervas e tudo que pudesse ser encontrado no deserto. As roupas que eu trazia quando atravessei o Jordão se tornaram rotas e gastas. Sofri grandemente o frio e também o calor extremo. Às vezes o sol me queimava completamente e em outras eu estremecia enregelada e freqüentemente caia ao chão onde permanecia inerte, sem respirar. Eu lutava contra muitas aflições e com terríveis tentações. Mas desde então e até agora, o poder de Deus numerosas vezes guardou minha alma pecadora e meu pobre corpo. Mas quando penso nos perigos dos quais Nosso Senhor me livrou, tenho alimento imperecível de esperança e salvação. Sou alimentada e vestida pela toda poderosa Palavra de Deus, o Senhor de todos. Pois não é somente de pão que se vive. E aqueles que se despojaram dos trapos do pecado não encontram refúgio, escondendo-se nos vãos das rochas (Heb 11,38)."
Ouvindo-a citar as Escrituras, de Moisés, Zózimo perguntou-lhe:
"E então tens lido os Salmos e outros livros?"
Ela sorriu a isto e disse ao ancião:
"Creia-me, desde que atravessei o Jordão não vi um rosto humano, exceto o teu hoje. Não vi uma fera ou uma criatura viva desde que vim ao deserto. Nunca aprendi nos livros. Também nunca ouvi alguém que cantasse ou lesse deles. Mas a palavra de Deus que é viva e ativa, por si mesmo, ensina a um homem o saber. E assim chega ao fim minha estória. Mas como te pedi no início, e também agora, imploro pelo amor da Palavra encarnada de Deus, reze ao Senhor por mim que sou tão grande pecadora."
Assim terminando, ela se inclinou diante dele. Com lágrimas ele exclamou:
"Bendito é Deus Que cria o grande e o maravilhoso, o magnífico e o glorioso sem fim. Bendito é Deus que me mostrou como Ele recompensa aqueles que O temem. Verdadeiramente, Ó Deus, Vós não abandonais aqueles que vos buscam!"
E a mulher, não permitindo ao ancião curvar-se diante dela, disse:
"Eu te peço, santo Pai, pelo amor de Jesus Cristo, nosso Deus e Salvador, não contes a ninguém o que ouviste, até que Deus me tire desse mundo. E agora vá em paz e novamente me verás no próximo ano e eu a ti, se Deus nos preservar em Sua grande misericórdia. Mas, pelo amor de Deus, faças como te peço. No próximo ano, durante a Quaresma, não atravesses o Jordão, como é costume no mosteiro."
Zózimo ficou surpreso ao ver que ela conhecia as regras do Mosteiro e só pôde dizer:
"Glória a Deus que concede grandes dons àqueles que O amam."
Ela continuou:
"Permaneça, Pai, no mosteiro. E mesmo que desejes partir, não o conseguirás. E ao por do sol do dia santo da Última Ceia, coloque um pouco do vivificante Corpo e Sangue de Cristo dentro de um cálice sagrado, digno de conter tais Mistérios e traga-os para mim. E espere por mim na margem do Jordão, nas vizinhanças das partes habitadas da terra, de modo que eu possa vir e participar dos Dons vivificantes. Pois, desde a vez que comunguei no templo do Precursor, antes de atravessar o Jordão até este dia, não mais me aproximei dos Sagrados Mistérios. E tenho sede deles com irreprimível amor e desejo. E assim, peço e imploro a ti que me concedas essa graça, traga-me os Mistérios vivificantes nessa mesma hora, quando Nosso Senhor fez com que seus discípulos participassem de sua Divina Ceia. Diga ao Abade João do mosteiro onde vives: 'Cuida de si e de teus irmãos, pois há muito que se corrigir'. Apenas não digas isto agora, mas quando Deus te conduzir. Ora por mim!"
Com estas palavras ela desapareceu nas profundezas do deserto. E Zózimo, caindo de joelhos e curvando-se em direção ao chão onde ela havia estado, deu glória e graças a Deus. E depois de vagar através do deserto, ele voltou ao mosteiro no dia em que todos os irmãos retornavam.
Continuemos na próxima semana...
Fiquem na paz!
Madre Rosa Maria de Lima, F.M.D.J
Nenhum comentário:
Postar um comentário