segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Madres do Deserto - Maria Egípcia - Parte II
Na outra semana paramos na parte em que Zózimo viu uma forma humana, mas esta fugiu dele. Continuemos...
Ele a seguiu, contudo. Finalmente, quando estava próximo a ponto de ser ouvido, ele gritou:
"Por que tu foges de um homem velho e pecador? Escravo do Deus Verdadeiro espere por mim, quem quer que sejas em nome de Deus eu te digo, pelo amor de Deus, pelo amor de Quem você vive nesse deserto!"
E a forma humana lhe respondeu:
"Perdoa-me, pelo amor de Deus, mas não posso me voltar em tua direção e mostrar-te minha face, Pai Zózimo. Pois sou uma mulher e estou nua como vês, com as partes vergonhosas descobertas. Mas se podes satisfazer um desejo de uma pecadora, atira-me tua capa de modo que eu possa cobrir meu corpo e voltar-me para que possas abençoar-me."
Aqui o pavor se apoderou de Zózimo, pois ele a ouviuela chamá-lo pelo nome. Mas compreendeu que ela não poderia ter feito isso sem conhecê-lo, se não possuísse uma clarividência espiritual.
Então ele atendeu ao que ela pedia. Retirou sua velha e gasta capa e atirou-lhe, afastando-se enquanto fazia isso. Ela pegou-o e cobriu pelo menos uma parte de seu corpo. Quando se voltou para Zózimo disse:
"Por que desejaste, Pai Zózimo, ver uma mulher pecadora? O que desejas ouvir ou aprender de mim, tu que não te encolheste diante de grandes obstáculos?"
Zózimo atirou-se ao chão e pediu-lhe a benção. Ela igualmente se curvou diante dele. E assim, ficaram no chão, prostrados, pedindo a bênção um do outro. E apenas uma palavra podia ser ouvida de ambos: "Abençoe-me!" Depois de um tempo a mulher disse a Zózimo:
"Pai Zózimo, és tu quem deves abençoar e rezar. Tu és dignificado com a ordem do sacerdócio e por muitos anos tens estado diante do altar sagrado, oferecendo o sacrifício dos Divinos Mistérios."
Isto deixou Zózimo apavorado. Finalmente, com lágrimas ele disse a ela:
"Oh Mãe, cheia do espírito, por teu modo de vida é evidente que vives com Deus e morreste para o mundo. A Graça a ti concedida é aparente - pois me chamaste pelo meu nome e soubeste que sou um sacerdote, embora nunca me tenhas visto antes. A Graça é reconhecida não por uma ordem mas pelos dons do Espírito, então, conceda-me tua benção pelo amor de Deus, pois necessito de tuas preces."
Então, cedendo ao desejo do ancião ela disse:
"Abençoado é Deus que zela pela salvação dos homens e de suas almas."
Ao que Zózimo respondeu: "Amém."
Então ambos se levantaram. E ela lhe disse:
"Por que vieste, homem de Deus, a mim que sou tão pecadora? Por que desejas ver uma mulher nua e despida de toda virtude? Embora eu saiba uma coisa - a Graça do Espírito Santo trouxe-te a mim para prestares-me um serviço no tempo devido. Diga-me pai, como estão vivendo os cristãos? E os reis? Como está sendo conduzida a Igreja?"
Zózimo disse:
"Por suas preces, mãe, Cristo tem concedido paz duradoura a todos. Mas, realize um pedido indigno de um velho homem para o mundo inteiro e ore por mim que sou pecador, de modo que meu vaguear no deserto não seja infrutífero."
Ela respondeu-lhe:
"Tu, que és um sacerdote, Pai Zózimo, é quem deves rezar por mim e para todos - pois este é o teu chamado. Mas como devemos todos ser obedientes, farei alegremente o que me pedes."
E com estas palavras ela se voltou para o oriente e levantando seus olhos para o céu e estendendo suas mãos, começou a rezar num murmúrio. Não se podia ouvir palavras distintas, de modo que Zózimo não conseguiu entender coisa alguma do que ela dizia em suas preces. Enquanto isso, ele permanecia de pé, de acordo com sua própria palavra, palpitando, olhando para o chão, sem dizer nada. E ele jurou, chamando a Deus por testemunha, que quando finalmente, pensando que a prece se alongava muito, elevou seus olhos do chão viu que ela permanecia elevada no solo cerca de um braço de distância e orava suspensa no ar. Quando ele viu isso mais pavor se apoderou dele e ele caiu ao chão soluçando e repetindo várias vezes, "Senhor, tenha compaixão."
E assim prostrado no chão foi tentado por um pensamento: isto é um espírito e talvez sua oração seja hipocrisia. Mas no mesmo instante a mulher se voltou, elevou-o do solo e disse:
"Por que o pensamento te confunde, Pai, e te tenta a meu respeito, como se eu fosse um espírito e uma fingidora na oração? Saiba, santo pai, que eu sou apenas uma mulher pecadora, embora guardada pelo santo Batismo. E não sou um espírito, mas terra, cinza e carne apenas."
Com estas palavras ela se protegeu com o sinal da Cruz em sua testa, olhos, boca e peito, dizendo:
"Defenda-nos Deus contra o maligno e de seus desígnios, pois feroz é sua batalha contra nós."
Ouvindo e vendo isto, o ancião caiu ao chão e abraçando seus pés, disse entre lágrimas:
"Eu te suplico, pelo Nome de Cristo, nosso Deus, que nasceu de uma Virgem, por cujo amor te despojaste, por cujo amor exauriste tua carne, não te escondas de teu servo; quem és tu, de onde vens e como vieste a este deserto. Diga-me tudo de modo que as maravilhas realizadas por Deus sejam conhecidas. Uma sabedoria escondida e um tesouro secreto - qual proveito há neles? Diga-me tudo, eu te imploro. Não por vaidade ou por exibicionismo falarás, mas para revelar a verdade a mim, um pecador indigno. Creio em Deus, para quem vives e a quem serves. Acredito que Ele me conduziu a este deserto para mostrar-me Seu caminho no que diz respeito a ti. Não está em nosso poder resistir aos planos de Deus. Se não fosse por vontade dele que tu e tua vida fossem conhecidas, Ele não teria me permitido ver-te e não teria me concedido forças para empreender essa jornada, a um como eu que nunca antes ousou deixar sua cela."
Muito mais disse Pai Zózimo. Mas a mulher o ergueu e disse:
"Estou envergonhada, Pai, de falar-te de minha desgraçada vida, perdoe-me, por amor de Deus! Mas já que viste meu corpo nu, devo do mesmo modo, desnudar minhas ações, de modo que saibas com quanta vergonha e obscenidade minha alma está cheia. Eu não corria por vaidade, como pensaste, pois de que devo orgulhar-me - eu que fui um vaso escolhido pelo demônio? Mas quando eu começar minha história correrá de mim como se de uma serpente, pois seus ouvidos não suportarão a vileza de meus atos. Mas devo contar tudo sem esconder nada, apenas implorando antes a ti, que rezes por mim, incessantemente, de modo que eu obtenha a misericórdia no dia do Julgamento."
O ancião chorou e a mulher iniciou sua história.
A qual nós iniciaremos na próxima semana...
Fiquem na paz!
Me. Rosa Maria de Lima, F.M.D.J
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