Queridos irmãos, a paz! Dando continuidade ao estudo sobre o purgatório, conheceremos hoje a vida de Santa Catarina de Gênova e também o “Tratado sobre o Purgatório”, de sua autoria.
Vida de Santa Catarina de Gênova
Talvez os genoveses não saibam que têm em Catarina uma das mais ilustres representantes de sua terra, certamente uma das maiores e mais profundas santas em sentido absoluto. E é um verdadeiro pecado que seus trabalhos não sejam publicados com a assiduidade que mereceriam.
Nascida em Gênova da nobre família dos Fieschi, em 1447, Catarina já desde os 12 anos começou a sentir em seu coração uma forte atração pela oração. Os biógrafos dizem que ela era muito bonita e que, pelo caráter muito forte, viril, como o de sua homônima Catarina de Sena, era inclinada a uma extrema rigidez consigo mesma, enquanto que, em suas relações com o próximo, era muito aberta e movida por uma grande compaixão. Assim, sua vida foi de dura penitência, mas, ao mesmo tempo, de grande caridade para com os sofredores. Aos 13 anos, ouviu o primeiro chamado e manifestou a intenção de entrar no mosteiro, mas a idade e a oposição da família não o permitiram.
Foi forçada a se casar ainda muito jovem, em 1463. Seu casamento foi uma mera negociação política entre os Fieschi e os Adorno, que naqueles dias eram as famílias mais distintas de Gênova. O noivo, Giuliano Adorno, possuía caráter violento, brutal, dissipador, dissoluto. E assim Catarina passa os primeiros cinco anos de seu casamento numa desoladora solidão. Era um daqueles casamentos errados e é interessante ver como de um casamento errado surgiu uma vida santa; e recordemo-nos de que mais tarde também o marido irá seguir Catarina pelo caminho da santidade.
Para que esquecesse as decepções familiares, e também para que ganhasse o afeto de seu marido, sugeriram à jovem esposa que se inserisse na vida social de Gênova. E assim a sua biografia, a “Vida de Catarina de Gênova”, onde se encontram também muitas de suas meditações, narra que Catarina se entregou, como as outras mulheres, às coisas do mundo; no entanto, especifica a “Vida”, não às coisas do pecado. Este período de dissipação mundana terminou com sua conversão, em 1473, quando tinha 26 anos. Com a visão do Crucificado, à qual seguiram-se a confissão geral e o encontro com a Eucaristia, começou o ciclo da sua vida maravilhosa, que teve duas fases. Um primeiro período, que durou cerca de três anos, foi de severa penitência (semelhante ao que ocorreu com São Paulo que, depois da conversão, se retirou por três anos ao deserto da Arábia). Na segunda fase, Catarina percorreu rapidamente o seu caminho espiritual que culminou, segundo o esquema clássico da vida mística, no compromisso espiritual e depois nas núpcias espirituais.
É de se notar que também para esta santa, como para sua homônima Catarina de Sena, a Eucaristia passou a ser o seu único alimento quotidiano. Catarina depois passou toda a sua vida em oração e desenvolvendo trabalhos caritativos num hospital, o hospital de Pammantone. Ali, por 32 anos dedicou-se aos serviços mais humildes e reuniu um grupo de almas eleitas, homens e mulheres, religiosos e leigos, em cuja companhia soube combinar estupendamente, especialmente nos últimos dez anos, as mais altas expressões da vida mística, como os êxtases e os arrebatamentos, com o amor ao próximo, que se traduzia numa dedicação quotidiana aos doentes. Morreu na noite de 14 para 15 de setembro de 1510, aos 63 anos, e foi canonizada em 1737.
Conservaram-se duas obras de Catarina de Gênova: uma grande obra mística, um pouco difícil, mas bem curta, entitulada “O diálogo espiritual entre a alma e o corpo, entre o amor-próprio, o espírito, a humanidade e o Senhor Deus”; e o brevíssimo “Tratado sobre o purgatório”, que agora gostaria de apresentar-lhes em suas linhas fundamentais.
O Tratado sobre o Purgatório
Antes de iniciarmos a exposição desta breve obra, é necessário que se faça uma premissa: Catarina afirma que escreve do purgatório, a partir de sua experiência pessoal. É natural perguntarmo-nos como poderia ser isso, dado que, ao escrever o Tratado, ela estava em sua condição humana, viva sobre esta terra, e não no purgatório.
Bem, a profunda intuição de Catarina de Gênova é esta: que já durante nossa existência terrena podemos fazer em nosso coração a experiência da vida após a morte em todas as suas três dimensões, ou seja, inferno, purgatório e paraíso. Também São Paulo diz claramente que nós temos um vislumbre do paraíso durante nossa existência terrena quando afirma que já nesta vida temos o penhor daquele espírito de amor que nos será dado plenamente no paraíso (Cf. Ef 1,13-14 e também 2 Co 1, 22; 5, 5).
Como já mencionamos, os que vivem a experiência da desobediência e da rebeldia contra Deus, da blasfêmia e do ódio contra ele, do egoísmo mais completo e radical já fazem neste mundo a experiência do inferno em seu coração. O inferno após a morte, então, é apenas uma continuação, embora de uma forma mais radical e irreversível. Da mesma forma, aqueles que transformaram seus corações no templo vivo de Deus, no qual habita o Espírito Santo com seus dons, experimentam desde já aquela paz, aquela alegria, aquela luz da qual depois gozarão de forma completa e total no céu. A visão de Santa Catarina é a de que podemos ter já nesta vida um conhecimento e uma compreensão antecipados também do purgatório, realizando no coração a experiência da purificação dos nossos pecados.
Sabe-se que os mestres espirituais distinguem no caminho místico uma fase, que podemos chamar de conversão; depois, uma outra fase, longa, difícil, cansativa, atormentada, mas alegre ao mesmo tempo, que é a purificação: é quando o poder do Espírito Santo queima em nós as raízes do mal, e nós, com muito esforço e cooperando com a graça, nos libertamos da escória do pecado e da forma egoista de amar. Este longo caminho de purificação, sustentado pela graça, culminará no perfeito amor, isto é, naquela fase da vida mística que é chamada unitiva. Catarina vê uma analogia entre a experiência que as almas do purgatório vivem e a experiência que as almas vivem aqui na etapa do caminho espiritual que é a fase de purificação. Ela escreve que intui o que seja o purgatório a partir do fogo de amor divino que arde em seu coração e o purifica; e embora sua vontade tenha que fazer um esforço doloroso para se livrar das escórias do mal, no entanto permanece feliz porque o Espírito de Amor de Deus age em sua alma, embelezando-a.
Traduzido do italiano para o português, por Tania
Vida de Santa Catarina de Gênova
Talvez os genoveses não saibam que têm em Catarina uma das mais ilustres representantes de sua terra, certamente uma das maiores e mais profundas santas em sentido absoluto. E é um verdadeiro pecado que seus trabalhos não sejam publicados com a assiduidade que mereceriam.
Nascida em Gênova da nobre família dos Fieschi, em 1447, Catarina já desde os 12 anos começou a sentir em seu coração uma forte atração pela oração. Os biógrafos dizem que ela era muito bonita e que, pelo caráter muito forte, viril, como o de sua homônima Catarina de Sena, era inclinada a uma extrema rigidez consigo mesma, enquanto que, em suas relações com o próximo, era muito aberta e movida por uma grande compaixão. Assim, sua vida foi de dura penitência, mas, ao mesmo tempo, de grande caridade para com os sofredores. Aos 13 anos, ouviu o primeiro chamado e manifestou a intenção de entrar no mosteiro, mas a idade e a oposição da família não o permitiram.
Foi forçada a se casar ainda muito jovem, em 1463. Seu casamento foi uma mera negociação política entre os Fieschi e os Adorno, que naqueles dias eram as famílias mais distintas de Gênova. O noivo, Giuliano Adorno, possuía caráter violento, brutal, dissipador, dissoluto. E assim Catarina passa os primeiros cinco anos de seu casamento numa desoladora solidão. Era um daqueles casamentos errados e é interessante ver como de um casamento errado surgiu uma vida santa; e recordemo-nos de que mais tarde também o marido irá seguir Catarina pelo caminho da santidade.
Para que esquecesse as decepções familiares, e também para que ganhasse o afeto de seu marido, sugeriram à jovem esposa que se inserisse na vida social de Gênova. E assim a sua biografia, a “Vida de Catarina de Gênova”, onde se encontram também muitas de suas meditações, narra que Catarina se entregou, como as outras mulheres, às coisas do mundo; no entanto, especifica a “Vida”, não às coisas do pecado. Este período de dissipação mundana terminou com sua conversão, em 1473, quando tinha 26 anos. Com a visão do Crucificado, à qual seguiram-se a confissão geral e o encontro com a Eucaristia, começou o ciclo da sua vida maravilhosa, que teve duas fases. Um primeiro período, que durou cerca de três anos, foi de severa penitência (semelhante ao que ocorreu com São Paulo que, depois da conversão, se retirou por três anos ao deserto da Arábia). Na segunda fase, Catarina percorreu rapidamente o seu caminho espiritual que culminou, segundo o esquema clássico da vida mística, no compromisso espiritual e depois nas núpcias espirituais.
É de se notar que também para esta santa, como para sua homônima Catarina de Sena, a Eucaristia passou a ser o seu único alimento quotidiano. Catarina depois passou toda a sua vida em oração e desenvolvendo trabalhos caritativos num hospital, o hospital de Pammantone. Ali, por 32 anos dedicou-se aos serviços mais humildes e reuniu um grupo de almas eleitas, homens e mulheres, religiosos e leigos, em cuja companhia soube combinar estupendamente, especialmente nos últimos dez anos, as mais altas expressões da vida mística, como os êxtases e os arrebatamentos, com o amor ao próximo, que se traduzia numa dedicação quotidiana aos doentes. Morreu na noite de 14 para 15 de setembro de 1510, aos 63 anos, e foi canonizada em 1737.
Conservaram-se duas obras de Catarina de Gênova: uma grande obra mística, um pouco difícil, mas bem curta, entitulada “O diálogo espiritual entre a alma e o corpo, entre o amor-próprio, o espírito, a humanidade e o Senhor Deus”; e o brevíssimo “Tratado sobre o purgatório”, que agora gostaria de apresentar-lhes em suas linhas fundamentais.
O Tratado sobre o Purgatório
Antes de iniciarmos a exposição desta breve obra, é necessário que se faça uma premissa: Catarina afirma que escreve do purgatório, a partir de sua experiência pessoal. É natural perguntarmo-nos como poderia ser isso, dado que, ao escrever o Tratado, ela estava em sua condição humana, viva sobre esta terra, e não no purgatório.
Bem, a profunda intuição de Catarina de Gênova é esta: que já durante nossa existência terrena podemos fazer em nosso coração a experiência da vida após a morte em todas as suas três dimensões, ou seja, inferno, purgatório e paraíso. Também São Paulo diz claramente que nós temos um vislumbre do paraíso durante nossa existência terrena quando afirma que já nesta vida temos o penhor daquele espírito de amor que nos será dado plenamente no paraíso (Cf. Ef 1,13-14 e também 2 Co 1, 22; 5, 5).
Como já mencionamos, os que vivem a experiência da desobediência e da rebeldia contra Deus, da blasfêmia e do ódio contra ele, do egoísmo mais completo e radical já fazem neste mundo a experiência do inferno em seu coração. O inferno após a morte, então, é apenas uma continuação, embora de uma forma mais radical e irreversível. Da mesma forma, aqueles que transformaram seus corações no templo vivo de Deus, no qual habita o Espírito Santo com seus dons, experimentam desde já aquela paz, aquela alegria, aquela luz da qual depois gozarão de forma completa e total no céu. A visão de Santa Catarina é a de que podemos ter já nesta vida um conhecimento e uma compreensão antecipados também do purgatório, realizando no coração a experiência da purificação dos nossos pecados.
Sabe-se que os mestres espirituais distinguem no caminho místico uma fase, que podemos chamar de conversão; depois, uma outra fase, longa, difícil, cansativa, atormentada, mas alegre ao mesmo tempo, que é a purificação: é quando o poder do Espírito Santo queima em nós as raízes do mal, e nós, com muito esforço e cooperando com a graça, nos libertamos da escória do pecado e da forma egoista de amar. Este longo caminho de purificação, sustentado pela graça, culminará no perfeito amor, isto é, naquela fase da vida mística que é chamada unitiva. Catarina vê uma analogia entre a experiência que as almas do purgatório vivem e a experiência que as almas vivem aqui na etapa do caminho espiritual que é a fase de purificação. Ela escreve que intui o que seja o purgatório a partir do fogo de amor divino que arde em seu coração e o purifica; e embora sua vontade tenha que fazer um esforço doloroso para se livrar das escórias do mal, no entanto permanece feliz porque o Espírito de Amor de Deus age em sua alma, embelezando-a.
Traduzido do italiano para o português, por Tania
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