terça-feira, 2 de novembro de 2010

Um olhar para a eternidade – Parte III


Queridos irmãos, a paz! Dando continuidade ao estudo sobre o purgatório, conheceremos hoje as declarações do magistério da Igreja sobre este assunto, suas referências bíblicas e também qual a natureza do purgatório.

As declarações do Magistério

Nós acreditamos no purgatório devido à palavra da Igreja que, com autoridade divina, nos indicou repetidamente a sua existência. Os textos de maior autoridade neste campo são, naturalmente, os textos dos concílios, e em primeiro lugar o Concílio de Florença, do qual participaram também representantes das Igrejas Orientais. Eles definiram de modo oficial a existência do purgatório: “As almas que morrem na caridade de Deus sem ter ainda satisfeito por seus pecados de comissão e de omissão com frutos dignos de penitência, são purificadas depois da morte com as penas do purgatório e, para serem libertas destas penas, ajudam-nas os sufrágios dos fiéis viventes, isto é, o Sacrifício da Missa, as orações, as esmolas e as outras práticas devocionais usuais por parte dos fiéis em favor de outros fiéis, segundo as instituições da Igreja”. (Denz. 693)

Assim, o purgatório foi não somente definido como sendo o estado daqueles que morrem sem satisfazer com frutos de digna penitência por seus pecados, mas foi também indicado o modo pelo qual nós podemos ajudar estas almas. Também o Concílio de Trento (ecumênico XIX, 1545-1563) desenvolveu longamente a temática do purgatório e a tratou em diversos decretos, sobretudo especificando o conceito católico de justificação do pecado. Entre tantos decretos, se lê: “Pois que a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo através da Sagrada Escritura e da antiga tradição dos Padres, ensinou, nos sagrados Concílios e, mais recentemente, neste Sínodo ecumênico, que existe o purgatório e que as almas nele retidas são ajudadas pelos sufrágios dos fiéis, mas principalmente pelo Sacrifício do altar digno de ser aceito, o santo Sínodo ordena aos bispos que procurem com toda diligência que a santa doutrina acerca do purgatório, transmitida pelos santos Padres e pelo Sagrado Concílio, seja acreditada pelos fiéis cristãos, conservada, ensinada e pregada em toda parte...” (Denz. 983; cf. também 940 e 950)

Portanto, podemos concluir que a doutrina do purgatório é uma verdade de fé católica definida nos Concílios de Florença e de Trento. Mas a revisão ainda não está terminada, porque recentemente o magistério se pronunciou sobre o purgatório com dois textos oficiais: trata-se do Concílio Vaticano II (que, entre outras coisas, aprofundou justamente a reflexão sobre a natureza do purgatório) e da Profissão de Fé do papa Paulo VI. O Concílio Vaticano II (ecumênico XXI, 1962-1965), descrevendo na Constituição Dogmática Lumen Gentium (7, 49) a realidade eclesial em toda a sua plenitude, fala do purgatório como de um dos três estados eclesiais: a Igreja do Céu, a Igreja que se purifica, a Igreja da terra. “Alguns dos seus discípulos (de Cristo) são peregrinos sobre a terra. Outros, tendo passado desta vida, estão se purificando, e outros gozam da glória.” Além disso, o texto (ibid., 50) recorda a prática da Igreja, que remonta aos tempos mais antigos, “de rezar pelos fiéis defuntos”, citando as palavras do Segundo Livro dos Macabeus (12, 46). Finalmente, recordemos as declarações do Concílio de Florença e do Concílio de Trento que mencionamos acima (ibid., 51).


Trata-se, assim, de uma doutrina confirmada recentemente, e não só aqui; é também invocada na Profissão de Fé ou Credo do Povo de Deus, um belo texto de Paulo VI de 1968: “Nós cremos que as almas de todos aqueles que morrem na graça de Cristo, seja as que ainda devem ser purificadas no purgatório, seja as que são acolhidos por Jesus no paraíso no momento em que deixam seus corpos, como Ele fez com o bom ladrão, constituem o povo de Deus no além da morte, a qual será definitivamente vencida no dia da ressurreição, quando essas almas serão reunidas aos próprios corpos".

As referências bíblicas da doutrina

Esta doutrina da Igreja, que codifica uma realidade viva e que é uma fé viva do povo de Deus, não tem muitas referências na Bíblia, embora não esteja completamente privada delas. O texto mais famoso é o segundo livro dos Macabeus (ao qual se refere, como dissemos acima, a Lumen Gentium, 7, 50): o autor afirma claramente que “é um pensamento santo e salutar o de rezar pelos mortos para que sejam libertados dos seus pecados” (2Mac 12, 46): portanto, o costume de rezar pelos mortos para que eles fossem absolvidos de seus pecados já era conhecido e elogiado cerca de 200 anos antes de Cristo. Além disso, em sua Primeira Carta aos Coríntios (3, 12-15) Paulo, embora num texto exegeticamente complexo, fala de uma purificação após a morte como que “passando pelo fogo”. Finalmente, para fazer uma alusão também à tradição, a Igreja cristã, como diz a Lumen Gentium, cultivou, desde os primeiros tempos, uma grande devoção à memória dos mortos.

A doutrina do purgatório, como está expressa no magistério, não é outra coisa do que a codificação de uma atitude básica do povo de Deus (que não apenas acredita no purgatório, mas reza pelas almas dos mortos) e tem, indiscutivelmente, uma raiz bíblica, seja no Livro dos Macabeus, seja em São Paulo.

A natureza do purgatório

Gostaria agora de aprofundar o estudo sobre a natureza do purgatório. Acredito que a este respeito devemos tornar um pouco mais claro tudo o que se disse sobre as penas do purgatório nos séculos passados, quando o purgatório era concebido como um lugar puramente penal, a meio caminho entre o céu e o inferno. Alguns pregadores tinham chegado mesmo ao ponto de identificar as penas do purgatório com as do inferno, com a única diferença de que as penas do purgatório são temporais, enquanto que as do inferno são eternas. A este respeito, deve-se realmente rever um certo ensino popular que se afastou do genuíno ensinamento da Igreja.

O Concílio Vaticano II disse coisas maravilhosas sobre este assunto. Referindo-se às almas do purgatório, ele fala de “fiéis em estado de purificação” e de “discípulos de Cristo”. Por outro lado, não nos esqueçamos de que também a teologia clássica falou das almas do purgatório como “Igreja padecente”. Tudo isso significa muito simplesmente que o purgatório é o lugar da salvação. Quem está no purgatório já está salvo. É errado imaginar o purgatório como sendo qualquer coisa entre o céu e o inferno, porque o inferno é o lugar da condenação eterna e de lá não há saída; mas no purgatório a alma, já salva, já imersa na misericórdia de Deus e em seu amor, se prepara para a visão de Deus.

Este é o primeiro conceito que devemos ter bem em mente. Portanto, é motivo de exultação se sabemos que uma alma está no purgatório, lugar de salvação: sabemos que, após este período de purificação, ela será um membro do Corpo de Cristo no céu.


Traduzido do italiano para o português, por Tania

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