quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O novo livro do Papa Bento XVI, “Luz do mundo”

O livro-entrevista "Luz do mundo", apresentado terça-feira, dia 23, no Vaticano, recolhe respostas francas de Bento XVI ao jornalista Peter Seewald sobre o Papa, a Igreja e os sinais dos tempos. Deixo-vos aqui algumas das frases mais destacadas do livro, por temas, para a vossa meditação:

Surpresa diante da sua eleição

"O fato de me ver de repente diante desta tarefa tão grande foi, como todos sabem, um choque para mim. A responsabilidade é realmente gigantesca."

Renúncia ao papado

"Se o papa chega a reconhecer com clareza que física, psíquica e mentalmente já não pode continuar o seu ofício, tem o direito e, em certas circunstâncias, também o dever de renunciar."

Um mendigo

Naquilo que diz respeito ao Papa, também ele é um pobre mendigo diante de Deus, ainda mais dos outros homens. Naturalmente rezo, antes de tudo, sempre ao Senhor, ao qual sou ligado, por assim dizer, por antiga amizade. Mas invoco também os santos. Sou muito amigo de Agostinho, de Boaventura e de Tomás de Aquino. A eles, portanto, digo: "Ajuda-me!". A Mãe de Deus, então, é sempre um grande ponto de referência. Nesse sentido, insiro-me na Comunhão dos Santos. Juntamente com eles, reforçado por eles, falo também com o Deus bom, sobretudo mendigando, mas também agradecendo; ou contente, simplesmente.

Crise dos abusos

"Tudo isto foi para nós um choque e eu continuo a comover-me hoje assim como ontem, até no mais profundo."

Soluções para os abusos

"O importante é, em primeiro lugar, cuidar das vítimas e fazer todo o possível para ajudá-las e para estar ao seu lado com a vontade de contribuir para a sua cura; em segundo lugar, evitar o máximo possível estes actos, por meio de uma selecção correcta dos candidatos ao sacerdócio; e, em terceiro lugar, que os autores dos actos sejam castigados e excluídos de toda a possibilidade de reincidir."

Enfrentar os abusos

"O que nunca deve acontecer é tentar escapar e pretender fingir não ter visto, deixando, assim, que os autores dos crimes continuem a cometer as suas acções. Portanto, é necessária a vigilância da Igreja, o castigo para quem faltou e sobretudo a exclusão de todo o acesso posterior às crianças."

O choque dos abusos

Os fatos não me causaram surpresa por completo. Na Congregação para a Doutrina da Fé, ocupei-me dos casos americanos; tinha visto também delinear-se a situação na Irlanda. Mas as dimensões, no entanto, foram um choque enorme. Desde a minha eleição à Sé de Pedro, havia repetidamente encontrado vítimas de abusos sexuais. Três anos e meio atrás, em outubro de 2006, em um discurso aos bispos irlandeses, havia pedido a eles "estabelecer a verdade acerca daquilo que havia acontecido no passado, tomar todos os atos necessários para que não se repetissem no futuro, assegurar que os princípios de justiça fossem plenamente respeitados e, sobretudo, curar as vítimas e todos aqueles que foram atingidos por esses crimes abomináveis".

Ver o sacerdócio, de repente, manchado dessa maneira e, com isso, a própria Igreja Católica, foi difícil de suportar. Naquele momento, era importante, no entanto, não desviar o olhar do fato de que, na Igreja, o bem existe, e não sobretudo essas coisas terríveis.


Os mídia e os abusos

Era evidente que a ação dos mídia não seria guiada somente pela pura busca da verdade, mas que fosse também um prazer colocar a Igreja na berlinda e, se possível, desacreditá-la. E, todavia, era necessário que isto ficasse claro: desde que se trate de trazer luzes à verdade, devemos ser gratos. A verdade, unida ao amor entendido corretamente, é o valor número um. E, então, os mídia não teriam podido oferecer aqueles relatório se na própria Igreja o mal não existisse. Somente porque o mal estava dentro da Igreja, os outros puderam voltá-lo contra ela.

Situação actual da Igreja

"A Igreja vive. Contemplada somente a partir da Europa, parece que se encontra em decadência. Mas esta é só uma parte do conjunto. Noutros continentes, ela cresce e vive, está repleta de dinamismo (...). Se a Igreja deixasse de estar presente, significaria um colapso de espaços vitais inteiros."

Relativismo

"Ninguém discutirá sobre o facto de que é preciso ser cuidadoso e cauteloso ao reivindicar a verdade. Mas descartá-la, sem mais nem menos, como inalcançável, exerce directamente uma acção destrutiva."

Ecumenismo

"O mundo precisa de um potencial de testemunho a favor do Deus uno que nos fala em Cristo."

Diálogo inter-religioso

"Temos uma mensagem ética que dá orientação aos homens. E transmitir esta mensagem juntos é de suma importância na crise dos povos."

Islã

"Eu reconheço-o como uma grande realidade religiosa com a qual devemos estar em diálogo."

Sexualidade

"O importante é que o homem é alma num corpo, que ele é ele mesmo enquanto corpo e que, por isso, é possível conceber o corpo de forma positiva e a sexualidade como um dom positivo. Através dela, o homem participa da condição criadora de Deus. Encontrar esta concepção positiva e cuidar deste tesouro que nos foi dado, é uma grande tarefa."

Concentrar-se somente no preservativo significa banalizar a sexualidade, e essa banalização é precisamente a perigosa razão pela qual tantas e tantas pessoas não veem na sexualidade mais a expressão do seu amor, mas apenas uma espécie de droga, que administram por si só. Por isso, também a luta contra a banalização da sexualidade é parte do grande esforço para que a sexualidade seja valorizada positivamente e possa exercer o seu efeito positivo sobre o ser humano em sua totalidade.

Pode haver casos individuais justificados, por exemplo, quando uma prostituta usa um preservativo, e esse pode ser o primeiro passo rumo a uma moralização, uma primeiro ato de responsabilidade para desenvolver de novo a consciência do fato de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. No entanto, essa não é a maneira verdadeira e adequada para vencer a infecção do HIV. É verdadeiramente necessária uma humanização da sexualidade.

A droga

Tantos bispos, sobretudo aqueles da América Latina, dizem que, lá onde passa a estrada do cultivo e do comércio da droga – e isso acontece em grande parte daqueles países –, é como se um animal monstruoso e cativo estendesse a sua mão sobre aquele país para arruinar as pessoas. Creio que esta serpente do comércio e do consumo de droga que envolve o mundo seja um poder sobre o qual nem sempre chegamos a fazer uma ideia adequada. Destrói os jovens, destrói as famílias, leva à violência e ameaça o futuro de nações inteiras.

Também essa é uma terrível responsabilidade do Ocidente: tem necessidade de drogas e, assim, cria países que lhe forneçam aquilo que, então, terminará por consumi-los e destruí-los. Surgiu uma fome de felicidade que não pode saciar-se com aquilo que possui; e que, então, refugia-se, por assim dizer, no paraíso do diabo e destrói completamente o homem.

Preservativos

"É óbvio que ela [a Igreja] não os vê como uma solução real e moral. Não obstante, num ou outro caso, podem ser, na intenção de reduzir o perigo de contágio, um primeiro passo no caminho rumo a uma sexualidade vivida de forma diferente, rumo a uma sexualidade mais humana."

Pio XII

"Foi um dos grandes justos, que salvou muitos judeus, a tantos como nenhum outro."

Indissolubilidade do matrimónio

"Nós não podemos manipular esta palavra. Devemos deixá-la assim, ainda quando contradiga as formas de vida hoje dominantes."

Eucaristia

"Se é verdade - como acreditamos - que na Eucaristia Cristo está realmente presente, este é o acontecimento central, nem mais nem menos."

Celibato

"É sempre, por assim dizer, um ataque ao que o homem pensa normalmente, algo que só é realizável e crível se Deus existe."

Homossexualidade

"Se alguém tem inclinações homossexuais profundamente arraigadas - não se sabe até agora se são realmente inatas ou se surgem na primeira infância - e, em qualquer caso, se elas têm poder nessa pessoa, tais inclinações são para ela uma grande provação."

As mulheres

A formulação de João Paulo II é muito importante: "A Igreja não tem, de nenhum modo, a faculdade de conferir às mulheres a ordenação sacerdotal". Não se trata de não desejar, mas de não poder. O Senhor deu uma forma à Igreja com os Doze e, então, com a sua sucessão, com os bispos e presbíteros (os sacerdotes). Não fomos nós que criamos esta forma da Igreja, mas é constitutiva a partir d'Ele. Segui-la é um ato de obediência, na situação atual talvez um dos atos de obediência mais pesados. Mas exatamente isso é importante, que a Igreja mostre não ser um regime arbitrário. Não podemos fazer aquilo que desejamos. Há, ao invés, uma vontade do Senhor para nós, à qual aderimos, também se isso é cansativo e difícil na cultura e na civilização de hoje.

Por outro lado, as funções confiadas às mulheres da Igreja são tão grandes e significativas que não se pode falar de discriminação. Seria assim se o sacerdócio fosse uma espécie de domínio, enquanto, ao contrário, deve ser completamente serviço. Se se dá uma olhada à história da Igreja, então se percebe que o significado das mulheres - de Maria a Mônica até Madre Teresa de Calcutá – é tão proeminente que, de muitas maneiras, as mulheres definem o rosto da Igreja mais do que os homens.

Ecologia

"Que o homem está ameaçado, que ameaça a si mesmo e ameaça o mundo, torna-se visível hoje por meio das provas científicas. Só poderá ser salvo se no seu coração crescerem as forças morais, forças que só podem vir do encontro com Deus."

Pe. Mateus Maria

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