domingo, 17 de outubro de 2010

Visita de um bispo belga no jubileu


Visita de um bispo belga por ocasião do jubileu (2000)

Meados de julho, o Monsenhor André-Mutien Leonard, bispo de Namur, passou três dias em Medjugorje. Naquela ocasião, o padre Slavko Barbarik entrevistou-o para a revista 'Glas Mira'. Segue aqui um trecho da entrevista:
GM: Quando o senhor conheceu Medjugorje?
AML: Eu conheci Medjugorje por meio dos meus seminaristas. Quando era reitor do seminário São Paulo em Louvain-la-Neuve, em 1982-1983, alguns de meus seminaristas tinham vindo à Medjugorje. Era verdadeiramente o começo de tudo. Eu jamais ouvira falar disso. Alguns seminaristas vieram me pedir permissão para irem, durante às férias, à Medjugorje. Eu não conhecia nada sobre isso, então, perguntei-lhes se havia alguma posição da Igreja a respeito de Medjugorje. Eles me disseram que não, que isso tinha começado a acontecer há alguns anos e que parecia que a Virgem Maria aparecia lá. Eles me deram um artigo para ler e eu lhes disse: 'Vão ver, vão ver!' Eles me falaram sobre isso várias vezes até que, em 1984, eu decidi ir pessoalmente ver. Fomos 4 padres do seminário, em junho daquele ano. Eu devo dizer que o que vi aqui, em Medjugorje, na paróquia, a piedade popular, a maneira de rezar o rosário, bem como de celebrar a Eucaristia, o breve contato que tive com os videntes, duas vezes, por ocasião da 'aparição' na sacristia, isso tudo me parecia muito positivo, sobretudo o modo como se orava aqui em Medjugorje.
GM – Quantas vezes o senhor já esteve aqui?
Agora é a segunda vez. Desde a primeira vez que estive aqui, em 1984, eu guardei uma impressão muito positiva de tudo o que eu havia vivenciado aqui. Logo em seguida, eu passei a me informar mais sobre o assunto. Eu li especialmente as obras do abade Laurentin, não todas, apenas algumas, e ainda alguns outros livros. Li também alguns artigos, passei a ficar interessado, sobretudo quando vi que dentre os meus alunos, enquanto professor em Louvain, havia alguns que já haviam visitado Medjugorje e que haviam descoberto a oração, a Eucaristia, a confissão e o jejum. Eu me lembro que eu comecei a jejuar às sextas-feiras seguindo o exemplo de alguns de meus seminaristas e de outros estudantes que conheci na universidade que passaram a viver o jejum após a peregrinação à Medjugorje. E depois, quando me tornei bispo, eu soube de outros diocesanos fiéis que viviam o jejum todas as sextas-feiras, que tinham 'redescoberto' os sacramentos após o contato com Medjugorje. Constatei também dentre os meus seminaristas os que experimentaram a conversão e descobriram a vocação a partir da experiência em Medjugorje. Atualmente tenho cerca de 30 seminaristas,sendo que alguns dentre eles fizeram aqui uma experiência espiritual que marcaram suas vocações. Quando os frutos aparecem, eu me interesso. Sei que na lógica, partindo de premissas equivocadas, podemos chegar a conclusões corretas. No entanto, o fato de existirem tantos acontecimentos positivos em Medjugorje é um argumento a favor de Medjugorje. Assim, eu continuei a me informar e disse a mim mesmo que um dia retornaria a Medjugorje. Na ocasião do ano 2000, eu achei que poderia aproveitar o jubileu para fazer uma breve peregrinação. O fato de haver na França e também na Bélgica um grupo que se opõe a Medjugorje, e de obras que a criticam, instigou-me a vir ver com meus próprios olhos. Eu não gosto muito de julgar as coisas, as situações, as pessoas, de longe, tão somente pelas leituras, eu prefiro verificá-las pessoalmente. Após ter me informado sobre este assunto com o bispo de Mostar, eu então vim aqui não só como peregrino para rezar, mas também para me dar conta de que eu devo dizer o que eu vi aqui no plano pastoral da igreja paroquial, o que me pareceu muito bom: a oração do Rosário, a Eucaristia, a Adoração e uma sólida, equilibrada e iluminada devoção. Com referência aos acontecimentos de Medjugorje, não cabe a mim dar uma opinião sobre este assunto, isso deve ser feito pelo bispo local, pelos bispos da Bósnia-Herzegóvina, os quais, por meio de um exame detalhado da situação, devem formular um juízo sobre a autenticidade das aparições (Isso não cabe a mim dizer. Em todo caso, aceitarei a decisão oficial da Igreja)
GM Por que há certa hesitação na Igreja quando há frutos bons...?
AML: A Igreja, em sua sabedoria, eu creio, neste gênero de fenômeno, quer, antes de estudar os frutos, estudar os fatos. Penso que é uma das regras que já tinham sido formuladas pelo cardeal Seper quando ele era ainda prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Primeiramente estudam-se os fatos, depois os frutos. O estudo dos frutos não é suficiente. É necessário também estudar os fatos, mas é verdade que a abundância dos frutos positivos é um argumento por si próprio favorável, ainda que possa haver frutos negativos, como ocorre em todas as coisas humanas. Onde há seres humanos, há coisas humanas. Como os doze apóstolos...
GM: A oposição, de onde vem ela?
Eu entendo que se façam perguntas sobre os fenômenos de Medjugorje e que haja objeções contra as aparições de Medjugorje. Eu acredito que se pergunte, por exemplo, sobre a multiplicidade das aparições, o fato que elas sejam de alguma sorte previsíveis, sabe-se com antecedência que será tal dia. Eu entendo que a gente seja reticente. Pessoalmente, eu não tenho muitas ideias 'a priori' sobre o que convém ou o que não convém à Virgem Maria fazer. Eu estou muito mais disposto a acolher as coisas, mesmo que elas confundam um pouco as minhas ideias, mas eu entendo que se façam perguntas, e eu entendo que, a partir do que eu pude ver, neste fenômeno de Medjugorje, houve o essencial e houve também uns 'parasitas'. Eu creio que existe a substância e que existem também acidentes, uns positivos e outros negativos. Enquanto que em Lourdes eu fiquei impressionado pelo testemunho, eu diria com 100% de transparência, da Bernadette Soubirous. Parece-me que aqui houve parasitas em torno do evento central. Eu compreendo que se façam perguntas. Eu me mantenho informado, igualmente, das questões que são feitas pelos adversários de Medjugorje. É necessário ouvi-los e eu li um livro como aquele de Joachim Boufflet, o qual li todo. Há um tom polêmico, que me parece deslocado, inoportuno, mas há verdadeiras questões que são colocadas e que um dia deverão receber uma resposta clara, historicamente fundada. Eu acolho estas questões, mas desejo estar aberto ao acontecimento. Eu conheço alguns bispos amigos que têm como regra de conduta dizer: “atenção, se nós estamos abertos ao acontecimento de Medjugorje, nós arriscamos talvez encorajar algo que não seja autêntico”. É um risco. Quanto a mim, eu estou mais sensível ao risco inverso; digo a mim mesmo: É possível igualmente, aliás, é provável que o Céu tenha falado aos homens neste lugar e eu não desejo correr o risco de me fechar antecipadamente a essa graça.
GM: Um dom do céu?
AML: Eu desejo que estes que têm essa graça, a competência, o bispo do lugar, a conferência episcopal da Bósnia-Herzegóvina, uma comissão de teólogos e de sábios continuem a estudar este fenômeno para um dia formular um julgamento da Igreja sobre o que se passa aqui. Enquanto espero, entre dois riscos, prefiro correr o risco de ter sido muito mais aberto do que fechado diante da graça do Senhor que pode estar agindo neste lugar, então, eu prefiro adotar uma atitude de abertura prudente.
GM: Nós, franciscanos, enquanto aguardamos o julgamento da Igreja sobre as aparições, oferecemos nosso ministério às pessoas que vêm aqui. O bispo nos diz “desobediência” por causa das “aparições”. Mas nós não temos grande escolha, se as pessoas vêm aqui, devemos servir...
AML: Mas, pelo tanto que pude ver, vossas pastorais na igreja paroquial não repousam sobre as aparições como tais. Parece-me que não se faz tanta referência a elas quando se celebra a Eucaristia e os demais sacramentos. Eu já ouvi dizer: “todos os frutos de Medjugorje vêm simplesmente do fato de que celebramos a Eucaristia, adoramos a Eucaristia, confessamos, rezamos. Então os frutos não provêm das ditas aparições, mas da celebração dos sacramentos da Igreja”. É, já ouvi quem dissesse isso.
GM: Há quem diga: ' Onde há oração, há graças e milagres '
AML: Eu acho isso razoável, mas não necessariamente exato. É verdade que aqui nós temos a oração, a Eucaristia, a confissão e há frutos que são produzidos. Mas há muitos outros lugares no mundo onde podemos rezar, confessar-se e celebrar a Eucaristia e onde não há os mesmos tipos de frutos tão reparáveis!
GM: Então o senhor pensa que essa dimensão é atribuível a aparição?
AML: Eu creio que é um indício que precisa ser estudado, um indício que nos leva a refletir. Conheci regularmente jovens que pensam no sacerdócio, ou mesmo que viveram uma experiência profunda de conversão após virem aqui, muito mais do que em relação a outros lugares e isso me leva a algumas perguntas. Não posso aceitar sem reservas que os frutos de Medjugorje estão somente vinculados à prática dos Sacramentos, os quais se vivem também em outros lugares. Aqui existe algo que nos leva a indagar uma pergunta especial. Não cabe a mim pronunciar sobre a realidade desses fundamentos, mas existe uma pergunta que não se pode evitar.
GM: Ao final, o senhor gostaria de deixar uma mensagem aqui ao mundo?
AML Eu penso que vivemos um tempo de grande urgência no plano espiritual. Estou convencido, como o Papa João Paulo II, que o tempo do jubileu é um tempo de graça excepcional e que prepara, como deixou entender muitas vezes João Paulo II, um novo Pentecostes para a Igreja. Então, é isso que eu espero de Medjugorje, isto é, contribuir para essa nova efusão do Espírito Santo da qual a Igreja e o mundo inteiro têm necessidade. E por isso eu acredito que o mais urgente é se concentrar sobre o essencial, como vós já o fazeis nesta paróquia, isto é, concentrar-se sobre a Eucaristia, que é a fonte de toda a vida cristã, e com relação às outras coisas eu creio que é necessário cultivar a graça da paz e buscar que o discernimento sobre os fatos de Medjugorje possa ser feito no melhor clima de paz possível, para o bem da Igreja.
GM: Nós oraremos por vós e abençoai-nos todos! Obrigado!

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