domingo, 26 de setembro de 2010

O que é o Deserto





Ao falar das Madres do deserto vejo necessário escrever um simples conceito de deserto, pois temos uma visão muito limitada sobre isso. Então, hoje darei uma pequena explicação do que é o deserto.
O deserto é categoria bíblica e, desde que o desígnio de Deus quis que o povo hebreu passasse pelo deserto para chegar a ser seu povo, o caminho que conduz a Deus passa por este espaço geográfico ou místico. De ora em diante, o deserto estará sempre presente, seja como lugar de prova, seja como lugar de esponsais. É condição para que alguém lhe pertença. Do século IV em diante, homens e mulheres seguiram o movimento do Êxodo do Povo de Deus, atraídos pela experiência contada e recontada pela Escritura.
Uma leitura posterior percebe duas teologias que se cruzam. A primeira considera o deserto sob o signo da maldição, diante as obra criadora e fecunda de Deus. Se o dom de Deus é vida para uma terra antes informe e vazia, o deserto é uma terra que Deus não abençoou. Tornar deserta uma região equivale a fazê-la retornar ao caos, reduzi-la a habitação de demônios. É assim que o vemos nos Evangelhos, como lugar para onde Jesus se encaminha para enfrentar o demônio em seu terreno. No seguimento de Jesus, homens e mulheres de Deus entram pelo deserto para transformar a terra da maldição em lugar de bênção. Entram não sem medo dos perigos concretos. A fé era sua grande ajuda.
A segunda leitura, que prevalece, é mística, idealista. Agar encontra no deserto refúgio e proteção. A permanência do povo no deserto será lembrada como o tempo das maravilhas de Deus – maná, água, luz... – acentuando sua presença junto ao povo. A experiência do Sinai constitui o povo de Israel. Elias, Eliseu, os filhos dos profetas, os monges de Qumran, tentarão sem cessar recuperar o sopro primitivo do deserto e do Sinai, como locais da regeneração, do encontro amoroso com Deus, do diálogo contemplativo.
Duas teologias, duas tendências, duas realidades do deserto, a saber, o combate e a mística, cujo fruto é a “Hesychia”, pois o deserto cria as condições favoráveis para encontrar a paz e nela permanecer.
O deserto é a experiência dos limites humanos, assim, experiência de pobreza verdadeira porque tudo se espera de Deus.
Deserto é o não procurar uma posição segura e estável; é provisoriedade na certeza do melhor ao qual precisa voltar-se.
Deserto é viver sobre uma tenda móvel e precária porque a meta é sempre mais longe, sempre a alcançar.
Deserto é caminhar para a casa nupcial e no mesmo tempo é já experiência de amor; experiência de um amor constante, fiel, do qual tudo depende e nada faz faltar.
Deserto é a fuga da escravidão e no mesmo tempo e luta sofrimento.
O deserto é a terra do exílio e da espera; o tempo e o lugar da fé e da esperança. Naturalmente também da caridade, a qual, porém haverá a sua perfeição na eternidade.
Deserto é ausência de tudo que não é Deus para ser totalmente a Ele disponível.
Se quisermos aplicar o conceito a nós, devemos dizer que o deserto recorda sim a incompletude da nossa perfeição e daquela da Igreja. Não basta ter sido libertado da escravidão do Egito (mundo), ter prodigiosamente atravessado o Mar Vermelho (tentações), ter recebido a Lei de Deus sobre o Monte Sinai (Regra de Vida) e ter sido saciado com comidas e bebidas milagrosas. (Eucaristia); a salvação não é ainda estável e completamente realizada.
“É este o tempo e o lugar no qual devemos aplicar-nos – com temor e tremor – a nossa saúde espiritual. È o lugar e o tempo da paciência dos santos. Ou, se quer da santa insatisfação do cristão, que está com um pé neste século e com o outro naquele futuro.
Vemos então, que para viver o deserto não é necessário sermos monges, podemos viver o deserto como cristãos, batizados. Porém essa necessidade cresce na sociedade em que vivemos, onde o barulho é crescente e as pessoas se esquecem de sua alma, da vida espiritual.

Madre Rosa Maria de Lima, F.M.D.J

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